domingo, 2 de dezembro de 2012

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 11 - Por Luiz Domingues

Desde o final de 1979, eu estava a desenvolver trabalhos paralelos ao Língua de Trapo, pois precisava ganhar dinheiro. E entre tantas coisas, o mais duradouro foi uma banda focada nos covers, chamada : "Terra no Asfalto". Essa banda surgiu em dezembro de 1979, e durou até junho de 1980, mais ou menos, em sua primeira fase. Mas no final de novembro, surgiu a ideia de reformulá-la, e diante dessa perspectiva de um trabalho fixo a ser executado em bares, tive que optar por sair do Língua, pois haveria um choque de agendas. Fui para o Terra no Asfalto, que durou até junho de 1982. Tem muitas histórias do Terra no Asfalto, nos capítulos específicos sobre esse trabalho. Eu havia tido uma briga feia com meu pai, por insistir em querer ser músico profissional. Precisava ganhar dinheiro, e assim, não foi possível continuar no Língua de Trapo, que estava a crescer, mas ainda não proporcionava renda, para nenhum componente. Fiquei muito chateado, lógico. 

Dividido fiquei, pois sempre odiei tocar covers. Não tinha cabimento em minha concepção, deixar uma banda a praticar um trabalho autoral, para ir trabalhar em uma banda de covers para tocar em bares. Se o fiz, foi por extrema necessidade.
Ao analisar hoje em dia, o conceito não mudou, pois a realidade daquele momento exigiu tal postura de minha parte. Não tenho como arrepender-me, pois eu não era vidente para supor que já na metade do ano de 1981, o Língua sairia desse estado inicial de quase amadorismo, para tornar-se uma banda com empresário, exposição na mídia, e agenda lotada.

Foto da contracapa do primeiro LP do Língua de Trapo, lançado em 1982. O segundo elemento, da esquerda para a direita entre os sentados, ao lado do Laert, é Luiz Lucas, que tornou-se o baixista oficial, doravante, pois Ayrton Mugnaini Jr. substituiu-me emergencialmente apenas, no início de 1981

Observei o sucesso meteórico deles, com dor no coração, por sentir-me uma espécie de Pete Best, mas a torcer pelos meus amigos, sem nutrir nenhum sentimento negativo, primeiro porque sou espiritualista (por conseguinte, não consigo alimentar sentimento de inveja, dadas as minhas convicções de cosmoética), e segundo, por que eles não queriam que eu saísse. Foi decisão minha.
Foi duro comunicar à eles... fiquei a adiar por dias, a fim de criar coragem. Mesmo por que fora uma autoimolação, quase um Haraquiri, com o perdão pelo exagero. O Laert ficou muito chateado, claro. De todos os membros, foi com quem eu tinha a mais velha ligação artística. Estávamos a lutar juntos, desde 1976, e foi como se estivesse a abandoná-lo naquela luta. Por quantas adversidades tínhamos passado juntos desde 1976 ? Foi duro para ele, e isso só aumentara o meu pesar.
Nesta foto acima, o Língua de Trapo já contava com o baterista, Nahame Casseb, popular "Naminha" (a usar barba e óculos, na parte de trás, ao lado do vocalista, Pituco Freitas). Tal foto deve ser de meados de 1983, pouco antes de eu retornar à banda. 


Continua...

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