sábado, 21 de junho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 123 - Por Luiz Domingues

 

O show seguiu normal até a quarta ou quinta música, não recordo-me ao certo, até que a segunda intervenção cênica ocorresse. E foi aquela que descrevi anteriormente, sobre a perseguição e captura de um estranho personagem. Os "atores" posicionaram-se naquele espaço físico do teatro, entre a entrada da arquibancada e o hall de entrada do mesmo. No primeiro dia, foi tranquila a entrada, pois não haviam muitas pessoas em pé naquele instante, posicionadas ali. 

A entrada em cena ocorreu durante o solo de bateria da música : "18 Horas", reforçada então pelo fato de que eu e Rubens estávamos quietos e fora dos focos de luz, com toda a ênfase do show no solo de bateria do Zé Luiz, nesse específico trecho. O personagem perseguido entrou e escondeu-se atrás do surdo da bateria, com o Zé Luiz a empreender o seu solo, e a esforçar-se para não esboçar reações de espanto pela ação dos atores. 

Os três perseguidores vieram a seguir, e fizeram uma simulação tensa, que causou um frisson na plateia. Lembro-me de ver várias pessoas a cutucar-se mutuamente para chamar a atenção uma das outras e até algumas a levantar-se da arquibancada do Lira Paulistana, talvez sob uma reação em espasmo de alerta, sem entender o que aquilo significava, exatamente. Como já disse antes, uma performance dessas poderia suscitar diversas interpretações na imaginação das pessoas. Do ponto de vista do espectador, seria totalmente plausível acreditar que aquilo poderia ser uma briga real e a perseguição iniciada na Rua Teodoro Sampaio, completamente alheia ao show. Nesse caso, essas pessoas estariam ali meramente por acaso, como em cenas de perseguição de filmes de ação, onde brigas acontecem em lugares inusitados em meio à pessoas que não tem nada a ver com isso. 

Não ocorreu nada errado, mas poderia ter acontecido, hoje eu enxergo essa possibilidade. Alguém poderia tentar intervir, por exemplo. E se houvesse um policial na plateia ? O instinto de um profissional desses seria o de agir, por exemplo. Além da possibilidade de uma instauração de pânico no ambiente. Bastaria uma pessoa a assustar-se e sair a correr, para deflagrar uma ação desse porte e nas condições precárias de escoamento do Lira Paulistana, poderia tornar-se uma tragédia. Hoje em dia, eu não arriscaria empreender uma sketch assim, em um show meu. Todavia, nada ocorreu de errado nos dois dias, e cenicamente a falar, causou um efeito muito interessante para o público.


Continua... 

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