Levo tanta bronca por ter mania de amar ... mas nem ligo.
Me perco e bebo o céu, que nem uma boba...
Então eu estava perto da piscina mas não bebia o céu, não nesse dia.
Estava ocupada demais em tomar conta dos bichinhos que às vezes caíam naquela água azul e cheinha de raios de sol.
Acho
que eles queriam mesmo era entrar dentro do sol refletido na água mas,
tadinhos, quando percebiam que era só reflexo, se debatiam e eu era
então a maior e mais importante Salva-Vidas do mundo.
Quando minha mão não alcançava, eu pegava aquela rede de cabo comprido.
Eles
então se secavam, passavam as patinhas pelas antenas (quando tinham);
sim, porque nem todo bicho tem antena: coisas do Arquiteto, vai saber...
Eu
queria ter antena, mas não tenho não. Se eu tivesse, ia querer ter asas
também e aí todo mundo ia ficar assustado me vendo varar nuvens, beber
água direto delas e dançar sem peso, no ar.
E mais um caiu na água. Corri, me ajoelhei e o peguei ternamente.
Quando
ia colocar o bichinho no chão como fiz com os outros, senti uma dor
dilacerante no dedo, sacudi a mão e ele caiu dentro da água outra vez.
Eita dorzinha danada, que mais parecia um ferro em brasa.
Era um marimbondo; um marimbondo de algum clã de marimbondos que eu não conhecia.
Corri pra segunda tentativa, dessa vez com a rede. Nem liguei pra minha dor, em primeiro lugar eu tinha que salvar aquela vidinha.
Enquanto
ele secava as antenas (eu queria ter antena, mas depois ia querer ter
asa), fiquei olhando cuidadosamente o seu ritual pra ficar seco e
conversei um bocado com ele.
Meu dedo inchando e ele ali, todo lindo se secando, aquela centelha de Vida.
Terminado o trabalho, levantou asas (eu queria... pois é) e foi embora.
E
então eu descobri que o bichinho fez o que sabe fazer pra se defender e
mesmo recebendo carinho e cuidados, me machucou e depois foi embora sem
ao menos um "obrigado."
Não sei o que ele pensou, só sei que não agradeceu.
Acho que aquele ritual era uma espécie de agradecimento, eu é que sou obtusa demais pra entender marimbondês.
Tem
gente que age como marimbondo e eu penso que cada um dá o que tem pra
dar e por isso, são generosos no seu dar (acho que é por pensar assim
que levo as tais broncas).
Que seja.
As lindas palavras "Dar a outra face", cabem nessa historinha: mesmo machucada, salvei o bichinho pela segunda vez.
Dar
a outra face é ficar feliz com a generosidade dos que nos machucam por
só terem machucados pra dar e que, ao voltarem, encontram nossos braços
quentes, nossos colos serenos e nossos abraços enormes (maiores do que o
céu que eu bem ia voar se tivesse antena e asa).
Compreender
e aceitar os outros como são, perceber que todos fazemos parte da mesma
raça, a raça humana, é amor genuíno e incondicional e esse amor deve
abranger a tudo o que nos cerca e, por mais que as situações, pessoas e
coisas nos desagradem e machuquem, devemos pensar sempre que cada um tem
as suas dores, suas devastações, seu choro oculto pela noite, assim
como nós mesmos os temos.
Que não tenhamos pudor ou medo de dar a outra face.
Que o façamos desavergonhadamente, despedaçando rancores, rasgando orgulhos rasteiros, destruindo mágoas mofadas e que ao nosso toque tudo se converta em Luz, em Compreensão, em Perdão e Amor!
Prefiro mil marimbondos, a viver na superfície da vida !
Tereza Abranches é colunista fixa do Blog Luiz Domingues 2. Artesã, poetisa e escritora, realiza também estudos no campo da literatura e espiritualidade.
Nesta crônica, nos mostrou metaforicamente como não é importante que as pessoas reconheçam que lhes ajudemos, diante da grandeza do gesto, que fala por si só.
"Fora da caridade não há salvação."
ResponderExcluirFato!
ExcluirE que a nossa caridade se estenda a toda a criação, sem exceção alguma!
Toda vez que eu olho a marquinha deixada pelo bichinho no meu dedo, lembro disso!
Grande beijo, querido!!
Muito boa a sua participação, Gabriel.
ExcluirMuito grato por ler e comentar !
Como sempre, emocionante. <3
ResponderExcluirE que a emoção possa se estender a tudo e a todos!
ExcluirChegou a hora de mudarmos nossos valores e praticarmos, mas praticarmos de verdade,o Amor!
Beijo!!
O Blog se alegra em constatar que sua colunista Tereza Abranches esteja provocando emoção e reflexão.
ExcluirGrato por participar, Taís !
Terno demais ! chorei ! A mais pura forma de cristalizar o Amor Maior! Tão doce quanto um gigante sorridente voando como uma borboletinha ! Só me resta agradecer por poder compartilhar de um momento tão único. Beijo Tereza, do tamanho de tudo o que eu posso te oferecer ! _/<3\_
ResponderExcluirFico muito, mas muito feliz mesmo por ter tocado seu coração, querida!
ExcluirAinda estou com a marquinha no dedo que o bichinho deixou e sempre que olho pra essa marquinha, sorrio feliz da vida por saber que uma vidinha, um sopro do Altíssimo voa por aí, feliz e lindo!!
Obrigada por tudo o que você me ofereceu, pode ter certeza de que foi recebido com muito Amor e Paz!
Grande beijo!
Seu comentário reflete para mim o quanto o texto calou fundo no coração dos leitores. Estou muito feliz com esse êxito de minha colunista, abrilhantando o Blog !
ExcluirObrigado por nos comunicar tamanha emoção, Mariana !
Um relato delicado, a princípio docemente infantil, mas com um desenrolar inspirador que nos toca incrivelmente o coração. Obrigado, querida!
ResponderExcluirEssa é a minha intenção, querido. Tocar corações, almas, sentimentos...
ExcluirObrigada pelas palavras ternas.
Beijo!
Exatamente !!
ExcluirA abordagem de um tema pesado que envolva a questão da ingratidão / perdão e resignação com uma abordagem doce, quase de teor infantil, foi uma aposta ousada da colunista, mas em meu conceito e está claro que nos seu também, está aprovado !
Grato por ler, comentar e elogiar !
ótima leitura, gostei muito, parabéns! :^)
ResponderExcluirObrigada Kim, fico feliz que tenha gostado!
ExcluirGrande abraço!
Grande Kim Lima !
ExcluirMuito legal que tenha gostado da abordagem delicada da colunista Tereza Abranches. Também estou curtindo muito tê-la no meu time de articulistas.
Abração, amigo !
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTereza, você consegue descrever com tanta profundidade e emoção o amor, sem esperar retribuição, somente por amor mesmo. Lindo demais!!! Parabéns!!!
ResponderExcluirA chave é essa mesma, Monica. Doar-se, sem esperar nada em troca...
ExcluirGrato por ler, comentar, elogiar, mas sobretudo, emocionar-se !
Amar, amar e amar sempre a tudo e a todos, incondicionalmente.
ResponderExcluirEsse é o grande segredo da Paz e da Serenidade.
Obrigada pelas palavras de carinho, Monica!
Beijo grande!