sexta-feira, 20 de junho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 122 - Por Luiz Domingues


O som lounge ambiente, foi na verdade, o clima pré-show para fornecer o momento para começar a performance. Foi estratégico e cronometrado, combinado com o técnico do P.A., Can Robert, que tornar-se-ia doravante, nosso amigo e operaria a banda em alguns shows inclusive fora do ambiente do Lira Paulistana, também, no futuro. Já faz anos, o Can Robert é técnico fixo dos Titãs, e naquela época, trabalhava com Os Inocentes, e diversas outras bandas da cena Punk e do Pós-Punk. Todavia, apesar de sder um mundo antagônico ao nosso, Can era um sujeito que apreciava a sonoridade anos 1970 e sob segredo, sem que seus amigos punks soubessem, gostava de bandas Prog Rock setentistas, fator proibido naquele tempo... tanto que quando estava a operar o nosso som, ele enlouquecia com o som do Pink Floyd, que era o tema chave em nosso lounge e deixa para começar o nosso show. 

E a contagem, foi o tempo certo em executar-se um lado de uma fita K7, com sons escolhidos por nós, em torno de canções de bandas ao estilo Prog Rock e Jazz Rock setentistas, em sua maioria, e quando chegava no auge do grito do Roger Waters, na música : "Careful With the Axe, Eugene", do Pink Floyd, as luzes apagavam-se e o show começava. 

Fotos do poeta, Julio Revoredo, a mostrar eu, Luiz Domingues e Rubens Gióia, na saída de emergência do Teatro Lira Paulista, em julho de 1984.

Mas o público esperava que nós entrássemos e iniciássemos de forma tradicional, apenas a apanhar os instrumentos e passarmos a tocar, no entanto, o que viram, foi o Celso "Esponja" Bressan e o Claudio "Capetóide" de Carvalho, nossos atores amadores e voluntários, a entrar no palco, ao carregar um tapete persa, enrolado. E dessa forma, o jogaram-no ao chão e ao desenrolá-lo, saiu a exótica figura de Edgard Pucinelli Filho, a declamar o intrincado poema de Julio Revoredo : "A Formiga". 

As reações foram novamente díspares e interessantíssimas, tal qual a reação inicial causada pelo punhado de açúcar distribuído individualmente. Pessoas caíram na gargalhada; outras ficaram atônitas; um ou outro grito com a expressão : "Chave" (certamente a exprimir o desejo para entrássemos e fizéssemos um show de Rock tradicional e assim poupar-lhes em ter que presenciar um teatro nonsense...), além de pessoas a provocar diretamente o Edgard etc. Foi o que quisemos provocar, em princípio, como reação das pessoas. E nestes termos estávamos a lograr êxito. Todavia, nem tudo foi positivo... 
Rubens clicado pelo poeta, Julio Revoredo, na porta do Lira Paulistana, no dia do primeiro show de lançamento de nosso compacto, em 30 de julho de 1984. Click; acervo e cortesia : Julio Revoredo

Pelo fato de ser amadores, os amigos, Celso e Claudio, entraram em cena nervosos, com a adrenalina a mil, e não colocaram o tapete no chão com o cuidado com o qual ensaiaram na residência do Rubens, em ensaios prévios que promovemos. E sendo assim, quando o tapete tocou o solo, o Edgard soltou um grito a denotar dor e ao sair do tapete, com a sua face toda amassada e assustado, causou risadas. Até perceberem tratar-se de uma performance, demorou um pouco. 

Eu, Luiz Domingues, na porta do Lira Paulistana no dia do primeiro show de lançamento do compacto, em 30 de julho de 1984. Click, acervo e cortesia do poeta Julio Revoredo

E ele também gaguejou no início de seu monólogo, e só veio a conseguir o foco, alguns segundos depois. Contudo, no cômputo geral, foi uma excelente atuação, pois ele era performático naturalmente e carismático, sem dúvida. A seguir, as luzes apagavam-se e nós entrávamos e começávamos a tocar.


Continua...

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