quarta-feira, 9 de julho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 131 - Por Luiz Domingues

A adaptação de Chico Dias à megalópole de São Paulo, não foi nada fácil. Para ele, Porto Alegre já era demasiada grande, pois a sua cidade de origem era a cidade de Rio Grande, no litoral sul do estado, quase na divisa do Brasil com o Uruguai. Por coincidência, eu conhecia a cidade portuária de Rio Grande. Eu tinha (tenho) parentes paternos naquela cidade, e por três vezes, a visitei em 1961, 1967 e 1976. 
Esse fator ajudou-me a criar uma atmosfera tranquilizadora para ele, pois conversamos sobre a cidade, embora as minhas memórias fossem poucas, mais centradas na viagem de 1976, quando eu já era adolescente e quando evidentemente armazenei mais lembranças sólidas. Rio Grande era (é )uma cidade pequena, apesar de ter um porto gigantesco, o mais meridional do Brasil e se não me engano, o terceiro em tamanho, apenas atrás de Santos e Rio de Janeiro. 
Fica distante cerca de sessenta km de Pelotas, esta sim uma cidade com grande porte, uma das maiores do estado do Rio Grande do Sul. Por isso, eu pude compreender o choque que foi para ele, estar em São Paulo e enfrentar a rudeza da megalópole, para quem não está habituado. 
Esse foi o primeiro ponto. Mas houve outros, naturalmente, a começar pelo fato de que ele era extremamente jovem, e apesar do potencial vocal, a sua inexperiência era preocupante. Essa transição de uma pequena banda interiorana, acostumada a parcas apresentações amadorísticas, para algo muito maior, fora assustadora, naturalmente. 

Estávamos fora do patamar mainstream, mas o tamanho que tínhamos naquele momento de 1984, era incomensurável sob uma análise comparativa em relação à sua ex-banda. Só o fato de termos um disco, o compacto recém lançado, já era algo extraordinário para os parâmetros dele. 

Fora as exibições de TV, entrevistas de rádio, perspectivas para shows e resenhas a surgir por jornais e revistas importantes. Sem dúvida, foi algo muito grande para o imaginário dele, e aliado a sua extrema juventude e inexperiência, mais a adaptação a cidade grande, revelou-se um turbilhão. 

Para amenizar esse choque, eu (Luiz Domingues), Rubens Gióia e Zé Luiz Dinola, imbuímo-nos de boa vontade para dar-lhe o melhor respaldo possível. Além do poeta, Julio Revoredo, e sua família que acolheram-no, a família do Rubens que o tratava muito bem, e a do Zé Luiz, idem. No meu caso, por morar mais longe, ele teve pouco contato com os meus familiares, mas também foi bem tratado, apesar disso. E indo além, ele igualmente foi "adotado" por muitos amigos da banda, aquele pessoal que gravitava em torno da banda, e a acompanhava desde 1982.
Com uma única exceção: o Wagner "Sabbath" nunca absorveu a ideia de que nós nunca cogitamos dar-lhe uma chance para ser vocalista da banda, apesar de seus insistentes pedidos para testes, participações e afins. 
Portanto, quando percebeu que efetiváramos Chico Dias, um rapaz que apareceu "do nada", vindo lá do litoral do Rio Grande do Sul, sentiu-se magoado, certamente. Porém, a sua mágoa não voltou-se contra nós, especificamente, mas dirigiu-se diretamente ao Chico Dias. O clima foi sempre hostil entre os dois e quase culminou nas "vias de fato'", certa vez, com a "turma do deixa disso" a apartar a tempo, em certa ocasião, na porta da residência do Rubens. 

Logo teríamos shows e o Chico precisava estar bem ensaiado e pronto para a estreia. E tínhamos a preocupação também para realizar uma urgente sessão de fotos e um novo release, com a sua incorporação à banda, devidamente relatada. Contudo, faríamos shows ainda como Power-Trio, antes da estreia dele.
Continua...

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