quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 46 - Por Luiz Domingues


Nessa época, abril de 1981, passamos por uma fase com mais ensaios, para acrescentarmos novas músicas ao repertório. E a oportunidade surgiu quando o nosso baterista, Cido Trindade, disponibilizou-nos a sua casa, localizada no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo, para ensaiarmos inicialmente, às terças e quartas, no período vespertino. Com tempo para trabalhar, melhoramos e aumentamos o repertório, para torná-lo enorme, ao ponto de termos músicas extra para qualquer eventualidade. E um fato bizarro ocorreu nessa época durante os ensaios...
Em um certo dia, percebemos que um rapaz passava de um lado e outro da calçada, a olhar-nos com atenção a tocar na sala da casa, improvisada como estúdio. Como ensaiávamos com as janelas abertas e despreocupados com qualquer tentativa para coibir o ruído, já que os vizinhos suportavam-no sem reclamar, deixávamos tudo aberto para ventilar bem. Um dia, após várias vezes em que o flagramos a observar-nos, eis que o referido rapaz criou coragem e tocou a campainha a fim de abordar-nos. Não recordo-me de seu nome, mas sei que ele apresentou-se ao dizer-nos ser um compositor e por observar-nos por dias, animou-se a abordar-nos, e assim, pedir-nos que o ajudássemos a gravar duas músicas de sua autoria, pois visava inscrevê-las em um festival de MPB.

Infelizmente, as canções do rapaz eram muito fracas, com harmonia e melodias pobres, letras com forte teor brega / romântico. Bem, aceitamos ajudá-lo, e aí o Sérgio Henriques e o Aru Júnior elaboraram um arranjo praticamente Prog-Rock nas músicas do rapaz ! Claro que o sujeito não entendeu nada, mas o fato é que gravamos as duas canções, com belos arranjos para ambas, que quase mascarou a sua condição simplória. E de fato, com duas guitarras; baixo; bateria e teclados, eis que ficaram quase irreconhecíveis. E foi além essa história, pois em determinada apresentação nossa (infelizmente, não lembro-me em qual, especificamente), ele apareceu e nós tocamos as suas duas canções ao vivo. Nunca mais tive notícias dele, apesar de supostamente ele ter alegado morar perto da minha residência e também do Cido Trindade, na ocasião. Nem ao menos sei se as músicas por nós gravadas, foram classificadas em tal festival.

Continua... 

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