domingo, 4 de novembro de 2018

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Uncle & Friends) - Capítulo 92 - Por Luiz Domingues

Sob um curto espaço de tempo, eis que surgiram várias oportunidades para a minha atuação em termos de trabalhos avulsos. 
 
Em julho de 2018, eu havia tocado em meio a um enorme combo formado por muitos músicos, quando participei do “Festival Mulherada Criativa”. Ali mesmo nesses bastidores, o guitarrista e compositor, Lincoln Baraccat, havia formulado-me um convite, para que eu participasse de sua banda de apoio para uma apresentação em um outro festival ao ar livre, igualmente produzido pelo Centro Cultural da Vila Pompeia, pelas ruas desse tradicional bairro da zona oeste de São Paulo, a ser realizado, dali a cerca de cinquenta dias, e que denominar-se-ia: “A Gosto Musical”. 
 
Nesse ínterim, poucos dias depois, fui convidado pelo guitarrista, Chico Suman, para uma apresentação em casa noturna, mas que não viabilizou-se por um mero detalhe logístico de minha parte, que tornara-se incontornável e nesse caso, lastimei a sua não concretização, assim como o amigo, Suman. Achei portanto, que a próxima atividade extra aos trabalhos regulares que desenvolvia com a minha banda oficial, Kim Kehl & Os Kurandeiros (e leve em conta o leitor, que nessa fase de 2018, eu estava também a apresentar-me em vários shows da Patrulha do Espaço, na condição de um ex-membro convidado a fazer parte da sua turnê de despedida da sua carreira), seria a acompanhar, Lincoln Baraccat, conforme agendara-se a partir do seu convite, mas eis que surgiu o convite de Diogo Oliveira, um super artista que muito admiro e lá fui eu participar de uma Jam-Session com ele e o ótimo baterista, Pedro Silva, em uma casa noturna (experiência relatada no capítulo anterior). Entretanto, sem mais surpresas no meio do caminho, o próximo trabalho foi mesmo com Lincoln Baraccat.
        Fotógrafo de primeira linha, Lincoln "The Uncle" Baraccat
 
Para melhor situar o leitor, vale a pena esclarecer que apesar de possuir um bom trabalho autoral e ser portanto um compositor, guitarrista e vocalista, Lincoln Baraccat não tinha a carreira musical como prioridade em sua vida. As suas principais atividades pautavam-se pelas artes gráficas, onde ostentava uma carreira prolífica, como fotógrafo, ilustrador, chargista, desenhista, artefinalista, webdesigner e publicitário. 
 
Como fotógrafo, a sua fama mostrava-se enorme, dada a sua produção pregressa e consagrada. Por exemplo, são incontáveis os trabalhos dele para bandas de Rock, desde os anos setenta, com material para capa e encartes de álbuns, fotos promocionais e sobretudo, fotos ao vivo. E não são fotos comuns, mas verdadeiras obras de arte, tamanha a sua perspicácia em capturar momentos mágicos dos artistas no palco e aí, tirante o seu talento como fotógrafo, o fato de também tocar, cantar & compor, deu-lhe essa sensibilidade extra, para clicar com extrema maestria.

Item clássico da discografia da Patrulha do Espaço, o famoso "disco branco", lançado em 1982, teve o apoio fotográfico de Lincoln Baraccat, apenas um entre tantos trabalhos significativos que ele produziu no campo da fotografia
 
Já ouvia falar sobre a sua fama, como fotógrafo, desde os anos oitenta, mas não o conheci nessa ocasião. Soube que mudara-se do Brasil, e assim, não havia perspectiva para que trabalhássemos juntos, presumivelmente. 
 
Quando eu entrei na formação da Patrulha do Espaço, em 1999, lembro-me que o Rolando Castello Junior quis marcar uma sessão de fotos com o Lincoln, que estava de volta ao Brasil e do qual falava maravilhas, pelos trabalhos que este realizara para a nossa banda nos anos oitenta, quando eu nem era membro, mas já era amigo do Rolando, por conta da ajuda providencial que este prestara à minha então banda, “A Chave do Sol”. E desde essa época (falo sobre algo ocorrido em 1982), o Rolando elogiava e recomendava os serviços de Baraccat. 
 
De volta ao ponto da narrativa, em 1999, fui com o Rolando à residência do Lincoln Baraccat para fecharmos uma sessão de fotos, mas um desencontro ocorreu e não foi possível encontrá-lo nesse dia, além de que um impedimento posterior fez com que procurássemos outro fotógrafo, Moa Sitibaldi, quando realizamos enfim a sessão de fotos promocionais que necessitávamos, por volta de outubro desse ano (1999).
Foto de Lincoln Baraccat a retratar a minha pessoa, durante a apresentação da Magnólia Blues Band, em 12 de março de 2014, ocasião em que conhecemo-nos, pessoalmente
 
Foi somente em 2014, que finalmente eu conheci, Lincoln Baraccat, pessoalmente, quando este compareceu ao Magnólia Villa Bar, para prestigiar mais uma apresentação da então, “Magnólia Blues Band”, banda que mantinha como núcleo base, os próprios Kurandeiros, acrescido do tecladista, Alexandre Rioli, com o intuito de convidar um artista por semana para uma grande Jam Session. Nessa circunstância, eis que Lincoln veio acompanhar a participação do guitarrista, Marceleza “Bottleneck”, amigo em comum de todos nós. 
 
Lincoln clicou ótimas fotos e veio prestigiar a Magnólia Blues Band em outras ocasiões, igualmente. Mas tirante essa fase em 2014, não estabelecemos um forte vínculo de amizade e dali em diante, nos anos posteriores, ele assistiu mais alguns shows, aí sim, dos Kurandeiros, ocasiões em que nos fotografou, mas sem que conversássemos mais detidamente. 
Todavia, foi nos bastidores do evento, “Festival Mulherada Criativa” que ele abordou-me e formulou o convite, a avisar-me que tinha em mãos a certeza de contar com três músicos da pesada, os guitarristas excepcionais: Roy Carlini e Caio Durazzo, além do monstruoso baterista, Franklin Paolillo e da cantora, Amanda Semerjion, dona de uma voz belíssima. Portanto, fiquei honrado e feliz por saber que teria tantas companhias com alto quilate artístico, nessa apresentação. 
 
Consultei Lara Pap, a produtora dos Kurandeiros e soube que a data estava disponível e por coincidência, o nosso baterista, Carlinhos Machado, também participaria do mesmo evento, na condição de convidado de um outro combo montado com a presença de inúmeros músicos amigos nossos, incluso Rubens Gióia, o meu ex-colega d’A Chave do Sol.

Dali em diante, foram alguns dias com troca de mensagens entre eu e Lincoln, onde as coordenadas foram estabelecidas e mediante um e-mail a conter o material virtual com o áudio das canções, suas respectivas letras e o mapa harmônico cifrado, tudo facilitou-se para que eu pudesse conhecer e decorar o seu material. 
 
Chegara o dia da apresentação, e mesmo sem a marcação de nenhum ensaio prévio, eu sabia que mediante a participação de músicos daquele calibre, nada poderia dar errado e da minha parte, as canções já estavam dominadas. Tratou-se de um conjunto composto por Rocks, Blues e Baladas, todas com um certo ar cinquentista, portanto, agradabilíssimas para tocar-se. Mais que isso, a apresentar boas melodias e espaço generoso para um revezamento de solos, entre Roy Carlini e Caio Durazzo, e até do próprio, Lincoln Baraccat. 
 
Foi no domingo, 19 de agosto de 2018, que tal data configurou-se, entretanto, na véspera, um recado geral foi emitido a dar conta de que o posto de gasolina localizado na esquina, onde o palco seria montado, serviria como estacionamento disponível aos participantes. Comemorei, pois tocar em feiras ao ar livre sempre foi muito difícil por esse aspecto da logística. Mas quando eu cheguei ao local, no dia do evento, passei pelas bombas de gasolina a bordo de meu automóvel e logo o frentista abordou-me para cobrar-me uma quantia absurda, seguramente o dobro do preço que um estacionamento cobraria em um dia comum. Incontinente, engatei a marcha ré do carro e evadi-me do posto, pois claro que o sinal emitido fora violado e na verdade, o estabelecimento não vinculara um convênio com a organização do festival para dar suporte aos artistas e técnicos participantes, mas o seu objetivo seria cobrar de todos, incluso os visitantes da feira. Bem, por sorte, achei uma vaga de rua, dois quarteirões abaixo e apesar de ser incômodo e deveras perigoso caminhar e carregar o case (estojo) do instrumento, foi pelo menos algo melhor que sucumbir aos exploradores da festa.

Sanada essa questão, assim que cheguei perto do palco, encontrei-me com inúmeros amigos: músicos, produtores, fotógrafos, jornalistas e radialistas, enfim, muita gente ligada à música e foi um prazer conversar com tantos amigos ali reunidos. Tais festivais tem sempre essa característica, devo observar e isso por si só, já faz valer a participação, mas claro, existe o prazer de se subir ao palco e tocar, evidentemente. Em meio a tanta gente conhecida que cumprimentara, avistei a figura de Lincoln Baraccat, cujo apelido que ostentava nessa época, "The Uncle", servira-lhe também para denominar a banda: "Uncle & Friends". 
Continua...
 

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