sábado, 20 de fevereiro de 2016

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 38 - Por Luiz Domingues

 
A casa noturna onde o evento transcorreria, chamava-se: "Delirium Café". Bem montado e bem localizado, parecia atender a um tipo de público classe média alta em essência, pela ambientação, mas sobretudo por ser uma casa especializada em bebidas alcoólicas estrangeiras e caras oferecidas em sua carta habitual.
O palco era de um porte até razoável ao se considerar que a casa não tinha o costume de promover shows musicais regularmente, mas apenas de forma sazonal. Porém, havia um problema grande ali: não havia equipamento de PA, iluminação e a estrutura de suporte para a prover a energia era pífia, portanto foi muito preocupante para nós.

Bem, sobrou para o Kim que teve mais uma vez que pensar em levar seu PA particular, o que lhe dava uma tremenda dor de cabeça extra.

De minha parte, como eu já estava a tocar com Os Kurandeiros e a Magnólia Blues Band regularmente, estava ainda em uma fase de convalescença a incomodar os amigos em ter que carregar o meu backline, portanto, mais uma vez eu tive que contar com a boa vontade deles.  

Cheguei ao estabelecimento antes de todos. Fui bem recebido pela hostess da casa, mas notei o despreparo da moça em questão, para lidar com espetáculos musicais, assim que eu cheguei ao palco, pois haviam sofás colocados ali e a moça mostrou-se surpresa quando eu lhe pedi que eles fossem retirados, pois ficara óbvio que não caberia o nosso equipamento e nem nós mesmos ali, com tais móveis ali alojados.  

Os companheiros chegaram e com os sofás já retirados a desobstruir o palco, montamos tudo e fizemos o chamado: "autosoundcheck", para comprovar que conseguimos imprimir uma qualidade sonora mínima, e assim ficamos mais seguros de que o show teria um áudio de razoável qualidade. 

A casa se pôs a foi receber o seu público, e muita gente interessada no show ou no livro do Ciro, também aproximou-se, paulatinamente.

Em um dado instante, o Ciro foi para a mesa de autógrafos e foi bastante procurado por seus fãs, que compraram o seu livro e aproveitaram o ensejo para garantirem os seus autógrafos.  

                    Ciro e a sua bela assistente, Antonia Pessoa

Vi ali no ambiente, muitos jornalistas presentes e Claudio Willer esteve presente, sim, a se revelar uma grande honra para todos nós.  
Encontro de poetas surrealistas: Ciro Pessoa e Claudio Willer

O lado mau disso tudo, foi que a casa aspirava que o show começasse bem tarde, o que tornou a espera cansativa, e na ausência de um camarim que nos garantisse o sossego, ficar ali na multidão com o som mecânico relativamente alto, gerou um certo cansaço mental para todos.
Dois psicodélicos inveterados: Ciro Pessoa & Luiz Domingues

Eu particularmente, detesto ambientes barulhentos, por natureza. Sei que as pessoas acham isso engraçado e de certa forma paradoxal por eu ser Rocker, e estar acostumado a fazer shows de Rock. No entanto, eu na verdade detesto barulho e jamais frequento casas noturnas por esse motivo, e também por ser abstêmio, portanto, tendo a cansar rapidamente em permanecer por alguns minutos em lugares assim. Mas enfim chegou a hora e lá fomos nós...
A sonoridade e a energia do show foram muitos boas, embora tenhamos todos cometidos erros tolos, cada um individualmente, mas que foram facilmente contornáveis.

O fato de que eu, Luiz, Kim e Carlinhos tocávamos em outras duas bandas que mantinham o Blues e o Rock como pilares, e o improviso total como modus operandi, fez com que nosso entrosamento natural ficasse a favor dos Nudes, também.
Muitos fãs dos trabalhos do Ciro com Os Titãs e o Cabine C, e também de seus discos solo, estiveram ali presentes, mas haviam também fãs que admiravam-nos por nossos trabalhos em outras bandas. Um rapaz em específico, chamado: Raphael Rodrigues, que costumava aparecer em shows d'Os Kurandeiros e eu já o havia visto em shows do Pedra, esteve ali bem na primeira mesa. Nesse dia, ele levou consigo muitos discos para eu autografar de trabalhos que eu fizera com outras bandas. Havia na mesa em que ele sentou-se, discos da Patrulha do Espaço, A Chave do Sol, Pedra, Kim Kehl & Os Kurandeiros, e até do Pitbulls on Crack...

Mais que isso, esse rapaz mostrava-se fã dos trabalhos do Ciro também, e pediu várias músicas para tocarmos de seus discos solo, além dos trabalhos dele com Os Titãs e o Cabine C.
A lembrar a foto da contracapa do LP do Festival de Woodstock, a pequena, Antonia Pessoa passeia pelo palco, antes do show

Apesar da psicodelia e das letras surreais, o público apreciou e não houve nenhum sinal de rejeição da parte dos habitues que estavam ali alheios ao lançamento do livro: "Relatos da Existência Caótica" ou do show de Ciro & Nudes.
Pelo contrário, se não houve uma ovação, eu diria que da parte de quem esteve ali alheio à proposta dupla desse espetáculo, até mesmo a não entender quem seria o Ciro, e muito menos nós, a reação foi bastante respeitosa, com aplausos.  

Um resumo do show de Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada no Delirium Café, em 23 de outubro de 2015. Filmagem de Jani Santana Morales

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cBvVCf5wF6A

Missão cumprida, doravante nos restara aguardar por novas oportunidades e logo teríamos a novidade de se começar a cogitar a gravação de um álbum. Mas na prática, novidades só viriam mesmo no início de 2016, e foi uma oportunidade de se usar o clichê: temos duas notícias, uma boa e outra ruim... qual você quer ouvir primeiro?

Continua...

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