quarta-feira, 16 de julho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 137 - Por Luiz Domingues


Chegou a nossa vez para subir ao palco, enfim. O frio nesse momento foi para rachar quando começamos a tocar e mesmo com o público visivelmente incomodado por isso, somado à garoa que acentuara-se, a nossa apresentação foi de uma energia incrível, ao arrancar aplausos e gritos acalorados. Percebi até expressões de espanto de algumas pessoas mais próximas à grade de proteção entre público e palco, ao denotar estar positivamente surpreendidas com o nosso som.

Por um segundo, lembrei-me da magistral, Mama Cass a soltar um "Wow", enquanto assistia o Big Brother And the Holding Co., no Festival de Monterey de 1967, mas certamente hipnotizada pela vocalista da banda, uma texana mal ajambrada, mas com uma voz estonteante, chamada : Janis Joplin... guardadas as devidas proporções, senti essa perplexidade no semblante de alguns ali presentes, e claro que tal perspectiva animou-me mais ainda. 

A minha performance pessoal, que era sempre frenética nesses tempos, intensificou-se por um motivo de força maior, emergencial. Isso porque estourou uma corda da guitarra do Rubens, bem na hora em que executávamos o tema : "18 Horas". Não fiz-me de rogado, e enquanto ele providenciou a troca (sim, lamentavelmente não possuía guitarra sobressalente nessa época...), iniciei um improviso com o Zé Luiz e por sorte, foi bastante criativo e inspirado. 

Ao final, quando o Rubens sinalizou que estava pronto para voltar à música, demos a sua deixa e o público, em sua maioria, nem percebeu que a guitarra do Rubens teve problemas, ao julgar ter sido aquele improviso, uma parte do arranjo natural da música. Ao final, já com a noite a avançar, saímos muito aplaudidos do palco, ao lembrar as nossas performances no programa : "A Fábrica do Som". 

Claro, apesar da ótima acolhida, falhamos no quesito comunicação com o público, pois nenhum de nós três tinha esse carisma natural, e não era por menos que estávamos a preparar um vocalista para assumir, pois sentíamos essa carência de comunicação em nossa banda. E ao meu ver, tal falha por termos falado muito pouco ao microfone, e privilegiar assim, tocarmos intermitentemente, sem muitas pausas entre as músicas. As portas abriram-se para nós no evento e novas participações aconteceriam no futuro, inclusive com o crescimento do próprio evento, simultaneamente. 
Tudo isso ocorreu no dia 26 de agosto de 1984 e segundo a estimativa da Polícia Militar, cerca de mil e quinhentas pessoas assistiram os shows, sob frio; vento & garoa. Fico a imaginar se poderia existir a possibilidade de hoje em dia (2013, momento em que escrevi esse trecho), tal número de pessoas pessoas sair de casa nessas condições climáticas elencadas, para assistir quatro bandas de Rock autorais, e completamente desconhecidas da mídia mainstream e grande público... eu tenho inúmeras restrições aos anos oitenta, por diversos motivos, mas nesse quesito, não há como não lamentar que hoje em dia não exista tal predisposição natural da parte do público...
Continua...

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