sábado, 19 de julho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 143 - Por Luiz Domingues

A conversa sobre o rumo do Rock no Brasil esquentava sob uma ebulição tremenda. A euforia gerada pela profusão do Rock na mídia, dera margem ao festival de boatos que espalhou-se no meio. Um músico, que era conhecido do Rubens, por exemplo, e era membro de uma banda independente chamada : "Tonelada & Seus Kilinhos" (sim, os seus componentes eram obesos e tinham a proposta musical centrada no humor, ao tentar pegar o vácuo de bandas como : Ultraje a Rigor e João Penca & Seus Miquinhos Amestrados, entre outras), era bem informado sobre os meandros das gravadoras e mídia. 
Foto do poeta, Julio Revoredo, ao flagrar-nos na saída de emergência do Teatro Lira Paulista, em julho de 1984

Em várias ocasiões em que o encontramos, falou-nos muitas coisas sobre o que sabia dos bastidores das gravadoras e nesse sentido,  alertou-nos sobre a necessidade de prepararmos um material urgentemente, a conter uma demo-tape mediante músicas novas. Computamos a dica e imaginamos que o momento seria propício, visto termos mudado a formação de trio para quarteto, e agora com um frontman, teríamos mais chances para pleitear uma chance no mainstream. 

A sua dica foi para direcionarmos os nossos esforços para a gravadora Warner, que teria um plano em execução a visar abrir espaço à bandas mais pesadas, fora do espectro do Pós-Punk, que privilegiavam normalmente na ocasião. Nesse aspecto, deveríamos enviar o nosso material para o Pena Schmidt, que era o produtor em São Paulo, associado ao Liminha, que comandava no Rio. 

Já estávamos com muitas músicas novas prontas, e outras em fase de elaboração, e assim planejamo-nos para pensar em produzir uma demo-tape, no final do ano que aproximava-se, mesmo por que, precisávamos dar um tempo maior de maturação para o Chico Dias e, coisa boa, tínhamos compromissos agendados, o que impedia-nos de parar para focar em uma fase de pré-produção para gravar uma fita demo. O que foi interessante nessa fase, além do nosso crescimento em termos de popularidade, foi essa euforia que sentíamos no ar, por conta do BR Rock 80's estar muito forte na mídia, ao fornecer a ideia de sustentabilidade e abertura, por conseguinte. 

E outro fator óbvio : a proximidade do Festival Rock in Rio, para janeiro de 1985, estava por potencializar muito essa euforia, e estimular todo mundo que sonhava com um pedaço desse quinhão. Nossa suposta "chance" nessa fase, seria apostar na possibilidade de que realmente as gravadoras investissem em bandas com som mais pesado, ao sair da exclusividade que mantinham em torno do mundo guiado pelo Pós-Punk, que dominava tudo até então, com a rara exceção de bandas como Barão Vermelho e Herva Doce, que pareciam incólumes aos ataques niilistas em termos de patrulhamento ideológico da parte dos punks, e seus simpatizantes, e estas sim, eram bandas que tinham proposta musical mais centrada no tradicionalismo de raízes 1960 / 1970, fato raríssimo na ocasião. 
Foto clicada pelo poeta, Julio Revoredo, quando esteve a acompanhar-nos em nossa primeira entrevista ao programa Balancê, da Rádio Excelsior de São Paulo, realizada no Teatro Pimpão, no bairro de Santa Cecília, de São Paulo, em julho de 1984


Esse espectro seria o ideal para nós, pois também não encaixávamo-nos no mundo do Heavy-Metal, de forma alguma. Todavia, decifrar o que esses "gênios" do marketing musical desejam e acham que é a tendência rentável, é literalmente impossível, não só naquele tempo, aliás, porém, sempre. Se fôssemos gravar um material mais a ver com as nossas raízes normais, em torno de nossas predileções 1960 / 1970, corríamos o risco em sermos rejeitados sem audição, pois aquela década de oitenta, foi marcada pela rejeição sumária dessa vertente mais antiga. 

Se alguém perguntar-me por quê o Barão Vermelho e o Herva Doce pareceram não sofrer esse patrulhamento da parte dessa turma do Pós-Punk e livremente seguiram suas respectivas carreiras com apoio mainstream e sucesso, sem ser boicotados, acho que tenho argumentos, mas não cabe aqui descrevê-los, e foge do sentido desta narrativa, naturalmente. Só é relevante anotar que a nossa chance seria em torno do som pesado, ainda que não fosse a nossa predileção, aliás, bem longe disso, por que o Pós-Punk e a sua ruindade musical indecente, não seria suportável para nós...


Continua... 

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