sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 22 - Por Luiz Domingues


Foto da viagem que o Boca do Céu fez à cidade de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo, em julho de 1977.  

E assim, reservamos uma semana para essa viagem recreativa. A casa de praia da família Vicino foi cedida-nos, e ali ficamos instalados por sete dias. Isso ocorreu na cidade de Itanhaém, litoral sul do estado de São Paulo. Só o Wilton Rentero não pôde ir nessa viagem, mas o quarteto esteve presente. E com dois violões, pudemos trabalhar mais músicas. A despeito de eu não gostar de praia (é nítido, até pela foto do Boca do Céu na praia, pois sou o único vestido formalmente, sob um ambiente praiano, foto essa disponível nos meus Blogs dois e três...), apreciei muito a viagem, é claro, pois representava uma semana com minha banda, como se estivéssemos sob turnê. Foi algo lúdico que estimulou a imaginação. Sentia-me como se estivesse dentro de um episódio da série : “The Monkees”.


Vista aérea da cidade de Itanhaém, no litoral do estado de São Paulo



Naturalmente tocamos muito, principalmente pelo avanças das madrugadas, na praia, e mediante um céu incrivelmente estrelado e inspirador, mas apesar desse exercício todo, isso pouco acrescentou tecnicamente à banda, pois nós éramos muito fracos. Eu e Fran Sérpico ainda mais que os demais. Todavia, no cômputo geral, foi muito agradável. Rimos e conversamos bastante. Lembro de fazermos caminhadas por algumas trilhas. Itanhaém era uma cidade litorânea pequena, diferente de Santos que já tinha porte de cidade grande, há muito tempo. Hoje em dia, cresceu demais como outras cidades vizinhas. Creio não haver mais no litoral paulista, cidades pacatas com a presença de caiçaras e pescadores. A especulação imobiliária tratou de acabar com esse bucolismo remoto. 



Levamos também um aparelho de som, e muitas fitas K7. O Rock embalou nossa estada naquela casa, naqueles dias de julho de 1977...
De volto a São Paulo, estávamos às vésperas do Festival, "FEMOC", e eu tive uma ótima notícia pessoal que refletir-se-ia na banda : ganhei do meu pai, um baixo novo e infinitamente superior àquele simulacro de Hofner que eu usava desde 1976.



Tratou-se de um Giannini, imitação de Rickenbacker, cor cherry (a versão oficial do Rickenbacker qualifica tal cor em seu catálogo, como “Fireglow”), e zero km, ano 1977. Foi um salto de qualidade incrível, proporcionando um impulso em todos os sentidos. Dali em diante, é que posso dizer que comecei a melhorar vertiginosamente, tendo motivação ainda maior ao instrumento. E claro, a qualidade sonora da banda aumentou com um instrumento melhor. Ainda longe de ser um instrumento importado sob real qualidade, mas um avanço em relação ao que eu possuía, anteriormente.


Vendi o velho Hofner genérico e dali em diante, usei o Giannini RK, até 1981, quando finalmente pude comprar meu primeiro baixo Fender.


Havíamos inscrito mais uma música no festival FEMOC. Além de "Revirada", inscrevemos também, "Serena", uma balada do Osvaldo, com letra do Laert. Tínhamos a intenção em inscrever uma terceira música, "No Mundo de Hoje", mas o Festival só aceitava duas músicas para cada aluno, e como só eu estudava lá, optamos pelas duas primeiras. Voltamos a São Paulo e intensificamos os ensaios elétricos para dar o melhor de nós no Festival. 



Quando soubemos que a eliminatória do Festival estava marcada para o mesmo dia do show do Joe Cocker, ficamos apreensivos, pois não queríamos perder o show. Contudo, o Festival era muito importante para nós, evidentemente. Dessa maneira, tomei coragem e fui pedir ao comitê organizador que deixasse-nos tocar nossas duas músicas logo no início e dali, para que sairíamos em disparada para o ginásio da Portuguesa de Desportos, onde assistiríamos esse show imperdível. Outro fator importante para a banda nessa fase, foi a perspectiva em mudar o endereço de ensaio. Já estava tudo acertado com meus pais, e eu havia providenciado o quarto da edícula da minha casa, para abrigar o equipamento. Aproveitei para empreender a decoração do ambiente. Coloquei cartazes de shows; fotos de bandas que apreciávamos, e outras imagens inspiradoras de ordem contracultural. O que eu não imaginava, no alto da minha ingenuidade juvenil, seria que teria problemas sérios com essa mudança. Depois que os ensaios começaram na minha residência, a questão da indisposição dos vizinhos com o barulho, foi o mais óbvio dos problemas, mas algo pior, que eu não previa, estava por acontecer. E por um triz, a situação não “degringolou”, a causar-me transtornos muito maiores.



Continua...

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