quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 44 - Por Luiz Domingues

Dividimos a noite com uma banda chamada "High-Low", da ex-vocalista da "Volkana", Marielle.

Duzentas pessoas assistiram os dois shows. Nesse dia, recordo-me em ter cometido um ato falho, pois no Centro Cultural era praxe usar o equipamento de palco cedido pelo evento, para todos os artistas e quando eu fui plugar o meu baixo no amplificador, a baixista do "High-Low" advertiu-me rispidamente que aquele era o seu amplificador pessoal, e não admitia que eu usasse-o.

Claro que era seu absoluto direito em não emprestar-me, mas eu não sabia que era dela, e nada justifica a truculência com a qual tratou-me (ou destratou, no caso), ao não ter considerado que eu não estava a agir de má fé, mas também por falta de educação de sua parte, ao denotar arrogância e prepotência.

Isso sem contar que de minha parte, eu perdi as contas de quantas vezes emprestei o meu equipamento até para músicos estranhos e portanto, tal demonstração de pedantismo causou-me espécie.

Pedi-lhe desculpas, naturalmente, que ela mal deixou claro se havia aceitado, aliás, enquanto retirou o cabeçote de marca, "Gallien-Krueger" do palco, e o assistente de produção do Centro Cultural trouxe o cabeçote comunitário para eu usar... que era um Gallien-Krueger, absolutamente idêntico, e portanto, mesmo que a tal moça estivesse dentro do seu direito em não desejar emprestar-me, como ela poderia supor que eu adivinhasse que aquele amplificador, de marca e modelo idêntico, era particular ?

Digno de nota, o fato de que na música : "Under the Light of the Moon", o nosso roadie e presidente do Fã Clube, Jason Machado, foi quem executou-a à bateria. Segundo contou-nos, foi de súbito que o baterista da nossa banda, Juan Pastor, ao perceber que a sua namorada, Carol, aproximava-se do palco, levantou-se e sem cerimônias entregou as baquetas para ele e disse-lhe :  -"se vira, entra aí e toca"... mesmo estupefato pela loucura de improviso, ele tocou direito, sem comprometer a performance da banda, e pelo contrário, para manter um bom nível.

Conforme eu narrei anteriormente, quando eu abordei o show no Ginásio do Ibirapuera, ocasião em que um sujeito provocou-me de maneira agressiva e gratuitamente (por arremessar um chumaço de papéis contra o meu baixo), e não satisfeito com tal agressão sem sentido, depois passou a ameaçar-me à distância etc e tal.

Pois em junho, no dia 18, para ser preciso, houve uma situação desastrosa onde o Pitbulls on Crack esteve envolvido. Um produtor megalomaníaco, quis empreender um show nos moldes do que havia sido realizado no Ginásio do Ibirapuera, com ingressos cobrados na forma de alimentos e roupas de inverno para a caridade. Até aí, tudo bem, fomos convidados, aceitamos de pronto pelo caráter beneficente, e naturalmente pela exposição toda que geraria em termos de mídia. Em princípio, deveria ter sido realizado ao ar livre. no Largo 13 de maio, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, mas foi cancelado e anunciado para o estádio do Pacaembu, a seguir. 

Todavia, à medida que o dia do show aproximava-se, víamos que a divulgação prometida estava muito tímida, e incompatível com as promessas do rapaz, e a ter em vista que o local do evento seria o Estádio do Pacaembu. Ora, para atrair cerca de cinquenta a oitenta mil pessoas, seria preciso uma divulgação pesada e apenas cartazetes e filipetas colocados na "Galeria do Rock", pareceu-nos uma piada. E foi mesmo... e se no início, a ideia foi a de um festival com dez ou doze bandas participantes (número excessivo, sem dúvida !), o que dizer da bizarrice em contar com sessenta atrações agendadas ? Quanto tempo tocaria cada banda ? Uma música só ?

Mesmo ao sabermos de antemão que seria um fiasco, como estávamos apalavrados, fomos ao Pacaembu no horário combinado.
Era para ter sido um mega festival com mais de sessenta bandas, e por aí, já foi possível perceber que não seria uma organização feita com seriedade. Apenas pelas infinitas trocas de bandas no palco único, já seria um fator inevitável a acarretar um atraso monstruoso. Nem festival de colégio, com bandas formadas por alunos adolescentes, seria tão caoticamente desorganizado !

Então, quando chegamos ao Pacaembu, vimos que o público presente era ridículo para o tamanho de um estádio de futebol !
Não devia haver ali, nem cem mil pessoas presentes, entre arquibancadas; setores numerados, e a pista !

Da esquerda para a direita, no degrau mais alto : José Reis; eu, Luiz Domingues; Juan Pastor. Fileira abaixo : Deca e Chris Skepis. No último degrau, Luiz Gustavo. Click de Jason Machado, em foto recentemente (2015), disponibilizada pelo Jason, via Facebook, gentilmente para o meu Blog.

Conclusão : havia mais músicos concentrados atrás do palco, com o "tobogã" do estádio, a ser usado como "camarim / louge", do que público no estádio inteiro.

Outra foto da farsa do Pacaembu... aqui, só a banda clicada em uma escadaria de acesso entre os bastidores do tobogã e o ginásio de esportes, que fica anexo, na parte traseira do estádio. Acervo e cortesia de Jason Machado

Para quem não conhece o Estádio do Pacaembu, o "tobogã" é uma arquibancada construída atrás do gol oposto ao do gol do portão de entrada principal do estádio. Aí nesse espaço, aconteceu o fato mais bizarro da noite, pior ainda que essa bagunça amadorística.

Resenha do show no Ibirapuera, publicada em junho de 1994, na revista "Dynamite"

Em meio à várias rodas de conversas formadas por músicos, e ali houve a presença de muitos conhecidos (não apenas da cena rocker noventista, mas também sobre gerações mais antigas), houve um grupo de pessoas perto de nós, do Pitbulls on Crack, onde eu notei a presença de um sujeito alto, com um penteado ao estilo dreadlock, enorme, e que falava com os seus amigos. Este sujeito olhava-me com uma expressão facial não amistosa. Relevei, pois nunca vira-o antes e ignorei. Mas subitamente, ele começou a falar um pouco mais alto, com a intenção deliberada de que eu ouvisse-o. Não lembro-me textualmente do que falou, mas foi algo do tipo :

 
-"é, então eu "taquei" (sic) um maço de papel no baixista... fiz de propósito, aquele babaca"...  

Pois com essa confissão, confirmou-se : fora o idiota que atacou-me no Ginásio do Ibirapuera ! Então, estava explicado o motivo do ataque ! O sujeito era músico, e naturalmente deve ter considerado que a sua banda seria mais categorizada do que a minha, e portanto devia achar-se "injustiçado" por ver-me a tocar e ele, não, naquele palco enorme de um ginásio histórico em São Paulo. Atitude deplorável sob todos os sentidos, e não perderei o meu tempo, e nem o do leitor, para esmiuçar as possíveis explicações sob o cunho musical; artístico; psicológico, ou seja lá em qual campo onde esse comportamento possa ser explicado. A minha atitude foi usar a mesma estratégia, e a falar mais alto também, ironizei ao dizer algo do tipo : 

-"sabe aquele sujeito que atacou-me no Ibirapuera ? Deve estar aqui hoje, já que tem tanta banda para apresentar-se"...

Ficou por isso, com o sujeito a dispersar a seguir. Qual era a sua banda ? Não faço a menor ideia, mas pelo visual dele, devia ser algo derivado do Metal. Ficamos ali por uma hora mais ou menos, e ao verificarmos a completa bagunça que a (des)organização estava a perpetrar, fomos embora a seguir, e certamente ninguém notou a nossa falta. A nossa atitude foi seguida por diversas bandas conhecidas nossas, e só tocou mesmo algumas poucas bandas obscuríssimas de adolescentes que estavam ansiosos para tocar, mesmo com o som e a luz deficientes, e inadequadas para um estádio de futebol profissional. Foi uma maçaroca sonora, com uma iluminação digna de uma árvore de natal... enfim, fomos embora com a certeza de que havíamos apenas perdido tempo, pois ficou óbvio que não valeu a pena o deslocamento até lá, ao verificar-se que a produção do evento esteve péssima, desde a sua divulgação.




Continua...

3 comentários:

  1. No show do centro cultural foi a primeira vez em que eu toquei com vcs.
    No momento em que o Chris apresentava a banda, a Carol, namorada do Pastor na época chegava ao local, ele saiu da bateria para recepciona-lá e me entregou as baquetas.
    O Chris anunciou a música, Under the light...e quando estava apresentando a banda, fui entregar as baquetas e o Pastor me disse "se vira, senta e toca" e começou a dar risadas.
    Eu achando que era brincadeira, fiquei de pé ao lado da bateria com cara de "paisagem" até que realmente me toquei que a coisa era séria e fiz minha "primeira" apresentação junto aos meu "ídolos", posteriormente fiz uma apresentação inteira na cidade de Sorocaba, Interior de SP, num moto clube, ao qual por razões de contatos do Pastor não poderia ser desmarcado e ele com o "pé danificado" não poderia tocar, aí eu fui convocado como substituto. rsrs

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  2. No show do centro cultural foi a primeira vez em que eu toquei com vcs.
    No momento em que o Chris apresentava a banda, a Carol, namorada do Pastor na época chegava ao local, ele saiu da bateria para recepciona-lá e me entregou as baquetas.
    O Chris anunciou a música, Under the light...e quando estava apresentando a banda, fui entregar as baquetas e o Pastor me disse "se vira, senta e toca" e começou a dar risadas.
    Eu achando que era brincadeira, fiquei de pé ao lado da bateria com cara de "paisagem" até que realmente me toquei que a coisa era séria e fiz minha "primeira" apresentação junto aos meu "ídolos", posteriormente fiz uma apresentação inteira na cidade de Sorocaba, Interior de SP, num moto clube, ao qual por razões de contatos do Pastor não poderia ser desmarcado e ele com o "pé danificado" não poderia tocar, aí eu fui convocado como substituto. rsrs

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  3. Ótima lembrança, Jason !

    Vou acrescentar tal particularidade no relato.

    Grato !!

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