quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 232 - Por Luiz Domingues


Aceitamos as condições e assinamos o contrato, mas estávamos obviamente com uma desconfiança muito grande, pois naquela altura dos acontecimentos, mesmo sendo jovens, nós já tínhamos uma vivência mínima a deixar-nos ressabiados com esse tipo de profissional, que demonstrava deter esse nível como produtor, e que contratara-nos sob estranhas circunstâncias. Chegou o dia do show, e o ônibus fretado que levar-nos-ia, estava estacionado no local e horário combinado, previamente. Foi por volta do meio dia essa partida, e naquela época, sem os congestionamentos monstruosos de hoje em dia, a ida ao litoral estava previsto para durar uma hora,  aproximadamente.

O ônibus não foi de primeira categoria, pelo contrário, foi um Mercedes já bem rodado, oriundo dos anos setenta, e não estava muito bem cuidado em seu interior. Entramos, juntamente com os músicos de outras bandas que participariam também, e para amenizar a jornada, muitos desses colegas eram amigos nossos, ao tornar a experiência mais amena. Entretanto, o clima provou-se tenso. Tanto o tal produtor, quanto os seus asseclas, foram extremamente rudes e a tratar-nos como juvenis em meio a uma excursão escolar. 

Em dado instante, alguém teceu algum comentário sobre a produção ser tosca, e o show estar ameaçado com esse tipo de atitude da pare da produção, quando um desses produtores subordinados ouviu, e foi contar para o tal empresário.Este ficou enfurecido e no meio da viagem, fez um discurso rude sobre "exigir respeito" etc. Para piorar e muito a situação, esse truculento rapaz ameaçou cancelar o show ali mesmo (claro que foi um blefe, pois em tese, ele perderia dinheiro), entretanto, exagerou, ao afirmar que se não colaborássemos, ordenaria que fôssemos expulsos do ônibus, e largados no meio da estrada, com instrumentos na mão. Muitos gritos e ameaças foram proferidas pelos asseclas do fulano, e para não conturbar mais o ambiente, a discussão acabou, por uma questão de bom senso. Aonde fomos inserirmo-nos, ao lidar com pessoas desse baixo nível ! Bem, o resto da viagem foi feita em silêncio e só restou-nos torcer para que o show fosse razoável pelo menos, pois ficou claro que seria tensa a relação com essa gente.
Essa foto performática foi clicada pelo poeta, Julio Revoredo, em algum momento de 1984. Trata-se de minha (Luiz Domingues) própria sombra, e lembra de certa forma, o personagem Nosferatu, da versão clássica de 1922. E tal fantasmagoria espelha bem o clima de terror que vivemos, ao interagirmos com essa produção que estou a descrever, sobre esse show em Santos...
Click. acervo e cortesia de Julio Revoredo

Continua...

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