terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 228 - Por Luiz Domingues


Com a rápida percepção da parte de Rubens Gióia, cortamos caminho a entrarmos em um tremendo atalho, pois a tendência natural teria sido iniciarmos um longo processo de busca e escolha de um novo vocalista para seguirmos em frente. Todavia, diferente de ocasiões anteriores, desta vez houve a agravante de que com o disco novo em voga, tirante a música : "Crisys (Maya)", que era instrumental, e oriunda do velho repertório, e "Anjo Rebelde", que o Rubens cantava com tranquilidade, todas as demais tornaram-se inviáveis para ser executadas, sem a presença de um vocalista de ofício. 

Portanto, por ter pensado no Beto Cruz, e antecipado-se à inevitável morosidade perpetrada pela incidência de reuniões que fatalmente faríamos para buscar soluções a visar a nossa completa  reestruturação, ele deu um golpe de mestre em favor da banda, eu reconheço. E contamos com a sorte pelo fato do Beto estar disponível naquele momento, e ter aceito de pronto o convite, mesmo por que, nessa altura, com dois discos; portfólio já bem avantajado; muitas aparições na TV; e execuções pelas rádios; fora muitos shows, a banda obtivera um status que tornara-a atraente, e falo isso sem nenhuma falsa modéstia, apenas ao ser bem realista em minha análise. O Fran Alves ainda visitou-nos na segunda-feira posterior ao final de semana onde despedira-se artisticamente da banda.

Foi uma visita cordial e aí sim, despedimo-nos oficialmente, mas sob um nível de amizade muito grande. Falamos abertamente sobre os erros e acertos que tivemos nos dez meses em que trabalhamos juntos. Ele desejou-nos boa sorte, e nós retribuímos os votos, ao desejar-lhe que ele logo desse prosseguimento à sua carreira, com novos projetos. Nessa conversa, ele disse-nos que procuraria algo mais com teor Pop, sem grandes arroubos instrumentais, como era o som d'A Chave do Sol. Ele teve razão em buscar a simplicidade Pop nos arranjos e de certa forma, esse seria também o caminho que em breve seguiríamos, com uma terceira grande reformulação da sonoridade da banda. 

Independente de precisarmos ter feito isso naquela ocasião, é claro que a banda já contabilizava prejuízos na construção de sua carreira, pois um item básico para qualquer artista, é não mudar a formação (o line-up), ou pelo menos tentar não mudar muito. Banda que troca de membros constantemente, mostra-se desestruturada sob uma primeira leitura e pior, dificulta e muito o seu marketing, ao atrapalhar bastante a sua logística. E se mudar de membros é prejudicial, imagine então mudanças bruscas de sonoridade !

A banda existia desde 1982, apenas, mas para uma análise mais precisa, poder-se-ia contabilizar o ano de 1983, como ponto onde começou a ficar conhecida de fato, graças às primeiras exibições na TV. Então, em dois anos, estávamos a partir para uma terceira mudança sonora radical, e a pergunta é simples : isso foi saudável ?
É claro que não... bem, mais uma vez estávamos acuados e não tivemos escolhas, nesse quesito, em específico.

Além da novidade relâmpago em torno da saída do Fran Alves, e entrada do Beto Cruz, outra novidade que apresentou-se foi a aproximação de uma pessoa que desejou fazer uma experiência com a banda, como empresária. Tratou-se de uma antiga produtora do programa, "A Fábrica do Som", da TV Cultura de São Paulo e que acompanhava-nos desde 1983, portanto, chamada : Cristiane Macedo. Ela ainda era funcionária da TV Cultura, mas a acompanhar os nossos passos, dizia ter alguns contatos, e assim,  propôs uma parceria conosco. Essa mulher não foi aquela que em 1984, vendera um show na Danceteria Radar Tantã, e cujo desfecho financeiro fora inusitado (já relatado muitos capítulos atrás).

Com a saída de cena do empresário, Mário Ronco; e o fracasso da "Cooperativa Paulista de Rock", além da nossa frustrada tentativa (por duas vezes !), em contar com Jerome Vonk (empresário do Língua de Trapo); tirante não podermos contar com Antonio Celso Barbieri como manager exclusivo, pois este mantivera a estratégia em colocar-se como um produtor independente e disposto a agenciar muitos artistas simultaneamente, uma proposta de alguém interessado em trabalhar em nosso favor, e com exclusividade, foi ótima. Depunha contra, o fato dela ser totalmente iniciante, mas o fator "força de vontade", aliado aos contatos que ela detinha graças à sua atuação como produtora de TV, poderia viabilizar um começo promissor. Contava também como um fato, a percepção de que a banda ascendia no mercado e o nosso material gerencial nessa altura, já mostrava-se respeitável nesse sentido. Então, com Cristiane Macedo a iniciar os seus esforços e a banda a  reformular-se com o novo vocalista, Beto Cruz, pareceu-nos que a tempestade advinda pela perda do Fran Alves, não concretizara-se, e assim, tempos de esperança avistaram-se no horizonte da banda.  


Continua...

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