sábado, 19 de abril de 2014

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 14 - Por Luiz Domingues

Para você, caro leitor, ter uma ideia de como a cena paulistana estava ligada ao movimento Grunge de Seattle, ao final de 1992, entrou em cartaz no circuito de cinema comercial, um filme do diretor norteamericano, Cameron Crowe, chamado : "Singles" (em português, deram-lhe o seguinte título : "Vida de Solteiro" ). 

Tratou-se de um comédia romântica, bem "água-com-açúcar", sem maiores atrativos, se não fosse ambientada em Seattle (com o personagem principal, interpretado pelo ator, Matt Dillon), e que este personagem em questão, não fosse guitarrista de uma banda ao estilo "Grunge" (no filme, a banda do personagem, foi o Pearl Jam verdadeiro, mesclado com componentes de outras bandas dessa cena).

Com tomadas a exibir várias bandas daquela cena a tocar em casas de médio porte, chamou a atenção dos músicos que seguiam aquele espectro artístico, e faziam a cena paulistana, concomitantemente. Fui ver, achei o filme fraco, pois tratou-se na verdade de uma comédia romântica com espectro para ser exibida na "sessão da tarde", bem típica daquelas que você assiste só um trechinho na sala de espera do seu dentista (embora eu adore o diretor, Cameron Crowe, que depois fez : "Almost Famous", este sim, um grande filme ambientado no mundo do Rock setentista). Na sala de cinema onde fui assistir, membros de bandas como : "Yo-Ho-Delic"; "Mighty Sound Jungle", e "Anjos dos Becos" estavam presentes na sessão em que estive presente igualmente. Chegaram a dar gritinhos entusiasmados em alguns trechos onde apareciam as bandas de Seattle em ação.

Em uma determinada cena, o personagem do ator, Matt Dillon apareceu no cemitério onde Jimi Hendrix foi enterrado. Quando o close na placa de sua tumba encheu a tela, gritinhos foram ouvidos no cinema. Nessa hora, fiquei até surpreendido, pois naquela altura dos acontecimentos, demonstrar-se reverência a um ícone sessentista, foi um alento e tanto, além de inusitado, após tantos anos de vilipêndio ao Rock 1960 / 1970, através da mídia mal intencionada. Quanto ao movimento "grunge", isso evidentemente não dizia-me nada. Tirante um som "aqui e ali" do "Soundgarden"; "Alice in Chains", ou "Pearl Jam", o grunge não comovia-me. Curiosamente, o maior expoente do movimento, o tal de "Nirvana", na minha avaliação não passava de um continuísmo do Punk Rock oitentista, e para corroborar a minha impressão, claro que a "intelligentzia" estendeu o seu tapetinho vermelho indevido para esses elementos... e eu só lamento.

O único mérito que eu enxergava nesses artistas de Seattle fora um certo resgate dos Riffs setentistas; "som de homem", para quebrar a "Era" daqueles efeminados blasè, oriundos da sequela do Pós-Punk britânico que dominara a década de oitenta, e o resgate dos instrumentos vintage, embora isso não fosse algo proposital, pois mesmo de forma involuntária, o fato é que esses garotos de Seattle provocaram no mercado, a vontade em tocar-se com instrumentos genuínos, novamente. Após amargar aqueles dândis oitentistas a perturbar-nos com a sua insipidez musical atroz, e seus instrumentos de brinquedo, na década anterior, esses rapazes de Seattle apareceram a empunhar Fender; Gibson e Rickenbacker, um alento aos nossos ouvidos. Dessas bandas paulistanas que eu citei, o Yo-Ho-Delic fora a mais cotada para entrar na coletânea da gravadora Eldorado. Tocavam em todas as espeluncas do circuito Indie da cidade, pelo menos desde 1991. Mas foram atropelados na reta final. Depois eu conto o motivo de sua exclusão dessa oportunidade...
Continua...

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