sábado, 6 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos - Capítulo 8 (Tato Fischer) - Por Luiz Domingues

Sinceramente não lembro-me do real motivo da discussão entre o Tato e o Cido Trindade. Minha memória recua apenas ao ponto de dizer que foi certamente um motivo fútil. O Tato devia ter suas expectativas, é claro, e hoje eu compreendo o quanto é duro contentar-se com as migalhas do underground quando chegou-se tão perto do estrelato no mainstream, ao considerar-se que ele fora um "quase" Secos e Molhados, segundo relatou-nos (muitos anos depois, tornei-me amigo de Gerson Conrad e este revelou-me que não foi bem assim a história da "quase" efetivação de Tato na banda, em 1972, antes do estrelato alcançado em 1973).
Foi preferível não ter acontecido o show, pois corria-se o risco de passar uma péssima impressão aos meus padrinhos nesse momento, a tocar em um teatro enorme, com apenas dois pagantes : eles mesmos... pois com certeza deporia contra a minha tentativa desesperada em autoafirmar-me como artista, perante a família.


Os shows do Teatro Paulo Eiró foram muito piores em termos de público presente. O do dia 14 de novembro de 1979, foi cancelado como já contei, mas os demais foram nesse ritmo desanimador.
Dia 15 de novembro de 1979 : 9 pagantes; dia 16 de novembro de 1979 : 25 pagantes; dia 17 de novembro de 1979 : 17 pagantes, e no dia 18 de novembro de 1979 : 15 pagantes. O Tato ficou muito chateado, e claro, nós do trio, também, pois nosso pagamento dependia da movimentação da bilheteria, e com esse resultado pífio, mal dava para as despesas mínimas de transporte e camarim.
Então, com ele a perceber a nossa insatisfação, tentou contornar tal mal estar gerado, ao falar-nos sobre os três shows que faríamos no interior de São Paulo, onde haveria uma estrutura melhor, pois se dois seriam por bilheteria, um estava vendido com cachet fechado, e garantiria as despesas da viagem, inteiramente pagas, e um razoável cachet para cada um, a tornar os demais, uma opção de bônus, se fossem bons de público. Depois disso, aproximar-se-ia a época de festas de dezembro; janeiro & fevereiro, sempre fracos para agendar datas, e talvez em março, alguma coisa aparecesse.
Definitivamente, isso não interessava a nenhum de nós três. O Sérgio Henriques já devia estar em namoro com a banda de Elis Regina, devido aos contatos de seu sogro, mas não contara-nos nada na época. Só soubemos que ele foi mesmo tocar com a Elis Regina, quando ensaiávamos com o Terra no Asfalto (banda cover que eu; Cido; Sérgio e mais três músicos, formamos, assim que deixamos de acompanhar o Tato Fischer), no início de janeiro de 1980, conforme  relato no capítulo dessa banda que ali forjou-se, o "Terra no Asfalto".
Sérgio tinha perspectivas alvissareiras, mas eu e o Cido precisávamos ganhar dinheiro, rapidamente. Eu acumulava o Língua de Trapo nessa fase, mas nem era o "Língua" ainda, mas sim um proto-Língua que só fazia pequenas apresentações amadorísticas, ou pequenas participações em festivais de MPB. No próximo capítulo, falo sobre esses shows do interior.
Continua...

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