domingo, 7 de fevereiro de 2016

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 42 - Por Luiz Domingues

Voltei para a minha residência no dia 18 de abril de 2015, após uma longa internação hospitalar e duas cirurgias bastante delicadas. Já deixei o Link para a matéria que publiquei em meu Blog 1, anteriormente, e que explica com detalhes o que me ocorreu nesse ínterim, com detalhes sobre a doença, cirurgias e os dias de internação, por isso, não vou repetir tais fatos aqui neste capítulo. 

O que importa aqui, foi que ao final de maio, eu ainda me sentia muito debilitado e mal saia para uma caminhada no jardim do meu condomínio sequer, quando eu recebi o telefonema do Kim Kehl a perguntar-me se eu aceitaria fazer um show na Faculdade ESPM, muito próxima da minha residência.

Tal apresentação seria ao estilo de choque, em meio a um show a ser realizado através de um horário insalubre, mas com a certeza de que haveria uma estrutura boa, com um palco montado na quadra de esportes de tal instituição e sob responsabilidade do C.A. dos alunos. 

A nossa garantia de que seria tudo a contento nessa produção, veio da parte do Fulvio Siciliano, nosso amigo guitarrista e que era professor naquela faculdade, portanto, não haveria possibilidade de não ser bem feito, segundo ele nos alertou. 

Fulvio tocaria conosco e haveria de ser uma grande festa, ainda que em meio a um horário absurdo para os nossos padrões Rockers e principalmente por eu estar a passar por uma condição convalescença (a minha primeira consulta ambulatorial pós-internação, só ocorreria no dia seguinte, 26, quando eu comecei a retirar os pontos das cirurgias). 

Bem, apesar de estar sob um estado lastimável de debilidade ainda, ao menos eu havia recuperado a coloração normal da minha pele, sem as pedras que destruíram a minha vesícula e quase arrebentaram o meu pâncreas e duodeno. 

Sobre o show em si, os meus amigos combinaram de providenciar o meu traslado na ida e volta e também carregarem o meu backline e instrumento, ou seja, eu só teria que tocar. Seria um show de choque, portanto bem curto. 

Chegamos nas dependências da Faculdade ESPM, bem cedo, antes das 7 horas da manhã. Fomos rapidamente para o palco que já contava com um PA montado, e uma equipe técnica terceirizada para nos atender. Nos aprontamos e eu percebi que seria possível tocar em pé, sendo um show de choque, e certamente sem fazer mise-en-scène algum, embora a força do hábito talvez me levasse para isso, mesmo sendo imediatamente interrompido pelas dores e incômodos inevitáveis. 

Estava tudo indo bem até aí, com uma passagem de som razoável e assim, nós só teríamos que aguardar o sinal de intervalo quando os estudantes lotariam o pátio para nos ver tocar. No entanto, o imponderável ocorreu!

Ao mexer em algum artefato atrás do seu amplificador, o Kim esbarrou no suporte de sua guitarra, Gibson Les Paul e ela precipitou-se ao chão. Quando chegou ao chão, ela quebrou bem na junção entre o final do braço e o headstock. Quem for músico e estiver a ler este trecho, sabe que o modelo Gibson Les Paul quando cai no chão desse jeito, é uma tragédia. Outras guitarras não sofrem tanto, mas a Les Paul... 

O Kim ficou inconsolável, pois além do prejuízo que seria enorme em uma oficina de luthieria, a grosso modo, naquela altura, pairava a dúvida sobre ser possível o reparo. Ele sempre levava duas guitarras aos shows, no mínimo, mas desta vez, por ter sido um show de choque com apenas vinte minutos de duração, havia levado uma apenas. Para voltar à sua residência e buscar uma outra guitarra, não haveria tempo hábil e a hora da apresentação se aproximava.

  O excelente guitarrista, Fulvio Siciliano, nosso grande amigo

Chegamos a cogitar cancelar a apresentação, mas aí o guitarrista, Fulvio Siciliano que faria uma participação especial conosco, se prontificou a assumir a responsabilidade de suprir a guitarra durante toda a apresentação e como teríamos a presença do tecladista, Nelson Ferraresso, conosco, não haveria de ser ruim. O Kim cantou, agitou e fez as suas brincadeiras costumeiras e nem parecia que esteve profundamente chateado com a situação, minutos antes e assim nos apresentamos.
"A Galera quer Rock" na faculdade ESPM, em 25 de maio de 2015

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=6InkQT8XdIM 

Foi realmente um show atípico em todos os sentidos, pois esses shows em áreas de faculdades, já são exóticos por natureza e não foi a primeira vez que eu passei pela situação. O Kim não a tocar guitarra em um show d'Os Kurandeiros e eu naquele estado de convalescença... realmente foi tudo muito atípico.

Contudo, houve o lado bom, pois alheios às nossas dificuldades, boa parte dos estudantes se divertiu com o show. Foi assim então, no dia 25 de maio de 2015, a tocarmos na quadra de esportes da faculdade ESPM, localizada no bairro da Vila Mariana, na zona sul de São Paulo.
"Maria Maluca" na Faculdade ESPM em 25 de maio de 2015

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ep8u4C4Pqhk 

Foi o meu primeiro show depois da internação, e apesar do incômodo que ainda sentia e dos problemas que tivemos ali, com a guitarra do Kim a quebrar em um ponto nevrálgico, eu fiquei feliz por estar a retomar as minhas atividades musicais. Em poucos dias, ainda debilitado fisicamente, mas com muita vontade de normalizar a vida, estive de novo com Os Kurandeiros em ação. 
Continua...

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