segunda-feira, 2 de março de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 64 - Por Luiz Domingues

Enquanto a negociação com a gravadora Velas caminhava, de uma forma muito positiva, e já a poucos passos de uma resolução, fizemos mais um show no Black Jack Bar, dividindo a noite com outras duas bandas. Nessa noite de 29 de julho de 1995, tocamos juntamente com o "Cheap Tequilla", e o "Motorcycle Mama" (que foi encaixado no evento em cima da hora, portanto a ficar fora da divulgação, como vê-se no cartaz acima), com um ótimo público de trezentas pessoas presentes, aproximadamente. Praticamente fechado o contrato com a Velas / Primal, só faltou mesmo assinar e protocolar no cartório, burocracia que ocorreria de fato, alguns dias depois.

Já preparávamo-nos para entrar no ritmo de estúdio, escolher o repertório e preparar a pré-produção. Mas um novo compromisso apareceu antes de mergulharmos nessa produção. O baterista, Juan Pastor, fechou para nós, um show de choque dentro da "Feira de Música". Apresentar-nos-íamos no stand de uma empresa chamada, "Advance", fabricante de potências para P.A.

O evento ocorreu no último fim de semana de agosto, do ano de 1995, no Expo Center Norte, um gigantesco espaço localizado no bairro de Santana, na zona norte de São Paulo, onde geralmente ocorrem Mega-Feiras com expositores. Estávamos escalados para apresentarmo-nos ao final da tarde do dia 27 de agosto de 1995. Soubemos ali na hora, que uma das bandas que também apresentar-se-ia, seria o "Raimundos". Outras que apresentar-se-iam também, seriam "Mundo Livre", e "Little Quail", entre as quais lembro-me. É difícil recordar-se daquelas bandas, pelo seu suposto "legado" que não seja pelo aspecto negativo, primeiro pela uniformidade sonora; segundo por um conjunto de signos inerentes dos quais nem preciso arrolar, acredito, absolutamente antagônicos aos valores verdadeiros do Rock.

Quando fomos informados por alguém da produção que tocaríamos depois dos Raimundos, recebemos também a orientação para permanecermos do lado de fora do stand, pois não havia nenhuma estrutura com camarim para aguardarmos a nossa vez para atuar. Tratava-se de uma estrutura fechada, a parecer um container de navio de carga, sem ventilação alguma, e onde cabia aproximadamente duzentas pessoas. Naturalmente, estourados na mídia como estavam, os Raimundos superlotaram o improvisado micro-teatro, ao deixar muita gente de fora, o que causou um pequeno tumulto, com pessoas a forçar a entrada. Com isso, seguranças tiveram que agir com aquela "simpatia e poder de persuasão" que lhes é peculiar...

Acalmados os ânimos, e mesmo ao esperarmos do lado de fora, ouvíamos o som muito alto, com a pressão que era enorme vinda de lá de dentro. Apesar da pequenez do ambiente, os técnicos da Advance fizeram uso de um patamar de volume absurdo, pois afinal de contas o que contava ali era vender o seu produto, as potências que alimentam P.A.'s. Os Raimundos terminaram o seu set, e fomos aconselhados a esperar o público evacuar o local. Uma equipe de limpeza fez uma faxina relâmpago no local, enquanto outros funcionários improvisavam uma exaustão do ar, com ventiladores manuais. Mesmo assim, quando entramos, o cheiro mostra-se insuportável !

Produziu-se um odor azedo, proveniente do suor humano, concentrado sob um nível absurdo, que chegou a embrulhar o estômago. Tocamos para o público  a contabilizar cerca de duzentas pessoas, a lotar o stand, mas sem a comoção gerada pela banda anterior, ante seus seguidores.

Continua...

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