sábado, 29 de dezembro de 2018

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Hid Trio) - Capítulo 96 - Por Luiz Domingues

Em meio aos últimos shows da turnê dos Kurandeiros com Edy Star, através das Casas de Cultura espalhadas pelos bairros de São Paulo, e já a aceitar o convite para mais uma apresentação do combo de Lincoln Baraccat, o "Uncle & Friends", eis que mais um convite surgiu em termos de um trabalho avulso, nesse ínterim de dezembro de 2018. 

Novamente procurado pelo amigo, Rodrigo Hid, fui convocado a atuar em mais uma noitada pela noite paulistana, com o seu sazonal combo, Hid Trio. Claro que aceitei o convite, ao ter em vista que eu não teria compromissos com Os Kurandeiros, nessa data ventilada. E assim, lá fui eu para uma noite sob total improviso com Rodrigo Hid e desta feita, seria um reencontro igualmente com Ivan Scartezini, outro velho companheiro de jornada, ou seja, com ambos, estaria caracterizado ali quase a formação completa do "Pedra", banda pela qual, nós três atuamos fartamente, por cerca de dez anos, juntos.

Rodrigo Hid a arrumar o seu pedestal, antes do início da apresentação. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

Sobre tocar um repertório em duas ou três entradas sob total improviso, não foi nenhuma novidade, pois esta seria a quarta aparição minha com o Hid Trio, em 2018 e além do mais, isso não diferenciava-se em nada da minha rotina com Os Kurandeiros, por anos a fio a tocar sem set list fixo no chão para ser seguido. 

E coincidentemente, muitos dos clássicos do Rock e do Blues que eu tocaria com esses amigos, seriam iguais aos que eu tocava regularmente com Os Kurandeiros, embora em muitos casos, houvesse a execução sob outro tom, porém tal fator não seria um grande problema, em via de regra.

Mais uma foto a retratar Rodrigo Hid, em meio aos preparativos para a apresentação ocorrer. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

O local desta feita foi o Finnegan's Pub do bairro de Pinheiros, onde eu já havia apresentado-me com o Hid Trio, mas com a diferença que nessa ocasião anterior, em abril de 2018, o baterista houvera sido, José Luiz Dinola, outro grande amigo e companheiro de uma importantíssima jornada de minha/nossa carreira, no caso, "A Chave do Sol", nos anos oitenta. 

Cheguei cedo, mas na porta, verifiquei que o Ivan Scartezini já estava no local, a aguardar dentro de seu carro. Coloquei o meu equipamento e instrumento dentro da casa e fui ao seu encontro, quando por cerca de trinta minutos, conversamos bastante a atualizar as novidades. Inevitável, ficou aquela sensação de que o tempo passa inexoravelmente, visto que ele contou-me sobre a atual idade de seus filhos e que no caso de sua primogênita, Melissa, esta já completara dezoito anos, estava a terminar o ensino secundário, iria ingressar na faculdade e já trabalhava em uma loja de roupas de grife. Ora, no tempo do "Pedra", ela era uma menininha na tenra idade da primeira infância e no caso de seu irmão, Lucas, este já encontrava-se na sexta série, e embora ainda tivesse onze anos de idade nessa ocasião, pelo fator genético herdado do pai, já possuía a altura física de sua mãe, ou seja, ainda iria crescer muito, naturalmente.

Ivan Scartezini a dirigir-se para sua bateria, com o telefone celular em mãos. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

Ótimas novas, portanto, e assim a conversa preliminar foi bem animada. Rodrigo chegou com substancial atraso, mas nada alarmante e assim que rapidamente instalou-se, colocamo-nos a
tocar e foi uma apresentação tranquila. 

Só um fato foi diferente e deveras fora de propósito, aliás, pois eis que o Rodrigo comunicou-me que a sua guitarra estava preparada com uma afinação alternativa, em meio tom abaixo do usual. Certo, afinei o meu baixo nesse padrão e a alegação de sua parte fora que tal guitarra estava assim afinada por atender a necessidade de uma banda cover com a qual atuava pela noite e que na pressa, não fora possível buscar outra guitarra sua em casa, para que pudesse tocar na afinação normal e por manter-se esta guitarra em específico, acostumada com tal padrão, ele temia que a afinação normal não sustentasse-se durante a nossa apresentação. De fato, é preciso alguns dias para uma afinação amoldar-se e não cair o tempo todo, pelo fator da diferente tensão das cordas ao braço do instrumento. Tudo bem, temi que o meu baixo também sofresse com o fator do sentido inverso, em sair da afinação normal para essa, alternativa, mas não tive grandes problemas nesse sentido. O que foi ruim, e isso eu já previra, foi que o timbre dos dois instrumentos foi bastante prejudicado. Infelizmente, tive que tocar assim, não teve jeito, com o som do baixo a parecer com bandas pesadas e modernosas, pelas quais eu tenho aversão natural.

Ivan Scartezini a aguardar os preparativos para a apresentação. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

Independente dessa questão, tocamos com bastante margem para improviso, com bastante alegria, eu diria, pois era/é sempre bom tocar com velhos amigos. Nas Redes Sociais, apesar de ter havido pouco tempo para exercermos uma divulgação chamativa, houve uma grande interação da parte de muitas pessoas, entre amigos e fãs do Pedra e da Patrulha do Espaço, o que deixou-me bastante feliz, pelo carinho recebido.
Ivan Scartezini e Rodrigo Hid a aprontar-se para o espetáculo. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

Foi tudo muito leve, divertido e prazeroso, a não ser pela incidência de uma turma de rapazes bem alterados pelo ponto de vista do consumo de bebidas alcoólicas, que não chegou a ser descortês, tampouco arrogante para conosco, mas o fato, foi que o estado de embriagues desses rapazes, estava bem alto ao ponto de portar-se com inconveniência. Ao exagerar nos elogios e nas reações a cada música, teoricamente tal euforia deveria ter revertido-se em um fator forte para estabelecer uma sinergia poderosa em nosso favor, mas o exagero motivado pelo fator etílico, não deixou-nos dúvidas que toda aquela manifestação superestimada, passara muito da conta, ou seja, a aborrecer-nos.
Ivan Scartezini a aguardar o início da apresentação. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

Isso tudo, fora o fato de que o mais impetuoso entre os tais rapazes, decorara os nossos respectivos nomes e a cada intervalo, os seus berros a exortar as nossas respectivas performances, cansou-nos sobremaneira. E mais um fato engraçado, ao fazer questão de ofertar-nos bebidas, o tempo todo, ficou estupefato quando ao abordar-me, verificou que eu não aceitei e pelo contrário, logo fui a dizer-lhe que não bebia, ou seja, fiz uso da extrema sinceridade como uma estratégia premeditada, justamente para que ele não insistisse mais. Sei que na sua euforia despropositada, ele quis ser gentil, mas a sua expressão facial quando revelei-lhe ser abstêmio, foi hilária.

Rodrigo Hid a afinar a sua guitarra. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

Um amigo de Rodrigo, chamado, Alexandre, apareceu para tocar gaita conosco, mas não deu para participar muito, visto que pelo fato do baixo e guitarra estar afinados fora do padrão, meio tom para baixo, isso dificultou-lhe a vida, pois ele não tinha em seu arsenal de gaitas, todas diatônicas, nenhuma com característica cromática, para tentar adaptar-se, uma pena. 

Ao final, uma turma de estrangeiros apareceu e também bem alterados pelo fator etílico, dançaram e vibraram bastante com a nossa versão do clássico dos Rolling Stones, "Miss You", que executamos ainda mais funkeada do que a versão dos próprios Stones. 

E mais uma surpresa, desta feita agradável, o baixista superb, Gabriel Costa, apareceu e ali nós travamos uma conversa agradabilíssima sobre o King Crimson, com particularidades que ele contou-me sobre ter visto um show recente do grande Rei Escarlate, em Londres. Detalhista, especialista e Progger setentista de coração e alma, quase foi às lágrimas ao narrar-me a sua experiência e confesso, pela riqueza de sua dissertação e pelo seu teor, sobretudo, eu também marejei os meus olhos. Em pleno mundo de final de 2018, lembrar da arte sublime de Robert Fripp e de seus companheiros, nos longínquos anos setenta, só pode mesmo provocar-nos a nostalgia sob êxtase.

O baixo de Luiz Domingues, pronto para entrar em ação. Hid Trio, no Finnegan's Pub de São Paulo, em 20 de dezembro de 2018. Click: Luiz Domingues

Não há registros de nossa apresentação, nem com filmagem, tampouco fotos. As que ilustram este capítulo, registram apenas a preparação e foram clicadas por eu mesmo, Luiz Domingues. Além de não dispor de um bom equipamento para tal, sou péssimo fotógrafo, assumo isso com humildade. E dessa forma, são poucas fotos a mostrar apenas, Ivan Scartezini e Rodrigo Hid nos momentos de preparação do equipamento e do soundcheck que foi super ligeiro. A representar-me, a última foto mostra o meu baixo no suporte, apenas isso.
 
Bem, fiz quatro apresentações com o Hid Trio, em 2018, agradeço muito ao Rodrigo pelo convite em tais oportunidades, assim como aos bateristas que estiveram conosco em tais apresentações: Ivan Scartezini (por duas vezes), José Luiz Dinola e Renato Amorim. Talvez em 2019 surgissem novas oportunidades e nesse caso, mesmo não sendo uma banda regular em que eu fosse um membro, posso afirmar que este capítulo poderá ter mais desdobramentos.

Portanto, possivelmente... continua...

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