sábado, 17 de janeiro de 2015

Sou um Escorpião, do Mar ao Fogo - Por Julio Revoredo

O silêncio das carpas

A execução dos parafusos

O desprego das montanhas
O libido da estranheza

Enfurecidos pássaros

Lábios carnudos

Cegos olhos

Solitários aquadutos
Playground em ruínas

Crianças mutiladas

Procuram nas águas, asas

E também nas estradas

Nem dia

Nem noite

Nem Sol

Nem Lua

Nem casa

Nem rua
Qual o ângulo?

O plano sequencial da infância de Ivan

O voo de cima, de quem vê

Embaixo, tudo não é um espelho

Nem ritual, por enquanto: tudo é atonal.
O conceito, desmiola-se

Ventos ziziam

Sapos coaxam

Cavalos relincham na língua

Na língua, a flor abrocha

Penso nos Beatles
Penso em "A Day in the Life", e nos seus contornos, fluxos, arrojos

O homem em fogo, de costas, não cede, mata a sombra, desprende-se, lança-se ao cromo do escuro, e principalmente ao sonho e salto, obtuso

Se o silêncio incomoda, cicio

Apago o pesadelo do que esfumaça, do que embaraça, o meu jogo é a impressão, e a máscara que cai, e que volta

O libido da estranheza, o desprego das montanhas

A execução dos parafusos, o silêncio das carpas


Julio Revoredo é colunista fixo do Blog Luiz Domingues 2. Poeta e letrista de diversas músicas que compusemos em parceria, em três bandas pelas quais eu atuei: A Chave do Sol, Sidharta e Patrulha do Espaço. Neste poema inédito, ele cita a canção: "A Day in the Life", dos Beatles e assim como em seu acorde final, que desliza em um mergulho ao infinito, propõe um mergulho semelhante, com palavras que evocam imagens. Na foto de seu acervo pessoal, eis o poeta em num dia de 1984.   

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