domingo, 2 de dezembro de 2012

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 6 - Por Luiz Domingues

Realmente, com esse temperamento petulante que o Fernando "Mu" possuía, tinha tudo para dar errado, todavia, ele realmente evadiu-se logo, mas por outro motivo, parecido com o que tirou o Sérgio Henriques da nossa banda. Conto a seguir, no momento oportuno. E assim, fizemos a nova apresentação no dia 13 de janeiro de 1980, no Bar Opção. Desfalcados de Geraldo "Gereba" e Sérgio Henriques, e a estrear o Mu como novo "lead guitar", tocamos como um quarteto, visto que o Wilson ficou à margem nessa noite, para aguardar uma nova oportunidade.
Tocamos aquele repertório que o Mu estipulara, e foi muito bom.
Mesmo a atuar como quarteto apenas, a apresentação correu muito bem, pois o Mu era excepcional, mesmo. Suas bases harmônicas; solos; contra-solos e desenhos rítmicos, eram executados sob altíssimo nível. E ele cantava bem, igualmente. Dividiu bem com o Paulo Eugênio, os vocais, e cantou solo, músicas do Elton John, Traffic e Bob Dylan, por exemplo. Cerca de 30 pessoas apareceram nessa apresentação. Claro que havia muitos amigos, mas foi um bom público, se considerarmos que aquele bar ficava em um buraco escondido, quase debaixo de um viaduto e longe da rua agitada da boêmia do bairro, que era a Rua 13 de maio.
O segundo show dessa fase, foi marcado para o dia 20 de janeiro de 1980, no mesmo bar. Ensaiávamos lá de terça a sexta, gratuitamente, e nada mais justo que tocássemos lá, pelo menos nessa fase inicial das atividades da banda. E para a nossa surpresa, quase dobramos o público, ao movimentarmos mais de cinquenta pessoas nessa nova apresentação. A formação foi a mesma, como quarteto.
Nesse ínterim, com maior convívio, aprendemos a entender melhor o temperamento do Fernando "Mu". Ele era altivo, mas após esse tempo de convivência, percebemos que era mais uma espécie de reserva de proteção que ele carregava ao lidar com estranhos, conta de suas inseguranças particulares. No fundo, era um sujeito bom e mais solto, tratou de contar-nos histórias sobre como entrara na música etc. Ele era da geração Woodstock. Enlouquecera lá por 1969 / 1970 e passou a estudar teoria musical, e guitarra de uma maneira compulsiva, a alimentar o sonho de ser músico / artista.
Tinha tido problemas com os pais, por conta dessa obsessão, mas seguira em frente. Tentou engatar trabalhos autorais na década de setenta, mas nada frutificou a contento. Tornou-se uma lenda na noite, exatamente por tocar demais, e ter um temperamento difícil. Seu último trabalho próprio, ocorrera com Roatã Duprat e Luis Bola, como já comentei antes. Essa banda, além do trabalho autoral, costumava tocar o repertório do King Crimson, com perfeição.
Continua...

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