segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 121 - Por Luiz Domingues


No dia 7 de junho, o show atraiu a mesma quantidade de pagantes da noite anterior, cem pessoas. Não lembro-me de nenhuma apreensão por parte dos contratantes, e não foi mesmo para preocupar-se, pois no dia seguinte, a melhora foi vertiginosa. Também não recordo-me de nenhuma ocorrência excepcional nesse show em específico. Na minha lembrança, foi um show normal, sem nada a relatar em especial. A despreocupação dos contratantes em relação ao público pagante, a revelar-se apenas razoável nos dois primeiros dias, justificou-se quando chegamos ao terceiro dia da mini temporada. Foi o dia 8 de junho de 1984, e duzentas e oitenta pessoas passaram pela catraca do Circo Planetário. Foi um show com quase o triplo do público das duas noites anteriores, para justificar toda a confiança depositada no evento, e certamente para a banda, também. 
Claro, com mais gente, o show naturalmente foi animado, e após esse espetáculo, fomos convidados a realizarmos uma mini apresentação em um bar de Jazz em Ipanema, que era frequentado por jornalistas. Foi um convite do cartunista, Chico Caruso, muito amigo dos componentes do Língua de Trapo. Apesar de todo o esforço do Chico para que os seus pares entendessem a nossa proposta, ficou um clima um tanto quanto estranho, pois ali seria mais um reduto para os amantes do jazz, e a nossa música centrada no humor, não caiu nas graças de seus habitues, de forma arrebatadora. Também, convenhamos, o estado alcoólico da maioria ali presente, já estava avantajado, e sob um ambiente sofisticado daqueles, não foram bebidas baratas, que gostaram em consumir. 

Depois que voltamos, escoltados por caronas, resolvi dar uma volta no calçadão da praia de Ipanema, por estar acompanhado de uma presença feminina, que  eu conhecera no bar dos jornalistas, quando a conversa teve que ser abreviada. Alertada por tal moça, vi a perigosa aproximação de uma porção grande de garotos menores de idade, e em atitude suspeitíssima, a caminhar em nossa direção. Em plena madrugada, cabelo comprido no meio das costas e com a pele branca, sem nenhum resquício de bronzeamento, eu devia ser um chamariz para assaltantes, ao julgar-me naturalmente, um turista estrangeiro. Nada aconteceu, pois saímos rápido dali, e ficou por isso. Anos depois, quando frequentei o Rio de Janeiro com muita regularidade, por conta de uma namorada que ali arrumei, acostumei-me a ser confundido como argentino, por conta de minha pele clara, e o cabelo longo...


Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário