Sinceramente não lembro-me do real motivo da discussão entre o Tato e o Cido Trindade. Minha memória recua apenas ao ponto de dizer que foi certamente um motivo fútil. O Tato devia ter suas expectativas, é claro, e hoje eu compreendo o quanto é duro contentar-se com as migalhas do underground quando chegou-se tão perto do estrelato no mainstream, ao considerar-se que ele fora um "quase" Secos e Molhados, segundo relatou-nos (muitos anos depois, tornei-me amigo de Gerson Conrad e este revelou-me que não foi bem assim a história da "quase" efetivação de Tato na banda, em 1972, antes do estrelato alcançado em 1973).
Foi preferível não ter acontecido o show, pois corria-se o risco de passar uma péssima impressão aos meus padrinhos nesse momento, a tocar em um teatro enorme, com apenas dois pagantes : eles mesmos... pois com certeza deporia contra a minha tentativa desesperada em autoafirmar-me como artista, perante a família.
Os shows do Teatro Paulo Eiró foram muito piores em termos de público presente. O do dia 14 de novembro de 1979, foi cancelado como já contei, mas os demais foram nesse ritmo desanimador.
Dia 15 de novembro de 1979 : 9 pagantes; dia 16 de novembro de 1979 : 25 pagantes; dia 17 de novembro de 1979 : 17 pagantes, e no dia 18 de novembro de 1979 : 15 pagantes. O Tato ficou muito chateado, e claro, nós do trio, também, pois nosso pagamento dependia da movimentação da bilheteria, e com esse resultado pífio, mal dava para as despesas mínimas de transporte e camarim.
Então, com ele a perceber a nossa insatisfação, tentou contornar tal mal estar gerado, ao falar-nos sobre os três shows que faríamos no interior de São Paulo, onde haveria uma estrutura melhor, pois se dois seriam por bilheteria, um estava vendido com cachet fechado, e garantiria as despesas da viagem, inteiramente pagas, e um razoável cachet para cada um, a tornar os demais, uma opção de bônus, se fossem bons de público. Depois disso, aproximar-se-ia a época de festas de dezembro; janeiro & fevereiro, sempre fracos para agendar datas, e talvez em março, alguma coisa aparecesse.
Definitivamente, isso não interessava a nenhum de nós três. O Sérgio Henriques já devia estar em namoro com a banda de Elis Regina, devido aos contatos de seu sogro, mas não contara-nos nada na época. Só soubemos que ele foi mesmo tocar com a Elis Regina, quando ensaiávamos com o Terra no Asfalto (banda cover que eu; Cido; Sérgio e mais três músicos, formamos, assim que deixamos de acompanhar o Tato Fischer), no início de janeiro de 1980, conforme relato no capítulo dessa banda que ali forjou-se, o "Terra no Asfalto".
Sérgio tinha perspectivas alvissareiras, mas eu e o Cido precisávamos ganhar dinheiro, rapidamente. Eu acumulava o Língua de Trapo nessa fase, mas nem era o "Língua" ainda, mas sim um proto-Língua que só fazia pequenas apresentações amadorísticas, ou pequenas participações em festivais de MPB. No próximo capítulo, falo sobre esses shows do interior.
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
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