Então chegamos à coxia, com o "Santuário" a encerrar o seu show e deu para verificarmos que o Sesc Pompeia recebera um bom público, inclusive haviam entusiastas da estética do Heavy-Metal dos anos oitenta no recinto, que respondiam com vivacidade ao espetáculo perpetrado pela banda em questão. Enfim, que bom que o show dos rapazes foi a contento de sua expectativa e do seu público, também.
Feitos os ajustes básicos em prol da troca de set up entre as bandas, eis que um funcionário do Sesc abordou-me para dizer que haveria uma apresentação formal para anteceder a nossa entrada em cena. Ótimo, achei que seria algo grandiloquente, ao estilo da narração para a entrada de pugilistas no ringue de luta, induzido pelo teor que o rapaz alardeou-me, mas, alguns segundos depois, eu mal pude acreditar que a apresentação simplória com a qual ele mesmo fez a nossa introdução ao público, fosse absolutamente contraditória ao que relatara-me, mas tudo bem, o que importou foi subirmos ao palco, enfim.
Patrulha do Espaço em ação no palco do Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Alex Minconi
Entramos com bastante energia, a tocarmos temas mais pesados como: "Robot" e "Deus Devorador", canções do LP "Patrulha'85", um álbum notadamente marcado pelo flerte da banda com o Heavy-Metal oitentista.
Bem, nessa turnê de despedida a ideia foi tocar canções de todos, ou pelo menos quase todos os discos da banda, portanto, foi normal haver tal passagem por sons mais pesados que a banda cometeu em alguns momentos da sua carreira. Caso também da música: "Olho Animal", canção do mesmo disco citado e que também executamos nessa noite.
Mais fotos de nosso show no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia: Alex Minconi
Mas logo vieram temas mais amenos, tais como: "Arrepiado" e "Berro", típicas "Power Ballads" setentistas e das quais gostei muito de tocar, como houvera ocorrido no show passado em Ponta Grossa, no Paraná.
E também, "Simples Toque", uma canção que eu e Rodrigo Hid nunca havíamos tocado anteriormente, em nosso tempo como membros da banda, entre 1999 e 2004 e proveniente do primeiro álbum da Patrulha do Espaço, pós-Arnaldo Baptista, lançado em 1980, o mítico: "álbum preto". Foi muito prazeroso tocar tal música, fortemente influenciada pelo Blues-Rock a la Led Zeppelin. E a nossa interpretação empolgou, pela reação efusiva da plateia.
Tocamos também a música: "Ser", uma da nossa fase (eu e Hid), extraída do CD "Chronophagia" e "Ovnis", esta do LP "4", de 1984 e que eu e Hid também nunca tocáramos em nosso tempo com a banda e da qual também gosto, inclusive da letra, com uma mensagem bonita, a expressar uma intervenção alienígena no planeta Terra, a visar o bem da humanidade etc.
Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Ana Amb
A plateia respondeu com calor e carinho, mas eis que algo imponderável ocorreu e se não chegou a desestabilizar-me, tampouco aborrecer-me decisivamente, causou-me outrossim, uma perplexidade pelo seu caráter incompreensível e certamente descortês da parte de quem o protagonizou.
Bem, ocorreu que lá pela quinta ou sexta música do show, em meio aos aplausos e urros de regozijo da imensa maioria, uma voz isolada passou a usar tais intervalos entre uma música ou outra para chamar-me a atenção e o fez de uma maneira um tanto quanto agressiva.
Em princípio, julguei ser uma espécie de brincadeira vinda de algum conhecido e de fato, houveram vários presentes no recinto, incluso ex-companheiros de bandas por onde atuei (José Luiz Dinola, ex-A Chave do Sol e ex-Sidharta) e Deca (ex-Pitbulls on Crack e ex-Sidharta) e muitos outros amigos, caso do Nilton Cesar "Cachorrão, amigo de décadas e vocalista do "Centúrias", até os dias atuais.
Mas esse rapaz chamara-me a atenção, insistentemente a usar o antigo apelido pelo qual fui conhecido décadas atrás e eu notei enfim, que o tom de seus gritos não mostrou-se amistoso, nem mesmo como uma brincadeira de mau gosto, como inicialmente eu deduzira.
Então, após isso começar a ficar mais incisivo, eu procurei identificá-lo visualmente, no afã para entender afinal de contas sobre o que tratava-se. De fato, o identifiquei em meio a multidão e constatei ser um rapaz grisalho, a denotar que fora jovem possivelmente entre os anos setenta e oitenta, ou seja, dentro da minha faixa etária, igualmente, portanto, devia conhecer-me dessa época, certamente a reforçar a ideia dele ter gritado tanto o meu antigo apelido para chamar-me a atenção.
No entanto, assim que ele notou que eu o identificara, enfim, mostrou-se de fato agressivo e com um semblante fechado, vociferava: -"volte para os anos oitenta, Tigueis"...
Luiz Domingues a mirar na lente sempre inspirada de Edgar Franz, o popular, "Bolívia". Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia
Bem, eu não respondi-lhe ao microfone, obviamente, visto tratar-se de uma manifestação isolada e só ele pareceu-me estar contrariado com a minha presença no palco em meio a cerca de trezentas pessoas que aplaudiam-me com entusiasmo, portanto, eu não estragaria o astral do show que estava ótimo, para dar visibilidade a este senhor e assim atrapalhar o bom andamento do espetáculo, ao incomodar os demais e aliás, quem estava a perturbar ali as pessoas que estavam a apreciar o show, fora ele mesmo com a sua manifestação desagradável.
Entretanto, confesso que fiquei curioso por entender a motivação do rapaz. Certamente ele devia nutrir algum tipo de contrariedade pessoal com a minha pessoa ou pelos trabalhos que eu desenvolvi ao longo da minha carreira, e a julgar pela sua faixa etária, talvez não gostasse d'A Chave do Sol, banda pela qual mais atuei nos anos oitenta, ou quem sabe, pelo contrário, fosse um fã radical dessa banda ao ponto de julgar-me um traidor por ter tocado em outras bandas, inclusive com a própria Patrulha do Espaço.
Pois esse rapaz teve (e tem), todo o direito de não gostar de meu trabalho artístico e considerar-me um músico ruim, desinteressante ou pensar o mesmo sobre qualquer banda pela qual atuei, mas aquela hostilidade ali foi tão desproposital, que fiquei curioso por conversar com ele, para ouvir a sua motivação para tratar-me daquela forma.
Bem, artista é vitrine e ninguém agrada sob unanimidade. Haja vista a função "unlike" nas Redes Sociais em geral e notadamente no YouTube, onde verificamos uma quantidade significativa de manifestações em desagrado com formas de arte que não deveriam receber um sinal desses, sequer. Mas elas existem, basta olhar-se vídeos de concertos das melhores orquestras do mundo a interpretar de uma forma impecável, grandes obras de compositores incontestáveis da música erudita. E mesmo assim, em meio a milhares de "likes", sempre tem uma meia dúzia de "unlikes" registrados ali, anonimamente mais a denotar um ato de sabotagem ou idiotia, como queiram.
Não é o meu caso, estou a dez milhões de anos luz longe da genialidade de artistas desse quilate, aliás, mas claro que qualquer artista que coloca a sua obra para a avaliação pública está sujeito a ataques dessa natureza.
E sobre a minha reação no palco, também não retruquei com nenhuma sinalização em desagrado e muito menos com alguma agressividade ou deboche, atitudes que abomino e jamais usaria em cima de um palco, mesmo sendo alvo gratuito de um vilipêndio incompreensível, como neste caso.
Eu apenas olhei e sorri para ele, que demonstrou no seu semblante, que realmente não gostava de minha pessoa. Reitero, ele tem todo o direito de não gostar, não seguir-me em redes sociais, não comprar os meus discos e mudar de emissora se uma música minha estiver a tocar, mas eu penso que melhor seria ele ter ido embora se fora apenas para assistir a primeira banda da noite ou assistido silenciosamente a nossa apresentação, pois acima de tudo, perturbou quem esteve à sua volta mediante os seus gritos desagradáveis. E como sempre... a vida seguiu...
Patrulha do Espaço ao vivo no Sesc Pompeia de São Paulo, em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Claudio Alexandre Magalhães
E assim, o rapaz cansou de espalhar o seu mau humor e sobretudo a sua contrariedade pessoal para comigo e absolutamente incompreensível, por sinal, ao evadir-se do recinto. Ainda bem para quem o cercava, pois enfim puderam assistir o show em paz, sem a presença de uma pessoa inconveniente a estragar o prazer coletivo.
Seguimos a tocar normalmente e devo salientar que os meus companheiros nem perceberam essa manifestação isolada e eu só fui comentar com o Rodrigo Hid, sobre tal ocorrido, no dia seguinte ao show.
Temas como: "Não Tenha Medo", "Festa do Rock", "Cão Vadio" e "Homem Carbono" foram executados, com grande resposta do caloroso público presente. E aí chegamos à reta final com "Colúmbia". Não sem antes, o produtor fonográfico, Luiz Carlos Calanca ser chamado ao palco para ser ovacionado pela plateia.
Luiz Carlos Calanca, produtor fonográfico e proprietário da loja/gravadora, Baratos Afins, no momento em que foi ovacionado pelo público do Sesc Pompeia de São Paulo, em meio ao show da Patrulha do Espaço. 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Bolívia & Cátia
Visivelmente emocionado, Calanca comemorou com esse micro festival onde o show da Patrulha do Espaço esteve inserido, os quarenta anos de existência de sua famosa loja e gravadora, Baratos Afins. Algo notável mesmo, visto que sobreviver por quatro décadas, seja com a loja, seja pela gravadora, realmente revelou-se como um ato de heroísmo em um país como o Brasil, que simplesmente despreza a educação, cultura e a preservação de sua própria história.
Muito além dessa realidade, Calanca nunca parou de produzir, a atravessar inúmeras crises econômicas que este país já enfrentou, além dos modismos subculturais, todos, e a derrocada colossal da indústria fonográfica etc.
Bem, a história da Baratos Afins com a Patrulha do Espaço já mostrava-se longeva, pois foi uma das primeiras bandas que o Calanca lançou em disco pela sua gravadora. Eu também tenho uma história antiga com tal gravadora, através dos dois primeiros discos d'A Chave do Sol, sob a produção fonográfica de Luiz Carlos Calanca. Portanto, foi um prazer participar desse show, também por tal celebração e certamente que eu igualmente considerei muito bonita e justa a ovação que ele recebeu ao subir ao palco e quando ele aproximou-se de minha pessoa para um abraço no palco, eu pude lhe agradecer por tudo e esse "tudo", foi a expressão mais apropriada a denotar pelos trabalhos d'A Chave do Sol por ele produzidos, discos da Patrulha do Espaço que ele lançou, embora não sejam da discografia de minha formação, exatamente, mas sinto-me igualmente agraciado, esforços empreendidos pelo "Pedra", banda que não gravou pela Baratos Afins, mas recebeu ajuda direta dele, através de shows por ele produzidos e muito recentemente (em 2018, mesmo), com Kim Kehl & Os Kurandeiros, quando selamos parceria para o lançamento de um single pela via virtual, em que orgulhosamente obtivemos a chancela da gravadora Baratos Afins, para estarmos presentes nas plataformas para vendas digitais.
Em suma, caracterizava-se como uma parceria com a Patrulha do Espaço, desde 1982, e comigo em particular, através d'A Chave do Sol, inicialmente, desde 1983. Fiquei feliz e orgulhoso por tocar na sua festa de quarenta anos, marcados pela fé absoluta no Rock brasileiro.
Encerramos o espetáculo e mesmo com o tempo bastante estourado e sob aquela pressão habitual exercida por produtores do Sesc para encerrarmos, pudemos enfim tocar ao menos uma canção em termos de bis, que o público pediu com entusiasmo. E assim executamos: "Vou Rolar", do disco, "Missão na Área 13", para encerrar a noitada.
Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia de São Paulo em 11 de maio de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Washington Santos
Missão cumprida, não na Área 13, mas no celebrado Sesc Pompeia, equipamento cultural histórico e encravado em um bairro igualmente histórico para o Rock paulistano, paulista e brasileiro.
Fechamos mais uma bela história na Vila Pompeia por onde tanto eu caminhei pelos idos de 1966 e 1967, tempo em que ali morei e quando em todo quarteirão do bairro havia uma banda de Rock a ensaiar nas tardes de sábado. Rocker tornei-me também, e ali, mais uma vez: "veni; vidi & vici", ave Pompeia Rock...
Eis acima um vídeo a conter duas canções que executamos nessa noite, no Sesc Pompeia: "Não Tenha Medo" e "Arrepiado". Filmagem de André Santos
Eis o Link para assistir no YouTube:
Clima agradável ao extremo na coxia, onde recebi muitos cumprimentos da parte de amigos queridos ali presentes e que estendeu-se ao camarim no pós show. Ficamos com a sensação de um bom trabalho realizado e felizes por termos feito um show de despedida da nossa banda, na sua cidade natal, além de participarmos e celebrarmos o aniversário da Baratos Afins e assim a homenagear-se dessa forma, o seu mentor, o Rocker inveterado, Luiz Carlos Calanca.
No dia seguinte, sábado, um compromisso extra fora marcado. A banda não estava a viver a normalidade de sua carreira, tratava-se de uma turnê de despedida, mas essa semana em São Paulo, apesar desse caráter não oficial, pareceu-nos uma rotina de banda na ativa, pois além do show realizado no Sesc e esse compromisso do dia seguinte, que seria a gravação de um programa de rádio, especial, marcaria também a realização de três ensaios para a semana subsequente e mais um show a ser cumprido no sábado, dia 19 de maio, do qual, falo mais adiante na narrativa.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário