domingo, 30 de dezembro de 2012

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Zuraio) - Capítulo 20 - Por Luiz Domingues


Ainda a repercutir sobre as histórias engraçadas de bastidores dessa micro-temporada que realizei com esse horista sui generis, durante um desfile de moda : outro dia, o Lizoel, que adorava provocá-lo, fez-lhe uma pergunta : - "Zuraio, e se alguém chama-lhe de "bicha", na rua, você reage" ? O Zuraio ficou exaltado e respondeu : - "Eu brigo, porque não sou bicha, eu sou veado"...
Mas a pior aconteceu uma vez, quando ele chegou com semblante de choro, e o Lizoel perguntou-lhe o que significava aquilo, ao que o Zuraio, respondeu -lhe: 
- "Estou muito triste hoje, pois descobri que não posso ter um filho"... o Lizoel, apesar de conhecer as suas palhaçadas, desta vez caiu na armadilha do gay fanfarrão, pois o Zuraio completou : 
- "Eu não tenho útero"...

Foram seis apresentações, nos dias 20; 26; 27; 28; 29 e 30 de maio de 1980. A primeira apresentação que era a estreia do desfile, foi muito concorrida, com cerca de quatrocentas pessoas presentes, equipes de TV, muitos fotógrafos etc. Mas nos dias posteriores, o movimento caiu bastante, com públicos a oscilar entre cinquenta a oitenta pessoas por dia. No último dia, eu e Lizoel tivemos que fazer um esforço muito grande, pois no mesmo dia, iríamos tocar com o Língua de Trapo em uma eliminatória de um Festival de MPB na cidade de Bauru, interior de São Paulo.

Saímos rapidamente do show do Zuraio para a rodoviária, e entramos no ônibus para Bauru, a enfrentar cinco horas de viagem.
Essa história da apresentação nesse festival, já está devidamente contada no capítulo sobre o Língua de Trapo. E foi assim essa aventura maluca em acompanhar o ator / humorista / cantor e transformista, Zuraio.

Algumas considerações finais são cabíveis no encerramento deste capítulo :

1) Claro que fora constrangedor sob diversos aspectos. Nada contra o trabalho do Zuraio. Até acho que ele era criativo e versátil como humorista. Mas aquele humor ultrajante dele, era para lá de deslocado naquele ambiente esnobe.

2) Outro fator de constrangimento, foi pela questão musical forjada pela absoluta displicência, sem ensaios etc.

3) O fato daquele ambiente ser bastante antagônico aos três músicos, naturalmente, também é digno de nota. O baterista, Jeribal, era evangélico, e muito simples; Lizoel com aspecto de beatnick, e eu, hippie de Woodstock...

4) O cachet pago foi com um valor bom para os padrões da época. Algo entre 120,00 ou 150,00 cruzeiros, por show, não recordo-me claramente.

5) A convivência com o Zuraio foi tranquila. Ele era um sujeito muito simples, sem estrelismo algum, e a sua homossexualidade não incomodou-nos. E como era comediante, sempre proporcionava-nos risadas com suas palhaçadas ultrajantes.

6) Nunca mais toquei com ele, e o Lizoel também ficou só mais um pouco a acompanhá-lo em boites, que eu saiba. Nessa época o Lizoel também estava fixo na formação do Língua de Trapo em seus primórdios e tinha outros trabalhos musicais, em paralelo. Em um deles, culminou em convidar-me, igualmente, como contarei logo mais, neste capítulo dos trabalhos avulsos.

7) Tocar no fosso foi bem esquisito, mas também providencial, pois deixou-nos mais preservados dos climas constrangedores com as senhoras esnobes ali presentes, a constranger-se com as imitações escrachadas, e principalmente sobre as piadas sujas, certamente sob baixo nível e deslocadas, da parte do Zuraio.



Continua...

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