quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 231 - Por Luiz Domingues


Os ensaios intensificaram-se com a proximidade desses shows iniciais com o Beto Cruz inserido oficialmente em nossa banda. Apesar do pouco tempo que dispúnhamos, estávamos confiantes, pois a banda estava muito ensaiada, e a questão seria providenciarmos tão somente a adaptação do Beto. E da parte dele, estávamos tranquilos, pois todo o empenho estava a ser empregado por ele, para demonstrar claramente o seu profissionalismo, todavia, acima de tudo, uma gana de sua parte, que muito animou-nos, certamente. As músicas do EP, que ele teria que cantar, não eram exatamente do seu agrado pessoal. 

Ele foi sincero logo de início, ao afirmar que aquele peso todo seria demais para o seu gosto pessoal, e achava que exagerávamos nas firulas instrumentais, um recurso que trazíamos da nossa influência oriunda da escola do Jazz-Rock setentista, desde o início das atividades da banda em, 1982. Nesses termos, ele sabia que teria que cantá-las, ao menos nos seus primeiros meses com a banda, mas deixou claro que ansiava por mudanças estruturais no som. De fato, a questão do EP e a sua sonoridade, foi objeto de nossas discussões internas. Por todos os motivos que já expus na narrativa, tornara-se claro que queríamos mudar. Eu e Rubens gostamos da ideia do Beto em atrair a sonoridade doravante adotada pela banda, mais para o Hard-Rock, ainda que fosse o oitentista em voga, porém com pitadas (sutis), em favor do o Hard -Rock setentista.

O Whitesnake tornou-se um exemplo para nós, como uma banda oitentista (eu sei que essa banda começou as suas atividades ainda nos setenta, não assuste-se, leitor, não estou desinformado !), que ainda trazia tais traços em sua sonoridade e nesses termos, seria uma saída honrosa para abandonarmos a escolha errada que fizéramos no sentido do Hard / Heavy-Metal que norteara o nosso recém lançado, EP. Porém, houve um problema básico nessa mudança. O Beto não criticava apenas o peso, mas falava também sobre as letras herméticas, e o excesso de firulas observadas nos arranjos. 

O seu discurso teve bastante bom senso, pois ele insistia bastante na questão em adequar o som ao padrão mais Pop possível, isso, se realmente desejássemos tentar a sorte no mundo mainstream. Claro que teve coerência, e nesse sentido, eu e Rubens concordávamos, ainda que um pouco relutantes, com a dúvida a pairar no ar : até que ponto seriam promovidas essas tais mudanças ? No entanto, tudo gravou-se mesmo, foi com a reação do Zé Luiz, pois amenizar o som, a extrair o peso e o ranço Heavy-Metal, seria mais do que salutar, em sua percepção, todavia, na questão dos excessos em torno dos arranjos em torno do Jazz-Rock, ele não gostou nem um pouco do discurso do Beto, e contra-argumentou que os arranjos elaborados sempre foram a marca registrada da banda, desde o início. Isso que ele afirmava, teve a sua razão em ser, mas ao mesmo tempo, se pleiteávamos um lugar ao sol (com o perdão do trocadilho...), no mainstream, seria fundamental que o som fosse simplificado ao máximo. Tal discussão não foi fácil. O Zé Luiz relutou bastante, não foi de primeira discussão portanto, que ele aceitou a simplificação de nosso trabalho, e pelo contrário, tal polêmica rendeu muitas, mas muitas mesmo, conversas em grupo, e individuais entre ele e eu. Enfim, com o passar do tempo, essa resistência pôs-se a ser quebrada e ainda ao final de 1985, nós começamos a trabalhar em uma série de músicas novas que já passou a conter a característica do Hard-Rock (oitentista, bem entendido), com letras mais simples, e sobretudo, municiados por arranjos bem mais simplificados, para imprimir-se uma roupagem muito mais Pop ao trabalho da banda. 

A mudar de assunto, retroajo um pouco, antes de falar dos shows de estreia do Beto Cruz, pois devo registrar uma entrevista que eu e Rubens concedemos ao programa : "Os Rapazes da Banda", apresentado pelo multi-músico e agitador cultural, Skowa, na Rádio USP FM, em 20 de outubro de 1985. Foi um programa com a duração de uma hora no ar, com a oportunidade em falarmos bastante sobre o trabalho, e amparados pela execução de várias músicas, sob um astral muito positivo com o Skowa, e a garota que assessorava-o, e cujo nome não recordo-me. Sobre o programa, apesar desse título, que poderia sugerir algo muito diferente (para quem acompanha o mundo do teatro, "Os Rapazes da Banda" é uma peça teatral centrada no universo gay), nesse caso, o Skowa quis fazer mesmo foi um trocadilho com a questão musical. Essa entrevista eu também ainda tenho preservada sob uma fita K7, e tenho planos para disponibilizá-la no You Tube. De volta a falar do show na cidade de Santos, no Santos Futebol Clube...


Continua... 

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