sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Autobiográfica na Música - A Chave do Sol - Capítulo 225 - Por Luiz Domingues


Mesmo com a animação em torno do novo disco; oportunidades no rádio e TV; e sobretudo pela agenda em expansão, estávamos a sentir que o Fran estava muito incomodado com a reação dos fãs. Situação muito desagradável, pois tratou-se de manifestações espontâneas, e que teve um caráter viral, praticamente. E o pior de tudo : não tínhamos controle sobre tal, pois vinha na maior parte das vezes, da parte de pessoas que nem conhecíamos. O máximo que eu poderia fazer, seria evitar que cartas que contivessem críticas duras à sua pessoa, vindas de fãs, fossem lidas por ele. Nesse caso, como eu cuidava pessoalmente dessa correspondência, e tornara-se meu hábito diário passar pela agência do correio para apanhar o movimento do dia, houve essa possibilidade em construir-se uma espécie de filtragem estratégica. 

Ainda mais inconveniente, foi constatar que a despeito da opinião das pessoas ter que ser respeitada em via de regra, tal sentimento popular foi muito mais o fruto de uma birra, do que a formação de uma opinião sensata, baseada em argumentos lógicos. As perguntas que estabelecíamos para nós mesmos, foram : o Fran era mau cantor ? Desafinava ? Não tinha uma emissão vocal forte ? Detinha má dicção ? Ele não tinha alcance de oitavas ? Teria sido um mau intérprete ? Mau "frontman" ? Nada disso poderia ser aceito como argumento, pois sabíamos que ele era muito bom em quesitos técnicos. 

Talvez tenha sido prejudicado pela brusca mudança de orientação sonora e estética pela qual passamos, assim que adentramos em 1985, muito mais preocupados em aproveitar alguma suposta porta que abrir-se-ia por conta das oportunidades possíveis geradas pela euforia gerada em torno da realização do Festival Rock in Rio. Nesse fator, eu acredito, certamente. O fato da voz dele ser rouca poderia não agradar muita gente. Como eu já disse anteriormente, é uma mera questão de gosto, mas existe pessoas que não apreciam o estilo de Rod Stewart, mas alguém consegue cravar a opinião de que Rod seja uma mau cantor ? Tudo isso é análise a posteriori e cabível na minha autobiografia, todavia na época, no calor dos acontecimentos, tal índice de rejeição preocupou-nos duplamente, pois foi um claro prejuízo à banda, e um desgaste emocional ao nosso vocalista, que na minha ótica, não merecia ter absorvido todas essas críticas. 

Tirante o aspecto humano, pois sei bem o quanto ele sentiu, e também o quanto era uma pessoa gentil. Enfim, depois dos shows de lançamento do EP, a tensão nesse sentido, aumentou, e ele passou a demonstrar que não suportaria mais tal pressão. Um próximo compromisso avistou-se em outubro, no mesmo Lira Paulistana. Não tratou-se de uma produção do Antonio Celso Barbieri, tampouco nossa, pois havíamos recém lançado o disco novo, ali mesmo naquele teatro. Mas tratou-se de um convite irrecusável, pois seria uma série de shows comemorativos em torno dos seis anos de existência do Teatro Lira Paulistana. 

E assim, fomos escalados para o dia 22 de outubro de 1985, sem banda de abertura, nem divisão com outro artista. Não foi um grande público que compareceu nesse dia, mesmo por que havíamos recém realizado três shows ali mesmo, naquele mesmo palco. Cerca de cinquenta pagantes compareceram naquela noite, e para não dizer que esse show foi feito sem nenhum atrativo, usamos o "cenário da fechadura", mas sem a figura do homem que causara polêmica anteriormente, e o poeta, Julio Revoredo novamente participou do número do homem camuflado, que na verdade foi uma encenação instigante, porém bem fácil para ser produzida e encenada. Não fizemos muito esforço em termos de divulgação para esse show, é bem verdade, e isso reforça o conceito de que o baixo público presente, não poderia ter sido melhor, mesmo. O motivo de nossa suposta negligência nesse sentido, foi o fato de que teríamos dois shows para cumprir naquela mesma semana, e assim, consideramos a participação no show do Lira Paulistana, como uma oportunidade extra, já que as nossas baterias estavam centradas nos dois shows do final de semana. Muita coisa aconteceu nesse final de outubro de 1985, que provocaria uma mini revolução interna na banda, e logo mais, conto tudo em detalhes.


Continua...

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