sábado, 16 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 130 - Por Luiz Domingues


Amenizou tal melancolia que eu estava a sentir pela proximidade de minha despedida, o fato de que do outro lado, a euforia dentro d'A Chave do Sol estava grande, por tudo o que estávamos a viver naquela fase. O paralelo dessa mesma época, está devidamente relatado nos capítulos daquela banda, portanto, não repetirei aqui, evidentemente. De volta ao Língua de Trapo, teríamos três dias no Centro Cultural São Paulo.

A Sala Adoniran Barbosa, teatro de arena e todo envidraçado no qual ocorriam os shows musicais, estava nessa altura, já sedimentada como um espaço para shows na cidade, com espetáculos de quarta a domingo, a todo vapor, e a dar espaço para artistas oriundos de diversos gêneros musicais. 

Nota no jornal Folha de São Paulo sobre a mini temporada no CCSP (Centro Cultural São Paulo), julho de 1984. Acervo de Julio Revoredo

E longe de ser um espaço destinado somente à artistas underground ou emergentes, costumava ter em cartaz, também artistas do mainstream da música. Enfim, não poderia ser um melhor palco para a minha despedida, com a possibilidade de uma mini temporada, ao invés de um show avulso, pois nessa minha segunda passagem pela banda, o que mais marcou-me, sem dúvida, foi a capacidade do Língua de Trapo, em estar em cartaz por temporadas, sempre a atrair um grande público. Sonho de consumo para qualquer artista, estar em temporada, além do prazer imenso que proporciona, é também um óbvio fator de segurança na carreira. E falo isso, não só pelo aspecto financeiro, mas também pelo aspecto da estabilidade emocional, e pelo prazer artístico que tal existência de uma agenda cheia, proporciona. O primeiro show dessa mini temporada, ocorreu na sexta-feira, dia 6 de julho de 1984.

Para quem conhece esse teatro, sabe bem que trata-se de uma arena quadrada, parecida com um ringue de boxe. Portanto, o público acomoda-se pelos quatro cantos, e o artista apresenta-se com o público a visualizar de frente, pelos lados e pelas costas. Dessa forma, uma opção para artistas que incomodavam-se com o público às costas (e pelo ponto de vista do público, de fato, é chato pagar um ingresso no mesmo valor de quem assiste de frente, não acha ?), seria apresentar-se de costas para a escada. Dessa forma, minimizava-se esse problema, ao fazer com que só o público do andar superior fosse um pouco prejudicado, visto que no andar inferior, não havia assentos nesse lado, pela existência da escada. Mas essa logística vinha terra abaixo, quando o teatro lotava, pois pessoas acomodavam-se pelas escadas e amontoavam-se em pé, atrás dela, e pelos seus lados. E foi o que aconteceu nos três dias de shows do Língua de Trapo, nessa temporada. 
Optamos por essa estratégia da escada, mas a nossa motivação não foi apenas por ser desagradável montar o palco de uma outra forma, mas pelo fato da escada ser a mais amena possibilidade para a exibição das vinhetas de cinema. Só ali seria plausível colocar a tela de projeção, a objetivar o menor número de pessoas prejudicadas pelo "ponto cego". E foi assim que colocamo-nos no palco, para os três shows dessa mini temporada. Foi um show energético, pelo fato de estar super lotado. As risadas geradas pelas piadas, reverberavam de uma forma absurda. Em uma época onde as normas de segurança não eram muito rigorosas, teatros como o CCSP, superlotavam costumeiramente. Isso acontecia praticamente em todos os lugares, vide o que acontecia no próprio Teatro Lira Paulistana, cujas paredes "suavam", literalmente, por conta da superlotação e falta de ventilação. Dessa forma, foi cerca de oitocentas pessoas, nesse primeiro dia (6 de julho de 1984).

Nota na Folha de São Paulo publicada no domingo, dia do último show meu com o Língua de Trapo, no CCSP

Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário