O barulho tratou por a incomodar a vizinhança,
e várias vezes tivemos reclamações nesse sentido. Até aí, normal, pois o quarto de ensaio não
tinha nenhum preparo acústico, nem mesmo as inevitáveis caixas com ovos coladas
pelas paredes, típica medida barata de quem deseja amenizar um pouco o
problema. Mas o pior mesmo, só foi acontecer algum tempo depois, e por um triz,
evitei um mal maior, ao produzir constrangimento aos meus pais. Foi que além da
banda, começou a surgir amigos para assistir os ensaios. Até aí, tudo bem. Mas isso precipitou também a aparição de
amigos dos amigos, e chegou-se em um ponto, pouco tempo depois, que escapou do
controle, com pessoas sem conexão com ninguém ali, que estivessem presentes ali. Minha
residência tornou-se um ponto "freak” aos sábados. Teve dia em que eu cheguei a
contar vinte e cinco pessoas espremidas dentro do quarto, com a janela fechada,
sob um calor incrível. Isso não foi o maior incômodo. O problema maior fora o entra
e sai de cabeludos, que começou a chamar a atenção da vizinhança. Por azar, meu vizinho da direita (ha ha
ha... apenas coincidência aquele senhor morar ao lado direito de nossa casa...),
era policial militar, tenente ou capitão, não lembro-me. Ele era gentil no cotidiano, mas
começou a ficar incomodado, na verdade, transtornado com o barulho, e com razão,
diga-se de passagem, pois ele tinha netos pequenos. Não posso acusar, mas
desconfio que ele tomou algumas medidas...
Pois um dia, um hippie do bairro, chamado,
"Canton", que inclusive era meu colega de escola, veio dizer-me que
ouvira um rumor de que a polícia estava a rondar a minha residência, e que preparava uma
batida para qualquer instante. Foi enfático ao dizer-me que eu deveria eliminar o
quanto antes esses ensaios, pois eles iriam enquadrar todo mundo. Ah... os anos
setenta... como tenho saudade de muita coisa, mas da ditadura, absolutamente não ! Infelizmente, a despeito dessa arbitrariedade poder acontecer pelo fato de vivermos
naquela época, sob atos inconstitucionais que legitimavam-na vergonhosamente, poderia lograr
êxito uma investida dessas por um aspecto : ao fugir do meu controle, algum
freak desses poderia portar drogas, certamente, e aí, sobraria para eu, o dono
da casa, e consequentemente, meus pais “arrancar-me-iam o couro”. De fato,
várias vezes tive que pedir aos convidados, que apagassem seus cigarros compostos por material ilícito, e pior, cheguei a flagrar várias vezes, doidos a sacar
comprimidos (as ditas,"bolas"), de suas bolsas, e fazer uso desse material, ali dentro.
E uma
vez, no clímax, flagrei um casal no banheiro da edícula, prestes a usar
ampolas. Era um "Christiane F." a acontecer fora do meu controle, e
para piorar, eu não fazia a menor ideia sobre quem eram essas pessoas !
Continua...
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