terça-feira, 1 de abril de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 102 - Por Luiz Domingues

E no lado B do compacto, traríamos a música : "18 Horas", pior ainda... um tema instrumental com influência Jazz-Rock, cheio de convenções e solos enormes, portanto um verdadeiro alienígena naquele mundo dominado pelas ideias da estética Pós-Punk, esta fechada em instrumentais medíocres; vocalizações monocórdicas, e posturas robóticas, ao som de timbres de plástico propositais em sua produção de áudio. Então, já a partir de março de 1984, estávamos a trabalhar em sonoridades diferentes para novas músicas a visar deliberadamente uma reformulação da proposta sonora da nossa banda. Os arranjos elaborados e plenos em detalhes a privilegiar a divisão rítmica mais sofisticada, prosseguiram, mas o peso começou a ser observado, e passamos também a evitar ficar só em temas instrumentais. 

Concomitantemente, iniciamos esforços para tentar achar um vocalista que adequasse-se a tal plano de expansão. A ideia foi achar um postulante com voz potente, mas com carisma também, e consequente domínio de palco. E claro, tinha que ter boa aparência, fundamental para um frontman...
Em um primeiro impulso, colocamos um anúncio no jornal "Primeiramão", mas sem assinar o nome da banda, pois nessa época já estávamos com um nome na praça, graças as quatro aparições na TV, e prestes a lançar um disco. Dessa forma, alguns candidatos fizeram contato, e certo dia, mais ou menos entre março e abril de 1984, marcamos um teste com vários desses candidatos. Foi em uma segunda-feira, lembro-me, e é uma pena que não tenhamos filmado tal experiência bizarra.

Foi uma autêntica "Buzina do Chacrinha", com alguns tipos inacreditavelmente ruins e bizarros, que ali estiveram presentes. Destaco um sujeito que chegou vestido com terno e gravata; aparência de nerd e cheio de arrogância. Tinha postura de quem chegara para assinar contrato e assumir o posto, a ignorar rivais. No entanto, foi horrível em seu teste musical e por algum tempo ficamos a considerar que ele talvez tivesse ido ao nosso ensaio para provocar-nos, por escárnio ou outro motivo escuso, pois mostrou-se inacreditável como foi ruim a sua performance. Só pode ter sido uma pilhéria aquele sujeito dizer-nos ser um vocalista de Rock, com aquela completa falta de noção musical. Este rapaz foi bizarro pela postura altiva e petulante, mas a maioria revelou-se horrível também, e não precisava nem de um compasso no pentagrama, para vermos que não tinham condições nem de cantar no chuveiro. Alguns não sabiam nem onde entrar no ritmo, sem noção alguma de pulsação, e em relação a afinação, melhor nem falar muito, pois nem sabiam o que significava tonalidade. Entre tantos bizarros (sumariamente convidados a retirar-se), selecionamos apenas três, para posterior avaliação. Foi dois rapazes e uma garota, os mais razoáveis nessa sessão torturante.

Sobre a garota, foi até engraçado, por que veio acompanhada com uma mini torcida uniformizada. Tratou-se de um grupo de lésbicas, apreciadoras da MPB. Até aí, sem problema e sem preconceito. Mas foi engraçado ver que enquanto ela fazia o teste (cantou uma canção da Rita Lee & Tutti-Frutti : "Mamãe Natureza"), a namorada dela, e as amigas, vibravam e incentivavam, como se estivessem em um festival de calouros. Ela não era ruim, mas não foi o que queríamos, pois se fosse para ter uma vocalista mulher, teria que ser alguém ao nível da Verônica Luhr, nossa segunda vocalista (ao considerar-se que Percy Weiss fora o primeiro, leia os primeiros capítulos se perdeu tal informação). E não foi o caso, pois essa moça mostrou-se até afinada, mas a sua voz não era para o Rock, seu atributo valia melhor para a MPB, com teor mais intimista. Quanto aos dois rapazes, gostamos mais. Não foram espetaculares; não tinham visual Rocker, mas possuíam um certo potencial e portanto, convidamos os dois a fazer um novo teste posteriormente, e daí decidiríamos.


Continua... 

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