quarta-feira, 27 de março de 2024

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 127 - Por Luiz Domingues

Da esquerda para a direita: Wilton Rentero, a nossa convidada especial, Renata "Tata" Martinelli, Laert Sarrumor, Carlinhos Machado (atrás na bateria e encoberto), eu (Luiz Domingues), e Osvaldo Vicino. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Click, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Quando subimos ao palco, a confiança que experimentamos foi muito boa. O fato do Carlinhos Machado ter entrado oficialmente na banda se mostrou decisivo no sentido de que através da sua experiência, ele dividiu comigo e Laert a missão de dar respaldo para Wilton e Osvaldo, ambos com menos rodagem que nós. 

Dessa forma, ao dar segurança nas contagens, propor a pulsação e segurar nas suas mãos o andamento, já foi um reforço e tanto. Fora a segurança na condução, a manter a banda tranquila mediante um pilar na retaguarda para que todos pudessem tocar seguros e mais um dado que eu conhecia muito bem a bordo da nossa atuação com Os Kurandeiros: os backing vocals bem afinados que ele costumava fazer, que sempre enriqueciam demais as apresentações. 

Havíamos convidado a cantora d'Os Kurandeiros, Renata "Tata" Martinelli para atuar conosco na apresentação. Ela que brilhantemente gravou backing vocals para a canção "1969" que lançamos em 2023, mas por um conflito de agendas, não conseguiu fazer parte de nossos ensaios, se preparou conforme foi possível para esse show, apenas a escutar vídeos de nossos ensaios e trocar informações com o Laert pelas redes sociais. 

Na primeira foto: Laert Sarrumor no primeiro plano, com Renata "Tata" Martinelli e Wilton Rentero ao seu lado. Na segunda foto: Laert Sarrumor e eu (Luiz Domingues) ao seu lado. Na foto número três, vemos Wilton Rentero e Renata "Tata" Martinelli. Na foto número quatro, Laert Sarrumor na linha de frente com Carlinhos Machado e eu (Luiz Domingues) na retaguarda. Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2027. Click, acervo e cortesia: Marcos Viana "Pinguim"

Começamos com "Rock do Cometa" e a música fluiu muito bem. Com segurança generalizada, balanço Rock'n' Roll e backings bem cumpridos, a música deu o cartão de visitas da banda com segurança, como música de abertura do show. Que maravilha tocarmos essa canção surgida pela criação do Laert lá no longínquo ano de 1977, e que tanto sonhamos executar ao vivo nos shows de Rock que nunca tivemos a oportunidade de realizar na sua plenitude naquela época e que neste instante de 2024, conseguimos enfim, com a devida desenvoltura!

Eis um trecho do "Rock do Cometa". Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Lucas Costa Pinheiro

Eis o link para ouvir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=tmcwwqZK6eE

No entanto, eis que ainda inexperiente no uso de pedais de efeitos e ainda por cima a usar um módulo com muitos "presets" e não uma pedaleira tradicional, o Wilton Rentero não controlou corretamente o pedal de volume e assim, o seu solo saiu com um volume bem baixo, inclusive aquém do volume que ele ajustara para tocar a base das músicas.

Logo que a música se encerrou e recebemos os primeiros aplausos e gritos de euforia da parte da plateia, algo não usual ocorreu, pois ante tal dificuldade, observada, O Laert tomou uma atitude de improviso quando nos conclamou a tocarmos de pronto o trecho final novamente, com o Wil alertado a aumentar o volume. Confesso que na hora que o Laert tomou tal atitude inesperada, eu temi pelo pior, pois além da situação vexatória do erro ter sido exposto publicamente sem necessidade do público tomar ciência da nossa falha, o ato de exaltar a banda, que tinha dois membros inexperientes nas suas fileiras, para começar a tocar de novo sob um determinado trecho como se fosse um ensaio, se mostrou uma temeridade na minha imediata percepção, pois a falta de malícia de palco poderia gerar um desastre. De fato, tentamos de pronto retomar tal trecho alardeado e ficou caótica a tentativa de tocarmos tal detalhe novamente. Foi quando o Carlinhos tomou as rédeas da situação, deu o sinal da contagem e nós entramos certo, e desta feita, o solo ficou bem melhor, é verdade, mediante o ajuste do volume melhor ajustado.

Depois no camarim, o Laert me disse que tomara essa atitude inesperada para que o Wil não se prejudicasse e por conseguinte a banda, pois ele de fato, controlou melhor melhor o seu pedal doravante e assim, o show como um todo não foi cumprido com tal falha estrutural.  Na hora eu aceitei a argumentação e raciocínio dele, embora no meu caso eu não teria feito o mesmo. Penso que no intervalo da primeira para a segunda música, um recado passado discretamente para o Wil, teria tido o mesmo efeito.

Mas sem problema, pois o público levou na brincadeira tal princípio de tumulto ali estabelecido e o show prosseguiu com muita desenvoltura, a engrenar de vez, e ir até o seu final de uma forma muito boa. Portanto, mesmo a discordar do procedimento, admito que tal gesto tenha surtido um efeito positivo para a continuidade da nossa performance.

Momentos mágicos do show! Foto 1: Osvaldo Vicino. Foto 2: Eu (Luiz Domingues). Foto 3: Carlinhos Machado. Foto 4: Wilton Rentero. Foto 5: a nossa convidada especial, a fadinha d'Os Kurandeiros: Renata "Tata" Martinelli. Foto 6: Laert Sarrumor. Foto 7: Uma panorâmica da banda em ação, com o telão a exibir o emblemático anúncio do "tatu"da revista Rolling Stone brasileira dos anos setenta, uma das referências das quais o Laert cita na letra da canção "1969". Boca do Céu no ICBR de São Paulo. 17 de fevereiro de 2024. Clicks, acervo e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Adveio então "Astrais Altíssimos". Na minha mente, passou a ideia de que tocáramos essa música no primeiro show da banda em fevereiro de 1977 e agora estávamos ali a tocar de novo, que constatação incrível a ser anexada ao quadro de recordes que a nossa banda passou a bater, por conta do resgate que assumimos realizar!

Pois foi com um imenso prazer que eu verifiquei que a executamos com vigor e muita graciosidade. E mesmo que soasse à maioria das pessoas ali presentes como uma grande novidade pelo seu caráter desconhecido até então, a música provocou risadas pelo fato do seu refrão usar do humor em meio a um jogo de palavras que induz a um efeito de compreensão em torno da escatologia, ainda que na prática o Laert tenha feito uma brincadeira com a tabela periódica da química.

Eu já podia mensurar o quanto essa música haveria de explicar para muitos ouvintes novos do Boca do Céu sobre como se deu o desenvolvimento do trabalho do Língua de Trapo a posteriori. Ou seja, a veio satírica do Laert como compositor, nós já conhecíamos desde 1976, cerca de três anos antes da movimentação preliminar que desencadeou o surgimento do Língua de Trapo e a posteriori quando explodiu ao grande público.

"Astrais Altíssimos" - Boca do Céu no ICBR de São Paulo - 17 de fevereiro de 2024. Filmagem e cortesia: Moacir Barbosa de Lima ("Moah")

Eis o link para ver no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Of6LTknb9Jg

Perfeitamente desenvoltos no palco e a recebermos a ótima receptividade da parte do público, seguimos em frente e chegara a vez de colocarmos a nossa pérola Folk-Rock em destaque, momento esse eu haveria de desfrutar a me sentir a tocar nos anos sessenta com o Arlo Guthrie, The Band e Lovin' Spoonful para citar três bons exemplos e por que não (?), com Bob Dylan... 

Continua...

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