sábado, 3 de janeiro de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 226 - Por Luiz Domingues


Nesse ínterim, o Fran Alves tomou a palavra em um dia de ensaio, e expôs os seus sentimentos com tudo o que estava a acontecer-lhe, e à banda naquele momento. Não tivemos contra argumentação para demovê-lo de sua iniciativa em querer deixar a banda, e buscar outro rumo em sua carreira. Ele estava acuado pelos acontecimentos, e sentia que não havia nada que nós três (Gióia; Dinola & Domingues), poderíamos fazer para amenizar tal situação. 

Foram fatores externos e aparentemente irreversíveis contra os quais ele não reunia condições para lutar contra. A banda também estava a ser prejudicada por essa situação, em sua ótica, portanto, a sua decisão em deixá-la pareceu-lhe ser a única solução que traria benefícios para todas as partes. Muito nobre e magnânimo da parte dele pensar dessa forma, mas é claro que a banda teve a sua parcela de culpa nessa história, ainda que de forma indireta e sem dolo ! 

A nossa estratégia adotada desde o final de 1984, revelara-se um desastre. Hoje, percebo que não tivemos uma outra solução naquela época, mas no calor dos acontecimentos, é óbvio que eu fiquei muito chateado com esse erro de estratégia, e assumo a minha parcela de culpa nessa história, pois definitivamente, fui um dos, senão o maior incentivador dessa iniciativa. Ameniza a minha consciência, o fato de que fiz / fizemos o que achei / achamos ser o melhor para a banda naquele instante. 

A banda teve prejuízos com tal decisão em tomar aquele rumo, sem dúvida. Mas como já expressei inúmeras vezes na narrativa, foi uma situação limítrofe para uma banda como a nossa. Só havia um caminho para chegar-se ao mainstream na década de oitenta : Pós-Punk. A opção por trilhar o caminho do Hard / Heavy foi o menos ruim, tão somente, e com a agravante de não ser um caminho óbvio para o mainstream, mas apenas uma aposta naquele momento. E essa aposta nunca concretizou-se, essa é a verdade.

Nem para os aficionados desses gêneros, pois não considero o sucesso do Sepultura em meios inimagináveis, como um caminho delineado, mas um caso à parte, motivado por outros fatores diversos, e que não acho que valha a pena ser esmiuçado nesta narrativa. Enfim, quando A Chave do Sol colocou esse peso no seu som, não dimensionou o fato de que seria um risco decepcionar os seus fãs antigos, acostumados ao anacrônico som setentista que fazíamos anteriormente, e sob forte acento calcado no Jazz-Rock, e pior, não angariaríamos o público aficionado das correntes do Hard / Heavy oitentista, a não ser em pequena proporção, e que seria desprezível em termos de estatísticas. 

Pelo lado humano, foi pior ainda conviver com a ideia de que perderíamos o companheiro Fran Alves, um colega muito gentil, munido de princípios; caráter, e vontade obstinada em construir uma carreira vitoriosa. O vilipêndio pelo qual ele fora submetido, foi triste e nesse aspecto, não tivemos como amenizar tal situação e convencê-lo de que deveria permanecer e arriscar um pouco mais conosco. Quem sabe um eventual segundo disco com essa formação, e alguns ajustes estéticos, não teria contornado os problemas que enfrentamos ? 

Por outro lado, sabíamos que em um eventual novo disco, aquele peso deveria ser coibido, não restou-nos dúvidas. Portanto, a solução melhor foi mesmo uma reestruturação, com nova mudança de formação, e orientação sonora. 

Acatamos a decisão do Fran Alves com muito pesar, por tudo o que já mencionei, e acertamos que os próximos três próximos shows que faríamos, seriam os últimos com a sua presença. Seriam realizados no Rainbow Bar, em duas datas (sexta e sábado), e um terceiro show ar livre no domingo posterior, para inaugurar uma nova praça pública criada pela prefeitura, no bairro das Perdizes, zona oeste de São Paulo.


Continua... 

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