segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues

De fato, quem conhece-me bem, sabe que tocar cover é algo que sempre evitei. Definitivamente, prefiro tocar algo que eu criei, por pior que seja, a perder tempo em reproduzir a criação alheia. Mas eu chegara a um ponto da vida, onde estava defrontei-me com uma encruzilhada. Estava a brigar com meu pai, que queria fazer o meu sonho Hippie diluir-se sob um terno & gravata; cabelo curto; faculdade de direito, e concurso público, isso sem contar militância em partido político, e quem sabe (?) , candidatura ao parlamento no futuro...


De todos esses sonhos do meu pai, eu só tinha simpatia pela política, aliás até hoje, mas jamais com pretensões a fazer parte da política partidária. Mas apenas como um interesse na ciência social.

Enfim, minha banda, "Boca do Céu", havia encerrado suas atividades e o embrião do Língua de Trapo era muito incipiente ainda para verter em remuneração nessa época (final de 1979), e dessa forma, por precisar ganhar dinheiro, comecei a fazer trabalhos paralelos na música.
Meu primeiro trabalho avulso, foi no show: "Começando Tudo Outra vez", do cantor / pianista / ator e diretor de teatro, Tato Fischer. Já contei essa história nos primeiros capítulos dos "Trabalhos Avulsos", portanto, vou avançar aqui. Na reunião final com o Tato, onde eu e os demais músicos da sua banda de apoio decidimos deixar o trabalho, após uma série de problemas, o tecladista, Sérgio Henriques, comunicou-nos que havia aparecido um trabalho extra para nós três (eu e Cido Trindade estávamos nessa banda também).
E de fato, em um bar próximo à residência de Tato Fischer, na Rua Maria Antonia, no bairro Vila Buarque, centro de São Paulo, estava a esperar-nos o vocalista Paulo Eugênio, que Sérgio conhecera anos antes, e com quem já tinha montado bandas covers para tocar em festas, casas noturnas & afins. A proposta seria a de unirmo-nos a ele, e dois guitarristas (Wilson Canalonga Junior e Geraldo "Gereba"), para tocarmos em uma festa de confraternização para uma empresa de engenharia, a comemorar-se o Natal / Reveillon de seus dirigentes e funcionários. O repertório seria formado por canções dos Beatles, exclusivamente.
Aceitamos, é claro. E essa foi a semente primordial do "Terra no Asfalto". Assim, mesmo ao aceitar o convite, o tempo mostrava-se absurdamente curto para tirarmos as músicas, ensaiarmos e ficarmos prontos para essa apresentação. O Paulo Eugênio disse-nos que um amigo dele, de longa data, cederia sua casa para ensaiarmos, o que seria providencial, pois não tínhamos onde ensaiar e tirar as músicas. E dessa forma, marcamos logo o primeiro encontro. Esse amigo chamava-se, Edmundo, e morava em um belo imóvel de alto padrão no bairro das Perdizes, zona oeste de São Paulo.
 Residência do Edmundo, na Rua Turiaçu, em Perdizes, zona Oeste de São Paulo, onde o Terra no Asfalto realizou seus primeiros ensaios, em 1979.

E além do espaço generoso, ele foi um amigo extremamente bondoso e era um Rocker, inveterado. Era baterista também, e dono de uma incrível coleção de discos. Portanto, sua habitação serviu-nos como QG inicial da banda, com suporte total para tocar e ouvir os discos, tirar as músicas etc . Fora a mordomia dos lanches...

O time formado mostrou-se excelente. Eu já conhecia Cido Trindade e Sérgio Henriques. O Cido já tocava bem em 1977, quando o conheci, mas estudioso, e com pretensões a tornar-se um virtuose do Jazz-Fusion, não parava de evoluir. Estava agora obcecado por ter técnica ao nível dos bateristas de Free-Jazz.
Admirava o Zé Nazário, do Grupo Um; o baterista do Hermeto Paschoal, Nenê, e as feras do Jazz-Rock internacional. O Sérgio Henriques tinha sólida formação ao piano erudito, e estava no terceiro período do curso de composição e regência da USP. Sua formação, além da música erudita, incluía o Jazz, Rock Progressivo e a boa MPB sessenta / setentista. E os novos componentes que o vocalista Paulo Eugênio trouxe consigo, foram : Wilson Canalonga Junior e Geraldo "Gereba". Wilson era Rocker por formação cultural, mas fazia bases simples, não tinha muita desenvoltura nos solos, entretanto, compensava com backing vocals, bem afinados.
E o "Gereba", era um demônio. Sem nenhuma noção de teoria musical, tocava sob forma instintiva, e com uma técnica incrível. 

Como era fã de Alvin Lee e Pepeu Gomes, sabia vários solos de cor desses guitarristas, e reproduzia-os com perfeição.  Paulo Eugênio cantava bem, embora não conhecesse teoria também. E já tinha experiência por ter cantado na noite, com bandas, anteriores.
Continua...

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