sexta-feira, 6 de março de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 70 - Por Luiz Domingues


Vínhamos de um hiato de meses sem shows em nossa agenda. Os nossos esforços empreendidos no segundo semestre de 1995, foram para viabilizar a possibilidade de um novo disco e como já falei, a demandar várias reuniões com a cúpula da gravadora Velas / Primal, e a frustrada tentativa para começar a gravar o disco em um precário estúdio em Santo André / SP. Porém, uma perspectiva de show surgiu, para fevereiro de 1996, em meio à nossa busca de um novo estúdio para gravar enfim o disco.
Enquanto não entrávamos de vez para gravar o novo CD, em um diferente estúdio e que estávamos a buscar, houve uma oportunidade para realizarmos um show nesse ínterim. Foi de uma forma quase fortuita que surgiu essa oportunidade. Seria um show com cachet fixo, mas em caráter gratuito para o público que obteria ingressos mediante a doação de alimentos para entidades filantrópicas. Realizou-se na Casa de Cultura do Ipiranga, um equipamento da prefeitura de São Paulo, localizado no simpático e tradicional bairro paulistano homônimo. Ocorreu no dia 11 de fevereiro de 1996 e infelizmente foi bastante mau divulgado, e portanto, não atraiu muita gente, para fechar o número final do borderô em sessenta pessoas. A Casa de Cultura do Ipiranga era (é) um espaço grande e certamente aquelas sessenta pessoas ficaram dispersas, ao dar-nos a impressão de um evento morno. Um fato interessante deu-se com a abertura de uma banda chamada : "Green Stuff" (outra outra banda que participou também, chamava-se “Reaven’s Sake”), que tocou uma ou duas músicas próprias apenas em meio à diversos covers. O que despertou a minha atenção todavia, foi o teor dos covers, pois só executaram Rock setentista de qualidade, incluso uma música do Humble Pie (“Thirty Days in a Hole”), com direito à uma intervenção sob harmonia vocal “a capella”, igual à que a espetacular tropa de Steve Marriott costumava fazer. Sinais "vintage" assim, preenchiam-me com esperança por dias melhores...  


No início de 1996, insistíamos por essa busca em torno de um estúdio e conforme eu afirmei no último capítulo, chegamos à conclusão de que a solução do impasse seria mesmo tentar um acordo com o estúdio, "Spectrum", onde ensaiávamos. Um dos donos (um rapaz chamado, Ítalo), era extremamente gentil e aceitou de pronto a parceria, todavia, o outro (chamado Alcir), era mais difícil para lidar-se, e demorou um pouco para ele ceder, mas culminou em lograr-se êxito ao final, apesar da demora para a conclusão da tratativa.

Na sala da técnica, Ítalo, um dos proprietários do Estúdio "Spectrum"

A gravadora fez contato, e uma aliança tripla foi selada, com o Estúdio Spectrum a estender o seu patrocínio de ensaios à metade dos custos da produção para gravarmos o disco, e a outra metade a ser paga em dinheiro pela gravadora, após o lançamento do disco. Foi um bom acordo, sem dúvida alguma e se o estúdio era simples, e mais preparado para a gravação de demo-tapes, havia a boa vontade em dar-nos tempo de sobra para gravar com calma, sem atropelos. Contudo, havia muitos maneirismos ali naquele estúdio. Por exemplo, ao fugir do padrão normal dos estúdios, o Spectrum realizava sessões com apenas quatro horas de duração. Quem está acostumado a gravar em estúdio, sabe que é um tempo contraproducente, pois quando o trabalho começa a deslanchar, o período finda-se, a gerar uma espécie de anticlímax.

     Pelo monitor, víamos o nosso baterista, Juan Pastor a gravar...

Um outro ponto negativo foi que por ser adaptado em uma antiga residência, o estúdio mantinha a "casinha" da bateria, em um quarto fechado, e a comunicação visual com o baterista só era possível mediante o uso de câmera e monitor de TV. É evidente que isso gerava transtornos. E o pior de tudo, o técnico que operou e mixou (Luiz de Caro), era gentil e competente, mas detinha suas manias e concepções musicais muito personalizadas e das quais tentava impingir-nos os seus conceitos, goela abaixo. Não fazia por mal, eu sei, e pelo contrário, desejava colaborar ao máximo, ao ofertar-nos as suas referências prediletas, mas esse choque estético entediava-nos, pois o Pitbulls on Crack não poderia soar como o "Toto"; "Journey"; "Joe Satriani", e outros artistas similares que ele admirav, pois nada disso fazia sentido para o nosso som. O mesmo fenômeno ocorreu na hora da mixagem, quando o outro dono, que era mais conservador (chamado, Alcir), quis participar a comandar as sessões de mixagem, e nesse caso, as suas referências eram ainda piores, quando citava-nos o Pop insosso dos anos 1980, com nomes como, "Tears for Fears"; "Frankie Goes to Hollywood", e "Culture Club", entre outros, dessa forma, a ser sugeridos como referências para nós. Por outro lado, diante do que passamos em relação ao estúdio anterior, onde nenhuma nota sequer fora gravada, todos esses incômodos foram de pequena monta, e ficamos alegres quando fechamos a gravação ali. Atropelei a narrativa um pouco com algumas considerações, mas retomo daqui...



Continua...

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