quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 79 - Por Luiz Domingues


Claro que quando contei sobre essa proposta, ao Rubens e ao Zé Luiz, os colegas ficaram chocados, e bem chateados. Seria óbvio que a nossa rotina de ensaios e a agenda, seria prejudicada, pois o Língua de Trapo vivia uma situação profissional muito melhor do que a nossa. E naquele choque inicial, ninguém poderia apostar que eu não fosse seduzido por essa situação, e A Chave do Sol, seria prejudicada, pura e simplesmente. Não que eu fosse insubstituível, longe disso, mas uma eventual saída minha, provocaria um atraso aos planos da banda, que vivia tempo sob expansão franca, após a primeira exibição na TV.

Mas enquanto eu apenas começava a ensaiar com o Língua de Trapo, ainda esforcei-me ao máximo para não prejudicar, A Chave do Sol. Foi uma fase cansativa demais, pois eu saía do ensaio do Língua de Trapo, por volta das 18:00 hs, e dirigia-me ao ensaio d'A Chave do Sol, a começar às 19:00 hs. e assim prolongar-me até às 22:00 hs., todos os dias. Claro, contava com o apoio do Zé Luiz, que cedia-me carona, visto que ele morava em Pinheiros, e por ter sido assim, foi no mesmo bairro onde o Língua de Trapo ensaiava. E além do mais, eu tinha vinte e três anos de idade, e com essa idade, nenhum desconforto derruba um homem jovem, com vontade de trabalhar. Alguns dias depois de fazermos esse show no bar "Espaço Aberto", recebemos um telefonema da direção do programa, "A Fábrica do Som" : seus produtores queriam que voltássemos ao programa para mais uma apresentação, a ser gravada ao final de setembro.

Seria um programa especial, para homenagear o saudoso, Jimi Hendrix, por ocasião de seu aniversário. Ficamos eufóricos e claro que aceitamos o convite imediatamente. Foi uma prova cabal de que estávamos a galgar degraus muito rapidamente, e que não podíamos desperdiçar mais uma chance de divulgação maciça como a TV.  proporcionava. Nessa mesma época, saiu uma reportagem enorme na extinta revista, "Manchete", a repercutir sobre o "Boom" do BR-Rock 80's, em 1983. Várias bandas foram fotografadas juntas, a posar em frente ao Monumento das Bandeiras, próximo ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Lembro-me bem da presença dos Paralamas do Sucesso; Kid Abelha & As Abóboras Selvagens; Barão Vermelho, e Lobão & Os Ronaldos, nessa foto. Havia outros, mas lembro-me melhor desses.

Com essa revista em mãos, recordo-me bem que disse aos colegas, Rubens e Zé Luiz, que precisávamos recuperar o tempo perdido e não deixar essa turma distanciar-se de nós. Ao ensaiarmos o melhor que podíamos, devido ao fato de eu ficar dividido com o Língua de Trapo a comprometer o meu tempo e dedicação, preparamo-nos bem, antes as adversidades citadas. E assim, no dia 27 de setembro de 1983, subimos mais uma vez ao palco do teatro do Sesc Pompeia, para atuar em mais uma gravação do programa : "A Fábrica do Som".

O teatro estava absurdamente cheio, e houve tumulto na porta, com mais pessoas a querer entrar. Foi uma adrenalina absurda, mas desta vez estávamos ainda mais confiantes. A experiência adquirida na primeira exibição, deixou-nos muito mais seguros, principalmente pela reação esfuziante dessa ocasião, mas também pelo fato da cúpula do programa ter afeiçoado-se à nossa banda. A primeira música que tocamos foi "Átila". 



Eis abaixo, o Link para assistir no You Tube :
 
http://www.youtube.com/watch?v=mXUqywOna-U

Tratou-se de um tema instrumental e pesado, quase um Hard-Rock, mas com diversas convenções de baixo e bateria, bastante ousadas, no estilo do Jazz-Rock setentista. Tocamos com muita garra, o som e enquanto eu tocava e esforçava-me para ter uma mise-en-scenè a mais frenética que podia, olhei fixamente para toda a plateia, e sob um dado momento de minha panorâmica, encontrei o rosto de uma pessoa amiga, o João Dinola, irmão do Zé Luiz.

Eu conhecia o João muito bem, e sabia que ele era um rapaz tranquilo, mas quando o vi, estava com uma expressão facial a denotar espanto, que muito impressionou-me. Isso porque eu sabia que o João já tinha assistido-nos a tocar várias vezes, e que ele tinha plena consciência do nosso potencial, mas dessa vez, ele surpreendeu-se com a nossa performance, por notar-nos a tocar com a pressão de um P.A. com grande porte; além do teatro estar com lotação abarrotada; equipe de TV a filmar, e uma adrenalina absurda no ar. Horas depois, ele mesmo disse-me que estava boquiaberto com a nossa performance e que teve a impressão que nós iríamos explodir em grande escala, dali em diante. Daqui há pouco, prossigo nesse relato da segunda aparição na Fábrica do Som, que fizemos.

Continua...  
 

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