domingo, 2 de junho de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos avulsos ( Lily Alcalay) - Capítulo 41 - Por Luiz Domingues


Mais ou menos em março de 1982, paralelo ao final decadente do Terra no Asfalto, o meu amigo Cido Trindade convidou-me para mais um trabalho. Ele conheceu uma compositora chamada, Lily Alcalay, que tinha um repertório próprio, com composições sob forte acento na MPB, mas com bastante sofisticação jazzística.
Ela tocava bem violão, e tinha uma boa voz, o suficiente para conduzir o trabalho com bastante desenvoltura, sem que isso significasse algum malabarismo vocal extra. Era comedida, mas tinha potência suficiente para a sua proposta artística. Começamos a ensaiar na residência do Cido Trindade, meu vizinho de bairro à época, no Tatuapé, zona leste de São Paulo.
A Lily era uma pessoa centrada, com uma boa visão do que desejava na vida, visão realista do meio artístico. Tinha o sonho de em possuir um suporte de gravadora e empresário, claro, mas sabia que precisava galgar muitos degraus para chegar nessa situação, sem ilusões.
Então, começamos a ensaiar, focados nas oportunidades que ela encontraria para sua carreira, e sabíamos que não seriam nada glamourosas. Talvez apresentações intimistas em casas noturnas de pequeno porte, e festivais de MPB, sob um primeiro instante. 

Fizemos um primeiro show em um auditório bom, a superar as expectativas iniciais, contudo. Aconteceu no auditório da Faculdade Fiam, no campus do Morumbi, zona sul de São Paulo, em 1° de setembro de 1982. Eu já estava envolvido com "A Chave do Sol" em seus momentos iniciais de trabalho, e às vésperas da estreia oficial dessa banda, em 25 de setembro de 1982.
O show foi bom, correto e simples na sua proposta intimista. Eu e Cido bem comedidos, e a estabelecermos dinâmicas bem acentuadas para não atrapalhar a delicadeza harmônica do violão e voz, dela. Infelizmente, foram poucas pessoas para assistir-nos. Em um Teatro com cerca de trezentos lugares, apenas vinte e cinco pessoas ocuparam poltronas. Parentes e amigos da Lily, basicamente, como seria a esperar-se para uma artista iniciante. 

Mas existiu um componente exótico nessa história minha com a Lily Alcalay. Na verdade, havia um terceiro músico envolvido nessa banda de apoio. Ele estava a ensaiar conosco desde abril de 1982, mais ou menos, mas não participou do show, por um motivo triste, que acomete muitos músicos, e sobre o qual, revelarei logo mais.
Continua...

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