Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 15 - Por Luiz Domingues

Quando a MTV foi inaugurada, em outubro de 1990, o som que mais propagou foi o grunge de Seattle, e o Funk-Metal californiano. Fora a onda daquele momento.

O Pitbulls on Crack, teoricamente era indie, e corria sob uma terceira via, obscura aos padrões da época, versada pelo underground britânico, ou seja, o Indie noventista, derivado do Pós-Punk oitentista. Mas houve um ponto de similaridade com o grunge de Seattle.

Isso se analisarmos o grunge como uma árvore com dois galhos primordiais. Em um deles, a orientação foi o Hard-Rock setentista e  britânico, e nessa fonte, foram beber bandas tais como : "Soundgarden"; "Alice in Chains" e "Pearl Jam". E no outro galho, bandas como, "Mudhoney"; "Sonic Youth", e "Nirvana", seguiram a cartilha do Punk -Rock '1977. Nesse caso, essas três bandas tinham a admiração do Chris; Pastor e Deca, mas não a minha, por fatores notórios. Eu sempre achei o Nirvana, um embuste. Um dos casos mais gritantes de superestimação da história, e um mero continuísmo do punk-rock sofrível. Infelizmente, tornou-se o maior expoente do movimento em mais uma caso de inversão de valores.
Ao chegarmos ao final de 1992, os boatos ficavam mais fortes sobre estarmos entre as bandas escolhidas para constar na coletânea da gravadora Eldorado.

Enquanto isso, cumprimos os dois últimos shows do ano : no dia 9 de dezembro de 1992, em uma casa chamada : "Cadeira Elétrica", para um surpreendente público formado por cerca de cem pessoas, e ao considerar-se o fato de ter sido um dia útil. E o gran finale de 1992, foi um show de choque, em um Festival com várias bandas, promovido pela 89 FM. Esse convite veio a calhar, pois selara o ano de 1992, com um show para uma multidão.

Esse show de fim de ano da Rádio 89 FM, era tradicional da emissora (a sua concorrente, Brasil 2000 FM, também produzia uma festa de final de ano com várias bandas autorais, curiosamente na mesma casa de shows), e costumava reunir uma multidão em uma casa noturna no bairro da Barra Funda, chamada : "Broadway". E não foi diferente nessa edição de 1992. Fomos a abertura do show e por conta disso, o público estava muito agitado. Havia três mil pessoas a acotovelar-se dentro da casa, quando subimos ao palco, e no primeiro acorde da primeira música, ficaram ensandecidos. Claro que não era nenhuma comoção especial para o Pitbulls on Crack, mas o fruto pela excitação para ver começar logo o show; com o forte calor que fazia em dezembro, e com aquela aglomeração humana. Nesse show, tocaram bandas da nova e velha cena paulistana, tais como : "Golpe de Estado"; "Inocentes"; "Não Religião"; "Rip Monsters"; "Viper"; "Yo-Ho-Delic"; "Volkana", e nós, Pitbulls on Crack. Eu não tinha a ilusão sobre tal comoção ser referente à nossa presença, pois éramos uma banda a dar os seus primeiros passos, ainda, mas certamente pelo fato de tal contingente estar ansioso pelo show, e ao primeiro sinal de som na caixa, explodiu sob um frenesi !
Lamento muito, mas as fotos desse show foram perdidas, portanto, fico a dever ilustrações, para corroborar a minha narrativa.

Essa foto é de 1993, no camarim da casa : "Rádio Show", mas mostra os roadies que auxiliavam-nos naquele período 1992 / 1993. O José Reis é o rapaz de óculos; e o Luis Gustavo, está agachado, a usar uma camiseta escarlate.

Uma história engraçada sobre esse show : um garoto tentava escalar o palco para mexer nos pedais do nosso guitarrista, Deca. Chegou bem perto disso duas vezes.

Na terceira tentativa, o meu amigo, José Reis, que trabalhava como roadie do Pitbulls on Crack, deu um murro no queixo do infeliz, que voou (literalmente), para ser amparado pelo público. O soco foi tão forte que eu ouvi o ruído desse impacto, embora o som no palco estivesse altíssimo. Temi por uma confusão generalizada, mas nada ocorreu. Não paramos de tocar, e o Chris teve uma crise de riso ao ver essa cena bizarra. Esse rapaz deve ter aprendido a lição, e nunca mais tentou sabotar um artista no palco.

Outra história engraçada desse show, deu-se quando um rapaz com visual punk, surgiu do nada, vindo a correr pela coxia e convenhamos, o que  poder-se-ia esperar de um sujeito com aquela mentalidade truculenta e cheio de preconceitos contra tudo e todos (mas desta vez o julgamento e preconceito foi da nossa parte), mas surpreendentemente, seu objetivo fora pacífico e prosaico até, eu diria, pois ele abraçou o Chris, dentro daquela prerrogativa de que ele era adorado pelos admiradores do Punk Rock, graças a sua experiência pregressa como componente da banda britânica, Cock Sparrer. Claro que o Chris assustou-se, mas desta vez o propósito de um invasor de palco foi amistoso, e o José Reis não precisou exercer seus dotes como pugilista...

Continua...