quarta-feira, 9 de julho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 129 - Por Luiz Domingues

Então, nesse ínterim do Chico Dias ter voltado à sua cidade natal para preparar a sua mudança para São Paulo, passamos um bom tempo a procurar uma moradia para ele. Naturalmente, não tínhamos condições de abrigá-lo em nossas respectivas residências e dessa forma, a nossa ideia original foi buscar uma acomodação em uma pensão, onde ele pudesse ter um quarto privativo, ao menos. 

Com a verba curta e na impossibilidade dele bancar-se sozinho por muito tempo, foi a mais razoável alternativa, visto que não dava para pensar em alugar uma casa ou apartamento para ele viver com maior comodidade. Tínhamos a esperança, todavia, de que essa acomodação em um pensionato simples, seria momentânea e com a banda a alçar voos maiores, ele poderia enfim acomodar-se com maior conforto. E a busca começou pela maneira mais usual que dispúnhamos nos anos 1980, em uma fase pré-internet popularizada : através de um jornal de classificados chamado... "Primeiramão". 

Havia uma infinidade de anúncios de pensionatos a oferecer quartos e dessa forma, selecionamos os mais próximos da residência do Rubens, ao pensarmos na facilidade do Chico Dias poder locomover-se, e principalmente ao levarmos em consideração o fato dele não conhecer absolutamente nada em São Paulo. Claro, o fator financeiro também pesou e não podia ser muito caro. A nossa busca foi intensa e também bizarra em alguns momentos. Lembro-me em ter visitado pelo menos entre oito a dez pensionatos e em alguns casos, termos observado reações estranhas por parte de seus donos. Por exemplo, em um deles, quando viram-nos, resolveram simplesmente mentir, ao alegar que a vaga estava preenchida. Hilário ... sentimo-nos como naqueles filmes norteamericanos a focar em preconceito contra negros; índios ou mesmo hippies... 

Em outro, foram simpáticas senhoras idosas a receber-nos e que ao contrário do anterior, adoraram-nos , pois éramos cabeludos, mas bonzinhos, educados... e dessa forma, ofereceram-nos chá, biscoitos etc. Nesse pensionato, pareceu-nos ser um ambiente familiar decente, e ficou entre as casas favoritas para fecharmos negócio. E em um outro, foi demais o que observamos ! Tratou-se de uma casa sinistra, com retratos estranhíssimos pelas paredes, a parecer um mausoléu. Com decoração lúgubre, assemelhou-se à mansão da Família Adams...
A senhora que nos atendeu, pareceu uma personagem dos filmes do Zé do Caixão e por mais engraçado que parecesse, não achamos adequado colocá-lo ali, pois em dois ou três dias ele entraria em depressão, certamente. Todavia, mesmo nas casas onde achamos condições boas para o Chico viver, o fator aluguel preocupava-nos. A banda crescia e tinha uma agenda em expansão, contudo ainda não tínhamos uma estabilidade que permitisse a plena segurança financeira. Seria um risco grande que correríamos e para ele também, é claro. 
Ao enxergar com o prisma da minha atual idade, sem dúvida que foi uma loucura bancar a vinda dele sob uma circunstância assim. Da parte dele, mais ainda, ao considerar-se que era um garoto, com apenas dezoito anos de idade naquela ocasião. Todavia, admiro o arrojo e sobretudo a confiança que tínhamos no trabalho. A confiança que mantínhamos no sucesso da banda, era muito grande, e isso é algo a ser considerado. Estávamos quase a fechar com uma pensão, apesar do aluguel estar acima do razoável para as nossas posses, quando uma solução doméstica e providencial surgiu, através de um grande amigo e colaborador da banda...
Continua... 

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