quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 69 - Por Luiz Domingues


No camarim do Sesc Pompeia, fomos bem tratados pela produção do programa. Tais produtores eram pessoas sem nenhum comprometimento escuso com esquemas da indústria fonográfica, ou jornalistas vendidos que "hypam" amiguinhos, e detonam adversários de seus amigos, ou que simplesmente detonam artistas não coadunados com os seus propósitos, por ter feito o famigerado voto de obediência à Malcolm McLaren, fator muito comum desde o final dos anos 1970, e hoje em dia (2012), objeto de acaloradas discussões em sites de jornalismo, como o Scream & Yell, por exemplo. E por ser pessoas simples e honestas, deram chance para inúmeros artistas desconhecidos, sem parentes importantes e dinheiro no bolso, como dizia o Belchior, aliás, nosso caso.

Lembro-me mais detalhadamente de três pessoas : Pedrão, Cristiane Macedo e Marina. Futuramente, tivemos envolvimento profissional com uma dessas moças, mas relatarei tal ocorrência na cronologia correta. Do camarim, ouvíamos o murmurinho das pessoas agitadas na fila  de entrada do teatro Sesc Pompeia. Naquela época, o programa, "A Fábrica do Som" já havia tornado-se uma febre na TV, e atraía um enorme público às dependências do Sesc.
O fato é que havia um acordo entre a TV Cultura e o Sesc, para não cobrar ingressos, e com o volume do público a revelar-se crescente, eis que foram obrigados a mudar a política, pois de um patamar em torno de cerca de oitocentas pessoas que eram permitidas para adentrar ao teatro, começaram a "empilhar" mil e quinhentas, com no mínimo mais quinhentas na rua, a tentar entrar a força, e invariavelmente o Sesc era obrigado a chamar a Polícia Militar para coibir tumultos. Eram diversos artistas e aspirantes a, dentro do enorme camarim, além do entra-e-sai de técnicos da TV, funcionários do Sesc, e do equipamento de P.A. locado para o evento. Das atrações arroladas para o nosso dia, só conhecíamos o pessoal do "Tonelada e seus Kilinhos", cujo vocalista era conhecido de adolescência do Rubens. Seu som era calcado no modismo do Rock satírico, a tentar achar uma brecha no mercado, via Leo Jayme; João Penca e seus Miquinhos Amestrados, e até Eduardo Dusek, artistas esses que surfavam nas ondas do BR-Rock oitentista, mas a usar tal recurso de linguagem. O Ultraje a Rigor atropelaria a seguir com tal proposta em termos de deboche explícito, mas nesse momento, ainda não haviam estourado para valer, contudo, estavam na iminência para tal, via "Inútil".

                                O espetacular, Duofel

Das outras atrações escaladas, conhecíamos o trabalho do Duofel, que era uma dupla de violonistas sensacionais, a empreender um trabalho instrumental sobe alto nível, ao mesclar Jazz; erudito e música de raiz brasileira, e a Tetê Spíndola, que era egressa do movimento : "Vanguarda Paulista". Fato engraçado é que uma famosa atriz que fazia um programa infantil da TV Cultura nessa época, perambulava pelo camarim e teve que usar o banheiro do camarim. Deve ter sido constrangedor para ela, pois eram aqueles reservados semi-vazados, onde vê-se os pés e um pedaço do tornozelo das pessoas. Ela percebeu-nos a olhar para ela, e chegou a demonstrar no semblante que queria desistir, mas acredito que o problema fisiológico que precisava resolver fora muito maior, e dessa forma. Mas o Zé Luiz não resistiu e quando ela saiu, soltou uma piada indireta. Acho que ela não ouviu, pois minutos depois, por ironia do destino, ela mesmo entrevistou-o, por elegê-lo como porta voz da banda, por sua inteira e precipitada conta.


Continua... 

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