"Diva,
eu divaguei
Pela
imensidão do tão pouco,
Pelo
incomensurável... nada"...
O Laert Sarrumor a cantou a tocar um piano, “Fender
Rhodes 88”, lindíssimo, e seu sonho pessoal de consumo. Mas havia dois aspectos a ser
considerados :
1) Ele era iniciante ao piano, não tinha
grande desenvoltura, e...
2) Apesar de sonhar em ter um piano
elétrico, Fender Rhodes, ele nunca havia tocado em um instrumento desses. Quem é
tecladista, sabe que a tensão das teclas de um piano elétrico é muito mais
sutil que a de um piano acústico, tradicional. Então, ele estranhou demais na
passagem de som, e sabia que estaria em apuros na hora de tocar para
valer, e ainda com a incumbência em cantar e interpretar o melhor possível.
Quantos aos demais, o arranjo para cada um, foi
simples. O Osvaldo Vicino estava seguro a realizar a base harmônica, Wilton Rentero
faria contrasolos e desenhos para ornamentar a canção e eu e Fran Sérpico,
faríamos uma condução de baixo e bateria bem simples, sem voos, mesmo por quê, não sabíamos voar
naquela época. Entretanto, a hostilidade foi imensa por parte do
público. Podia subir os Beatles ali, e seriam maltratados, igualmente, pois essa fora a
determinação daquela horda de vândalos, como torcida uniformizada de futebol. Entramos
no palco, e sob vaias e insultos, voaram diversos objetos inusitados.
Uma moeda com valor de CR$ 0,50 (para quem lembra-se
dessas moedas de centavos de cruzeiros, dos anos setenta, há de recordar-se
que eram enormes e pesadas), bateu na lente direita dos óculos do Laert e
rachou-a. A depender de onde batesse, poderia gerar um hematoma com certa
gravidade, pois tinha a massa de uma pedra, e com a deslocação aérea, ficara
ainda mais pesada, no impacto. O Laert assustou-se, é claro, mas fingiu
naturalidade. Ao tirar os óculos para examinar o estrago, vi adolescentes a rir
da situação, logo nas primeiras filas. Que babacas...
Ele estranhou muito o piano. De fato, ele
martelava as teclas com a força típica de quem toca piano tradicional, mas no
piano elétrico, a tensão das teclas é muito mais leve. Piano elétrico precisa
ser tocado com menos força, e isso faz muita diferença na execução. Soma-se
isso ao fato de que não era um grande pianista, e claro, estava nervoso, como
todos nós, pela grandeza do evento em contraste com a sua / nossa,
inexperiência naquele momento. Claro que a violência atrapalhou. Se fosse um
público respeitoso, teria amenizado bastante a nossa performance. Mas se é que
existiu um lado bom (e eu acho que sim), foi nesse tipo de situação que crescemos,
como sob um batismo de fogo. Sim, a complementar o raciocínio anterior, claro que isso contribuiu para o crescimento da banda, enquanto
unidade. Certamente isso colaborou para amenizar a tensão em relação à segunda
apresentação, uma semana depois.
De volta ao fato em si, o Wilton Rentero passou
a ironizar os adolescentes hostis do público, ao deixá-los, possessos. Uma chuva de
aviõezinhos de papel cobriu-o, que a rir, continuou a tocar...
Manuscrito com a caligrafia do Laert, a conter a letra, e uma exótica marcação de acordes numerados (que não é uma cifra, naturalmente), da canção "Diva"
Continua...
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