domingo, 22 de março de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 237 - Por Luiz Domingues


Não deu outra, o sujeito sucumbiu após a realização do soundcheck, e nós optamos por deixá-lo a dormir, pois ele não reuniria condições em recuperar-se da embriagues, a tempo de operar o som da banda na hora do show. Resultado : fizemos o show sem a presença dele na pilotagem dos botões. O técnico local não era nenhuma sumidade no quesito da capacidade em operar o áudio, mas trabalhou razoavelmente. 

Nessas circunstâncias, demo-nos por felizes em contar com um profissional a coibir a incidência de microfonias básicas, pois todo o nosso esforço em levar um técnico nosso, que conhecia as músicas e poderia dar-nos ao luxo de uma pilotagem a trabalhar com o volume estratégico nos momentos cruciais dos solos & afins, fora para o ralo. Como poderíamos suspeitar que o rapaz não conter-se-ia ao cair na armadilha da fartura interiorana, e com direito ao típico expediente : -"experimente esta aguardente da região" ? 

Enfim, nem ficamos chateados com o rapaz, mas é claro que ficamos desapontados e na volta à São Paulo, ele mostrou-se bem constrangido a pedir-nos mil desculpas pelo ocorrido etc. O show foi bom, ao considerar-se que aquele dito festival não atraíra um público interessado em bandas focadas na música autoral. A maioria ali presente, esperava bandas cover, e o clima era o de um "churrascão de fazenda", com todo mundo a desejar mais a festa explícita, ao som de covers internacionais. Todavia, eu não posso queixar-me, pois se o público portou-se de uma maneira fria, toda a hospitalidade dos produtores foi ótima (até no mau sentido da pinga farta oferecida sem critério); o cachêt acordado foi pago em dinheiro vivo, e regiamente, meia hora antes de subirmos ao palco, isto é, algo raro em meio às transações regulares praticadas no meio "underground". 

Apesar do dia bom em termos climatológicos, com sol; calor; e consequente noite de céu aberto e estrelado, o público esperado pelos organizadores foi aquém. Cerca de quinhentas pessoas estiveram presentes. Se fosse um teatro a contar com porte médio, ou uma casa noturna, eu diria tratar-se de um número excelente, mas para um festival realizado em uma chácara ao ar livre, decepcionou. Estávamos no dia 15 de novembro de 1985, uma sexta-feira de eleições, com feriado nacional decretado. Só para constar, houve eleição municipal nesse dia, e todos, tivemos que votar bem cedo para poder viajar ao interior. Botucatu fica a duzentos e quarenta e cinco Km de São Paulo, ou seja, a tratar-se de uma distância razoável. 

 

As pesquisas davam como certa a vitória de Fernando Henrique Cardoso à prefeitura de São Paulo, e sob um ato tresloucado, o candidato virtualmente eleito, FHC, deixou-se fotografar no gabinete de prefeito, sentado imponentemente como se já estivesse eleito, um dia antes da eleição.

Tal foto saiu na capa do jornal, Folha de São Paulo, no dia da eleição, e quando o resultado oficial apontou o outro candidato, Jânio Quadros, como o vencedor oficial, a sua primeira atitude, muito deselegante por sinal, foi querer ser fotografado com um desinfetante spray à mão, a higienizar a poltrona de prefeito, ocupada indevidamente por FHC, um dia antes. Um dos outros atos deselegantes que esse senhor perpetraria, já como prefeito a seguir, foi o de perseguir, até fechar implacavelmente, o teatro Lira Paulistana. Preciso dizer mais o que achei dessa vitória dele ?

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário