Aquela época, vista pela ótica de hoje em dia com o
devido distanciamento histórico, foi na verdade o final de uma Era...
Eu e a maioria das pessoas, não tínhamos
essa percepção e vivíamos a euforia hippie, em mudar o mundo, muito porque
naquela Era pré-internet aberta ao público (já existia a internet, mas
circunscrita à poucas universidades americanas e ainda em fase experimental),
as mudanças demoravam mais para pulverizar-se.
Portanto, somado à ditadura, o
movimento hippie havia chegado com atraso no Brasil e em 1977, havia ainda
muitos indícios de sua força. Era de fato uma juventude que buscava música com qualidade e ligava a questão da música a outros ramos da arte.
Gostávamos de cinema; teatro; artes
plásticas; literatura... eram as tais portas da percepção que buscávamos o tempo
todo...
Cabe tocar em um assunto diferente, agora : a
questão do apelido "Tigueis", que eu ostentava foi da seguinte maneira
pela qual iniciou-se : em 1974, eu estava na sétima série do ensino fundamental, e através de uma conversa
entre amigos da escola, o assunto enveredou-se sobre as origens de cada, um ali. Ao
indagar-me, respondi-lhes que meus avós paternos eram portugueses. Dessa forma,
começaram a chamar-me de "português". Daí em diante, sabe-se bem como
funciona a cabeça de garotos de treze, quatorze anos, não é ? Começou as brincadeiras, geralmente a fazer alusão ao fato de
eu não ter muita inteligência por conta de ter sangue luso (a velha galhofa em tom de preconceito paradigmático). Daí as corruptelas :
"Português" tornou-se "Tigueis", "Tiga" etc.
Fixou-se
em "Tigueis" enfim, e eu fui deixando. Esse apelido causou-me
inúmeros aborrecimentos, principalmente quando eu comecei a usá-lo como nome
artístico, determinação essa que jamais deveria ter feito. Rompi com isso em
1999, assim que comecei a trabalhar com a Patrulha do Espaço. Sei que gerou
estranheza, inicialmente, mas fico feliz por ver que hoje, muita gente nem saiba
dessa particularidade de minha carreira, a julgar pelo meu nome real estar sedimentado como identidade artística.
Ainda em junho, assistimos mais um show
multifacetado e permeado por improvisos, no Crusp, um alojamento de estudantes da
USP. Eles sempre promoviam shows para arrecadar
fundos e ter um pouco mais de qualidade de vida, visto que geralmente tais alojamentos serviam para estudantes de origem simples e oriundos do interior de São Paulo ou de outros
estados da federação.
O problema é que em 1977, a ditadura ainda rugia forte, e foi em uma
noite dessas em que assistíamos artistas como “Jorge Mautner”, o grupo de
chorinho do bandolinista, Isaías, e o “Bendengó” entre outras atrações musicais, que a polícia
apareceu para quebrar o astral. Tinha tudo para tornar-se um enquadro geral, com
artistas e público a correr o risco de ir parar na cadeia, quando por milagre, uma mulher a portar cerca de um
metro e meio de altura, convenceu os policiais de que ali tratava-se apenas de uma manifestação
cultural inofensiva, e sem conotação política.
Foi uma atriz ainda não super
famosa, mas já a caminhar para tal, chamada : Bruna Lombardi. Ela estava ali para
declamar seus poemas, que costumava vender em livretos mimeografados, coisa bem artesanal
e hippie ao extremo.
Ainda nesse mês de junho, assistimos mais
uma maratona de Rock, desta feita no ginásio do Corinthians. Lembro-me por ter
ficado encantado com o som do “Humahuaca”, um grupo de Jazz-Rock afiadíssimo,
onde tocavam três ex-músicos de apoio dos “Secos e Molhados” : Willie
Verdarguer; John Flavin, e Emílio Carrera.
Dudu Chermont, em dois
momentos : nos anos 1970, com a Patrulha do Espaço, e a tocar com sua
ex-banda, em 2003, pouco antes de falecer. Dá para ver o braço do meu
baixo, na foto de 2003.
E vi também a nova banda do ex-vocalista do
Made in Brazil, Cornélius "Lúcifer", chamada “Santa Fé”, onde um
guitarrista muito jovem chamava a atenção, chamado Dudu Chermont, futuro
Patrulha do Espaço. Em um mundo que dá muitas voltas, jamais imaginaria que no
longínquo ano "futuro" de 1999, eu seria um membro da Patrulha do Espaço, e o
Dudu como ex-membro, faria algumas participações em nossos shows. Pelo lado pior desse exercício de "futurologia", como
poderia imaginar em 1977, sentado em uma arquibancada de um ginásio de esportes,
e a vê-lo tocar, que estaria, lamentavelmente, presente no seu velório e enterro em 2003 ?
As visitas ao cine Bijou continuavam
frequentes. “Mad Dogs and the English Man”; “Janis” (famoso documentário
a cobrir a vida e obra de Janis Joplin); “Monterey Pop Festival'1967”... só
petardos, e sem contar filmes de diretores do calibre de Werner Herzog; Dario Argento etc... assistimos “Fearless
With Vampires”, do Roman Polanski, a imaginar como a “família” de Manson pôde
matar Sharon Tate; A cinebiografia do astro Folk, Woody Guthrie e por aí aproveitávamos
ao máximo a sua programação...
Em julho, surgiu a ideia para ficarmos uma
semana em uma casa de praia, da família Vicino. Seria a nossa primeira aventura
intermunicipal como banda...
Continua...
Continua...
ola gostei de suas materias principalmente a do Dudu pra mim um dos melhores guitarrista do verdadeiro Rockn roll nos anos 80 90 no Brasil nao sabia que ele tinha falecido fiquei xocado cara voce pode me dizer o motivo ou causa de sua morte pois sou eterno fa ok
ResponderExcluir