domingo, 30 de dezembro de 2018

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 327 - Por Luiz Domingues

Foi então que eu cheguei às dependências do Sesc Belenzinho, por volta de 15 horas e mais uma vez eu pude constatar que a instituição não esforçara-se para facilitar a vida dos artistas, visto que só foi possível garantir uma vaga para o meu automóvel, mediante o uso da pura sorte em achar uma oportunidade a esmo e não por possuir uma reserva garantida. 

Em um sábado quente na cidade de São Paulo, a unidade estava completamente lotada e há de registrar-se que a procura pelas suas enormes piscinas, com cachoeiras artificiais, era normalmente muito grande, geralmente a lotar completamente os estacionamentos daquela unidade. 

Bem, desta feita eu só precisaria levar comigo um baixo, pois todo o backline seria alugado e de primeira linha, conforme constou no pedido para a elaboração do rider técnico/imput list. 

Em suma, menos mal, pois se eu tivesse que ter transportado o meu equipamento pessoal e mais instrumentos, eu teria ficado bastante contrariado com a falta de sensibilidade da parte da instituição em questões tão básicas a envolver a logística, porém, tudo bem, mesmo ao ter que andar bastante e subir duas escadas com um Hard-Case de baixo em mãos, dos males o menor, o meu carro ficou ao menos seguro, ali dentro. 

Ao chegar à porta da "comedoria", avistei Rolando & Marta, acompanhados do ótimo baixista, Daniel Delello e da minha amiga, a produtora musical, Christine Funke, que o Rolando contratara para ser road manager por essa noite. 

Estavam todos ligeiramente contrariados pelo semblante que exibiam, e a contar com instrumentos e bagagem em mãos, pois haviam sido informados pelos funcionários da instituição, que não poderiam adentrar o ambiente, por conta do motivo daquele salão gigantesco ser um restaurante/lanchonete e na prática, a prioridade seria a demanda do almoço que estava a ser servido naquele instante.

E assim, o acesso aos camarins que eram feitos através da cozinha, só poderiam ser liberados a posteriori, quando o movimento do almoço diminuísse. Pura balela, ou seja, mais uma regra engessada e ultra superestimada pelos seus idealizadores, certamente e que devem considerar-se geniais por inventar tais regulamentos despropositados. 

Senão vejamos: se haviam dezenas de pessoas a caminharem para comprar e consumir comida, que diferença faria para a ordem local, que nós caminhássemos em direção ao camarim? Foi quando o Rolando teve uma ideia para burlar a regra esdrúxula e sem cabimento que nos fora imposta, da maneira mais prosaica possível, pois eis que cada um de nós apanhou uma "comanda" de consumo como qualquer pleiteante ao almoço ali servido e assim entramos e fomos ao camarim, sem nenhum problema. Elementar meu caro, Watson... 


Revista do Sesc a divulgar com uma tímida nota o show e a cometer erros com os nomes dos convidados. Patrulha do Espaço no Sesc Belenzinho de São Paulo-SP. 3 de novembro de 2018. 

Bem, logo os demais companheiros da banda chegaram, mais alguns convidados e a equipe técnica que faria a operação do PA e a outra, da gravação do Concerto. Rapidamente o palco foi montado e eu fiquei aliviado por saber que a equipe terceirizada seria da empresa, "Loudness", uma das mais tradicionais de São Paulo, seguramente no mercado (que eu lembre-me, não tenho essa informação precisa), desde os anos setenta. 

Fiz inúmeros shows do Língua de Trapo e d'A Chave do Sol nos anos oitenta, com o suporte de PA e monitor dessa empresa, que sempre foi muito boa. E melhor ainda, o técnico de PA seria um profissional de confiança dos irmãos Schevano, que costumava trabalhar com regularidade no estúdio deles, o Orra Meu. 

Mais um pouco de tempo passou e eu vi entrar no enorme salão da dita, "comedoria", a figura do meu amigo, Marinho Rocker, um dos incentivadores para que eu iniciasse a redação da minha autobiografia na música, no hoje já longínquo ano de 2011. A sua esposa, Kimberly, estava junto. 

Conversamos detidamente enquanto os técnicos montavam o palco e vários companheiros puderam autografar diversos álbuns que ele trouxe consigo e não apenas da Patrulha do Espaço, mas de várias bandas, sabedor que muitos convidados especiais participariam desse show. 

Mais que um prazer por poder recebê-lo, veio a reboque o emocionante sentido da reverência da parte dele e de sua esposa, ao viajarem a madrugada inteira desde a cidade de Lavras, no sul de Minas Gerais, apenas para assistirem o show e prestigiar-nos. O que dizer diante de uma manifestação desse porte?

Matéria no Jornal: Empresas & Negócios" a repercutir o show de despedida da banda na cidade de São Paulo. Patrulha do Espaço no Sesc Belenzinho de São Paulo-SP. 3 de novembro de 2018. 

Eis que os ajustes para estabilizar o estéreo do PA começaram e foi até bem rápido para se chegar nesse estágio, geralmente demorado. Bem, a banda base posicionou-se e os primeiros ajustes individuais foram feitos com muita eficácia. Equipamento bom, técnico bom e tecnologia digital cada vez mais rápida e precisa, foi um dos melhores soundchecks em que eu participei e acredite, leitor, se tem um fator nessa profissão que eu abomino é passagem de som morosa, mediante horas e horas para acertar-se um som que na hora do show propriamente dito, nunca corresponde ao esforço empreendido no período vespertino e pior, gera-se um tipo de desgaste emocional, completamente inconveniente.
Início do trabalho do soundcheck: Luiz Domingues a observar e Rolando Castello Junior a passar o som de cada peça da bateria. Patrulha do Espaço no Sesc Belenzinho de São Paulo-SP. 3 de novembro de 2018. Click, acervo e cortesia de Rodrigo Hid

Então chegou a vez para passar duas ou três músicas e de fato, no palco, o som equalizou-se muito rapidamente, ainda bem, Mas com a ressalva que estava bem alto e tanto foi assim, que enquanto ouvíamos a equalização dos bumbos da bateria de Rolando Castello Junior, o técnico de gravação, André Miskalo, estava ao meu lado e brincou ao dizer-me: -"6.8 na escala Richter", pois realmente a trepidação do palco assemelhou-se a um terremoto.

A banda a realizar o soundcheck, no período vespertino. Patrulha do Espaço no Sesc Belenzinho de São Paulo-SP. 3 de novembro de 2018. Click, acervo e cortesia de Marinho Rocker

Passadas algumas músicas com a banda base inteira, eu pedi ao Daniel Delello para equalizar o seu baixo, pois ele iniciaria o show, a tocar três temas, inclusive temas mais atuais da formação que ele fez parte nos últimos estertores da banda. Eu levei um baixo Fender Precision e ele estava com um Fender Jazz Bass. 

E apesar da sutil diferença entre os dois modelos distintos, eis que quase não mudamos a equalização do amplificador, um em relação ao outro e eu apreciei o timbre dos dois, com peso e alta definição. 

O meu, a soar um pouco mais metálico (e claro, leve-se em conta o fato de eu ser um "palheteiro" convicto), e o dele, mais aveludado. Magnífico e ainda haveria o Gabriel Costa (com um Fender Precision) e Ricardo Schevano (a usar Rickenbacker), portanto, por isso eu só levei um instrumento, pois entre quatro amigos fraternos, todos contariam com os quatro instrumentos em uma eventual pane para qualquer um e só instrumentos vintage, com alto padrão.

Fotos do palco montado: a bateria como detalhe e a lateral do equipamento de monitor, unidade móvel de gravação e preparação de afinação para guitarras e baixos, com a figura do roadie responsável pelos instrumentos, Fábio (Diogo Barreto e Samuel Wagner também trabalharam). Patrulha do Espaço no Sesc Belenzinho de São Paulo-SP. 3 de novembro de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Wan Moraez

No camarim, a confraternização foi total. Membros da banda, ex-membros, convidados com forte ligação histórica pelos mais variados motivos com a nossa banda, a equipe técnica e muitos amigos que passaram por lá, para um abraço. 

Palhinha, um guitarrista seminal do Rock paulista, desde os anos sessenta, contou-nos diversas histórias maravilhosas, até sobre a Jovem Guarda, onde atuou pelos idos de 1967 & 1968. O famoso jornalista, Régis Tadeu, Lúcio Zaparolli, ex-vocalista do Santa Gang e há muitos anos, dono e técnico de PA, José Roberto Agatão, amigo da banda desde a formação Chronophágica, Marinho Rocker & Kimberly, enfim, foi muito agradável. 

Eis que a produtora, Christine Funke, sinalizou-nos e chegara a hora. As três primeiras músicas seriam com Daniel Delello no baixo e Marcello Schevano na guitarra. Eu e Rodrigo Hid entraríamos a partir da quarta música e tocaríamos uma boa sequência da nossa formação, com Marcello Schevano, posteriormente. Foi o momento para chegar próximo ao palco pelo bastidor e assistir o início do espetáculo. 

Continua...

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