O palco foi inteiramente renovado e o P.A. do Circo Voador, recebeu reforços significativos com caixas. Vimos um impressionante equipamento particular do Rádio Táxi sendo instalado muito rapidamente, por um exército de roadies, e ficou claro que o som deles seria muito melhor do que o das bandas anteriores, e em relação ao Metrô, ficara a ressalva que tinham bastante equipamento, ainda que estivessem coadunados com as sonoridades oitentistas medíocres por opção, pois tinham condições de fazer algo muito melhor pelo fato de serem ótimos músicos
O Rádio Táxi foi outro caso de uma banda formada por excelentes instrumentistas, com a intenção deliberada de fazer uma música Pop e 100% coadunada com aquela estética em voga. Egressos dos anos setenta, não tiveram dúvida em cortar o cabelo bem curto; encomendar roupas ao sabor dos modismos em voga e o pior de tudo, evocar aquelas sonoridades abomináveis. Para tocar aquele som, foram fundo, e tal como o Metrô, usavam instrumentos modernosos como o famigerado baixo Steinberger, aquela coisa "Dark", metida a futurista... como resultado, a sonoridade era horrível e só lamentávamos o fato de músicos de enorme capacidade estar a fazer aquele som somente pelo dinheiro, mas com a maturidade adquirida, hoje eu pergunto-me : não teríamos feito a mesma opção se tivéssemos tido a mesma chance ? Mas essa constatação fora além do lamento, pois mexia diretamente conosco.
Tal realidade provocava-nos a chance para elucubrarmos sobre a nossa própria expectativa de carreira. Sendo muito francos conosco mesmos, quantos por cento, não queríamos estar naquela situação confortável do Rádio Táxi; Metrô e outras bandas que estavam a gozar das benesses de uma carreira bem estruturada no mainstream ? Todavia, na época, não pensávamos dessa forma. Claro que ambicionávamos o mainstream, porém, foi óbvio que o mercado oitentista estava a borbulhar para o Rock, mas nesses moldes das estéticas oitentistas que abominávamos.
E nessa altura dos acontecimentos, não bastava só ir ao barbeiro e cortar o cabelo para adotar um corte esquisito, e usar muito reverber e chorus nos instrumentos. Já estávamos na luta, e mesmo que a habitarmos um patamar muito inferior ao que esses artistas privilegiados estavam por usufruir, pelo fato de termos música a tocar em rádio; muitas aparições na TV, e portfólio em franco crescimento, não havia meios para retroagir, e assim remodelarmos a nossa carreira. Seria digno de filmes de Cheech & Chong, se uma banda com a nossa sonoridade e identidade ideológica, aparecesse da noite para o dia, com os componentes a usar visual Pós-Punk, e a tocar músicas novas, coadunadas com aquela estética. Deixaríamos de tocar "18 Horas" repentinamente, e seríamos o "Echo and the Bunnymen"do Itaim-Bibi, assim, sob um piscar de olhos ? Ha ha ha !
Claro, mera especulação, pois não havia meio de nós pensarmos em numa estratégia desesperada dessas e convenhamos, nunca cogitamos uma bobagem desse porte, pois em realidade, tínhamos muitas esperanças em atingir o mainstream, mas por outros meios. Estávamos muito confiantes na possibilidade do mercado expandir-se, ao abrir um outro nicho, fora dessa egrégora do Pós-Punk, ou seja, para seguir a tendência do mercado americano e europeu, onde havia os dois polos a funcionar concomitantemente (refiro-me ao Hard-Rock e Heavy-Metal, oitentista). Seria para esse lado que deveríamos pender, mais próximo de nossa realidade, apesar de também ser um terreno inóspito para Rockers que comungavam pela velha cartilha 1960 / 1970.
Não deixava de ser um mérito, claro e os rapazes já tinham muitos Hits naquela época, com o público a responder de forma rápida a cada canção de apelo radiofônico e noveleiro que executavam, daí as "escapadas" para um som sofisticado no meio do set list. Foi um show longo, e embora o público demonstrasse estar a apreciar, nem de longe havia aquela euforia, que verificamos quando chegamos ao Circo Voador, e o Camisa de Vênus apresentava-se. Fomos para o apartamento da irmã do Zé Luiz, quando conversamos sobre todas as observações que fizéramos, e no dia seguinte, por volta das 14:00 horas, fomos à rodoviária do Rio, onde o Rubens e o Chico Dias chegariam, acompanhados do amigo Claudio "Capetóide" de Carvalho, que viria junto para atuar improvisadamente como roadie.
Continua...
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