No camarim do Sesc Pompeia, fomos bem tratados pela produção do programa. Tais produtores eram pessoas sem nenhum comprometimento escuso com esquemas da indústria fonográfica, ou jornalistas vendidos que "hypam" amiguinhos, e detonam adversários de seus amigos, ou que simplesmente detonam artistas não coadunados com os seus propósitos, por ter feito o famigerado voto de obediência à Malcolm McLaren, fator muito comum desde o final dos anos 1970, e hoje em dia (2012), objeto de acaloradas discussões em sites de jornalismo, como o Scream & Yell, por exemplo. E por ser pessoas simples e honestas, deram chance para inúmeros artistas desconhecidos, sem parentes importantes e dinheiro no bolso, como dizia o Belchior, aliás, nosso caso.
Lembro-me mais detalhadamente de três pessoas : Pedrão, Cristiane Macedo e Marina. Futuramente, tivemos envolvimento profissional com uma dessas moças, mas relatarei tal ocorrência na cronologia correta. Do camarim, ouvíamos o murmurinho das pessoas agitadas na fila de entrada do teatro Sesc Pompeia. Naquela época, o programa, "A Fábrica do Som" já havia tornado-se uma febre na TV, e atraía um enorme público às dependências do Sesc.
O fato é que havia um acordo entre a TV Cultura e o Sesc, para não cobrar ingressos, e com o volume do público a revelar-se crescente, eis que foram obrigados a mudar a política, pois de um patamar em torno de cerca de oitocentas pessoas que eram permitidas para adentrar ao teatro, começaram a "empilhar" mil e quinhentas, com no mínimo mais quinhentas na rua, a tentar entrar a força, e invariavelmente o Sesc era obrigado a chamar a Polícia Militar para coibir tumultos. Eram diversos artistas e aspirantes a, dentro do enorme camarim, além do entra-e-sai de técnicos da TV, funcionários do Sesc, e do equipamento de P.A. locado para o evento. Das atrações arroladas para o nosso dia, só conhecíamos o pessoal do "Tonelada e seus Kilinhos", cujo vocalista era conhecido de adolescência do Rubens. Seu som era calcado no modismo do Rock satírico, a tentar achar uma brecha no mercado, via Leo Jayme; João Penca e seus Miquinhos Amestrados, e até Eduardo Dusek, artistas esses que surfavam nas ondas do BR-Rock oitentista, mas a usar tal recurso de linguagem. O Ultraje a Rigor atropelaria a seguir com tal proposta em termos de deboche explícito, mas nesse momento, ainda não haviam estourado para valer, contudo, estavam na iminência para tal, via "Inútil".
O espetacular, Duofel
Das outras atrações escaladas, conhecíamos o trabalho do Duofel, que era uma dupla de violonistas sensacionais, a empreender um trabalho instrumental sobe alto nível, ao mesclar Jazz; erudito e música de raiz brasileira, e a Tetê Spíndola, que era egressa do movimento : "Vanguarda Paulista". Fato engraçado é que uma famosa atriz que fazia um programa infantil da TV Cultura nessa época, perambulava pelo camarim e teve que usar o banheiro do camarim. Deve ter sido constrangedor para ela, pois eram aqueles reservados semi-vazados, onde vê-se os pés e um pedaço do tornozelo das pessoas. Ela percebeu-nos a olhar para ela, e chegou a demonstrar no semblante que queria desistir, mas acredito que o problema fisiológico que precisava resolver fora muito maior, e dessa forma. Mas o Zé Luiz não resistiu e quando ela saiu, soltou uma piada indireta. Acho que ela não ouviu, pois minutos depois, por ironia do destino, ela mesmo entrevistou-o, por elegê-lo como porta voz da banda, por sua inteira e precipitada conta.
Continua...
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