terça-feira, 22 de julho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 153 - Por Luiz Domingues


O palco foi inteiramente renovado e o P.A. do Circo Voador, recebeu reforços significativos com caixas. Vimos um impressionante equipamento particular do Rádio Táxi sendo instalado muito rapidamente, por um exército de roadies, e ficou claro que o som deles seria muito melhor do que o das bandas anteriores, e em relação ao Metrô, ficara a ressalva que tinham bastante equipamento, ainda que estivessem coadunados com as sonoridades oitentistas medíocres por opção, pois tinham condições de fazer algo muito melhor pelo fato de serem ótimos músicos

O Rádio Táxi foi outro caso de uma banda formada por excelentes instrumentistas, com a intenção deliberada de fazer uma música Pop e 100% coadunada com aquela estética em voga. Egressos dos anos setenta, não tiveram dúvida em cortar o cabelo bem curto; encomendar roupas ao sabor dos modismos em voga e o pior de tudo, evocar aquelas sonoridades abomináveis. Para tocar aquele som, foram fundo, e tal como o Metrô, usavam instrumentos modernosos como o famigerado baixo Steinberger, aquela coisa "Dark", metida a futurista... como resultado, a sonoridade era horrível e só lamentávamos o fato de músicos de enorme capacidade estar a fazer aquele som somente pelo dinheiro, mas com a maturidade adquirida, hoje eu pergunto-me : não teríamos feito a mesma opção se tivéssemos tido a mesma chance ? Mas essa constatação fora além do lamento, pois mexia diretamente conosco.
Tal realidade provocava-nos a chance para elucubrarmos sobre a nossa própria expectativa de carreira. Sendo muito francos conosco mesmos, quantos por cento, não queríamos estar naquela situação confortável do Rádio Táxi; Metrô e outras bandas que estavam a gozar das benesses de uma carreira bem estruturada no mainstream ? Todavia, na época, não pensávamos dessa forma. Claro que ambicionávamos o mainstream, porém, foi óbvio que o mercado oitentista estava a borbulhar para o Rock, mas nesses moldes das estéticas oitentistas que abominávamos. 

E nessa altura dos acontecimentos, não bastava só ir ao barbeiro e cortar o cabelo para adotar um corte esquisito, e usar muito reverber e chorus nos instrumentos. Já estávamos na luta, e mesmo que a habitarmos um patamar muito inferior ao que esses artistas privilegiados estavam por usufruir, pelo fato de termos música a tocar em rádio; muitas aparições na TV, e portfólio em franco crescimento, não havia meios para retroagir, e assim remodelarmos a nossa carreira. Seria digno de filmes de Cheech & Chong, se uma banda com a nossa sonoridade e identidade ideológica, aparecesse da noite para o dia, com os componentes a usar visual Pós-Punk, e a tocar músicas novas, coadunadas com aquela estética. Deixaríamos de tocar "18 Horas" repentinamente, e seríamos o "Echo and the Bunnymen"do Itaim-Bibi, assim, sob um piscar de olhos ? Ha ha ha !

Claro, mera especulação, pois não havia meio de nós pensarmos em numa estratégia desesperada dessas e convenhamos, nunca cogitamos uma bobagem desse porte, pois em realidade, tínhamos muitas esperanças em atingir o mainstream, mas por outros meios. Estávamos muito confiantes na possibilidade do mercado expandir-se, ao abrir um outro nicho, fora dessa egrégora do Pós-Punk, ou seja, para seguir a tendência do mercado americano e europeu, onde havia os dois polos a funcionar concomitantemente (refiro-me ao Hard-Rock e Heavy-Metal, oitentista). Seria para esse lado que deveríamos pender, mais próximo de nossa realidade, apesar de também ser um terreno inóspito para Rockers que comungavam pela velha cartilha 1960 / 1970. 
Bem, de volta ao assunto, o som do Rádio Táxi estava todo concebido para ser modernoso e estar coadunado com a estética da época, mas como a intenção foi ser Pop e leia-se o conceito pop, como algo bem perto do popularesco, ou seja, foi como se o The Fevers, ou os Pholhas tivessem tomado um banho de "modernidade", e estivessem a fazer o seu som, travestidos como uma banda Pós-Punk, só para seguir um modismo de ocasião. Além do o fato de ter excelentes músicos e portanto tocar com uma segurança incrível, o Rádio Táxi  soltava aqui e ali, pequenos lampejos de Prog Rock, Jazz-Rock, muito sutis, e dava para entender. Parecia que faziam isso como fumantes de escritório, que dão aquelas escapadas para os fumódromos, ao visar buscar um alívio rápido com rápidas tragadas...

Não deixava de ser um mérito, claro e os rapazes já tinham muitos Hits naquela época, com o público a responder de forma rápida a cada canção de apelo radiofônico e noveleiro que executavam, daí as "escapadas" para um som sofisticado no meio do set list. Foi um show longo, e embora o público demonstrasse estar a apreciar, nem de longe havia aquela euforia, que verificamos quando chegamos ao Circo Voador, e o Camisa de Vênus apresentava-se. Fomos para o apartamento da irmã do Zé Luiz, quando conversamos sobre todas as observações que fizéramos, e no dia seguinte, por volta das 14:00 horas, fomos à rodoviária do Rio, onde o Rubens e o Chico Dias chegariam, acompanhados do amigo Claudio "Capetóide" de Carvalho, que viria junto para atuar improvisadamente como roadie. 

Continua...

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