segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Uncle & Friends) - Capítulo 93 - Por Luiz Domingues

Cada vez que apresenta-se, Lincoln Baraccat inventa um nome novo para a banda e o seu show, especialmente cunhado para cada ocasião e desta feita, apresentar-nos-íamos como: “The Uncle & Friends”. 

Fui informado que Caio Durazzo estava a chegar, por dirigir-se diretamente de um outro evento onde tocara no início daquela tarde, e Roy Carlini, idem, pois apresentara-se em uma cidade interiorana próxima, e sinalizara estar na estrada, de volta a São Paulo, e já quase a chegar. Viria com ele, a sua esposa, a cantora, Amanda Semerjion, que também participaria. Eis que o excepcional baterista, Franklin Paolillo chegou e a banda que precedera-nos, tocava os seus últimos números. 

Em tom de brincadeira, algum amigo falou ao Lincoln, que não teríamos outra alternativa, a não ser tocarmos como trio, visto que os demais convidados não haviam chegado ainda. Ele brincou também, ao responder que acalentara desde sempre esse sonho em tocar com um formato “Power-Trio”. Eu não receei, pois se isso de fato concretizasse-se, pelo fato dele ser o compositor das canções, sabia toda a harmonia, melodia e letras das canções, obviamente. E como eu estava seguro sobre a minha parte e o Franklin Paolillo, além de ser um baterista monstruoso, também já havia feito outras apresentações a tocar esse trabalho do Lincoln, portanto, eu não enxerguei nenhum problema em começar o show só entre nós três, caso os demais chegassem atrasados. 

O senhor que subiu inesperadamente ao palco para cantar e ao seu lado, mais jovem e alto, o organizador da Feira, Cleber, do Centro Cultural da Vila Pompeia. Lastimavelmente, desconheço o nome do senhor veterano para citá-lo, aqui. Festival A Gosto Musical, na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia: Zéppa de Souza Filho
 
Então subimos ao palco e iniciamos os preparativos pessoais, quando o organizador geral da Feira, o Cleber, que costuma organizar todas as feiras do bairro ao longo do ano inteiro, surge no palco a conduzir um senhor idoso, e eu notei que este veterano senhor, balbuciou alguma coisa com o Lincoln, mas nessa confusão com técnicos a fazer ajustes na troca de set up de uma banda para a outra, eu imaginei que o senhor queria falar ao microfone, talvez para fazer um agradecimento ou emitir algum recado com interesse público. 

Mas eis que o vejo a falar com o Lincoln, sobre tonalidade de músicas e assim que percebi a situação que desenhara-se, não deu tempo para esboçar uma reação sequer, pois o senhor em questão virou-se em minha direção e perguntou-me: -“o senhor é que vai tocar contrabaixo?” 

E nem deu tempo para eu responder-lhe, pois a seguir falou-me: -"La menor, vamos tocar uma canção mariache, mexicana”... Bem, não foi nada difícil para executar, mas assim sob surpresa, realmente... e o público adorou, não pela excelência musical, dada a improvisação absoluta ali estabelecida, mas gostaram da figura do senhor idoso, e que empolgara-se em cantar, ao soltar a voz, mediante um gestual bem típico de cantores de outrora, a sua referência pessoal, certamente. 

Tudo bem, não custou-nos nada dar atenção ao senhor idoso e nessa altura, Roy Carlini já havia chegado e montava o seu amplificador ao meu lado. Mas eis que o senhor fulmina-nos ao dizer ao microfone: -“Ré menor, Rock Around the Clock”... e saiu a cantar, mesmo que nós não houvéssemos emitido um acorde inicial para ele ajustar a sua voz, à tonalidade. O público apreciou, mesmo ante a precariedade inusitada da situação e mesmo a atrapalhar-se com a letra e não respeitar o mapa harmônico da música, ele conseguiu interpretar até o seu final. 

O senhor em questão, com a minha presença encoberta, atrás, com Lincoln "The Uncle" Baraccat, ao seu lado e Franklin Paolillo, atrás na bateria e encoberto. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia: Marcos Vinícius Troyan Streithorst

Então, mais uma vez o senhor forçou a situação, ao anunciar: -“Rock Around the Clock”, quando o Lincoln retrucou-lhe: -“mas o senhor acabou de cantar essa”... e o senhor em questão, a mostrar-se desorientado, respondeu-lhe: -“já cantei? Bem, realmente seria de bom tom ter parado ali e tudo bem, mas o idoso a seguir, gritou, entusiasmadamente: -“Tutti-Frutti” e começou a cantar o clássico de Little Richard, mas nós tocamos apenas um pequeno trecho e logo o Lincoln deu um basta, ao agradecer a participação do senhor, e deu a entender que estava encerrada a sua forçada participação e que por conseguinte, nós precisávamos iniciar oficialmente o nosso show. 

Nessa altura, o guitarrista, Caio Durazzo já estava no palco, pronto para atuar conosco e a cantora, Amanda Semerjion, encontrava-se no backstage, também pronta para atuar e ela não cantaria em todas as canções, apenas aguardaria o seu momento para atuar, ali no início do espetáculo.

Flagrantes da atuação da banda que acompanhou Lincoln "The Uncle" Baraccat. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia: Humberto Morais
 
Tudo pronto, começamos e aí foi uma sucessão de momentos bons que ali vivenciamos, pois todos fizeram a sua tarefa caseira e a falta de um ensaio formal, não revelou-se necessário. Música após música, foi bastante prazeroso e o público respondeu calorosamente. 
 
Sobre a banda, cabe registrar que Roy Carlini é filho de Luiz Carlini e de fato herdou, via DNA, o talento do pai, pois tocou com maestria. Tanto nas bases, quanto nos solos e sobretudo pelo ótimo uso do slide guitar, fez uma apresentação impecável. Também cantou bem, a dividir com o Lincoln, alguns vocais. 
 
Sobre Caio Durazzo, o mesmo raciocínio, ele tocou demais, com um estilo diferente, e isso foi ótimo para fornecer o devido diferencial ao show. Mestre em Rock’n' Roll clássico cinquentista, notadamente a escola do Rockabilly, Durazzo foi o guitarrista certo na hora certa, ali. Ele também dividiu voz com o Lincoln. 
 
Sobre Franklin Paolillo, o que mais pode ser dito sobre um dos maiores bateristas da história do Rock brasileiro? Pois eis que vi-me em meio às suas viradas incríveis, quebradas super criativas no chimbau e mais uma variedade de surpresas rítmicas, as quais tive o prazer em buscar improvisar junto com ele, ao dividir as minhas frases do baixo. E como se não bastasse, ele é um Ser humano incrível, com uma humildade que cativa-nos completamente. E ainda tivemos o creme especial para tornar o confeito ali produzido, algo muito especial: Amanda Semerjion canta com uma graça tremenda e foi além, pois ligou o “drive” na sua garganta e rasgou em alguns momentos a garantir-nos uma performance excelente. 
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia: João Pirovic
 
Na última canção, “Bolinha de Gude”, o radialista, Rogério Utrila, subiu e cantou junto com Lincoln. Em suma, foi uma apresentação autoral de um trabalho que não teve um ensaio prévio, mas que soou tão bem, que pareceu uma banda a trabalhar com regularidade. 
 
O público apreciou, a feira estava bem cheia e apesar do inverno de 2018, ter lembrado os invernos antigos em São Paulo, dada a incidência de baixas temperaturas por bastante tempo, neste domingo em específico, o frio apresentou-se moderado e assim, muitas famílias estiveram presentes, com idosos e crianças incluso, portanto, foi bastante movimentado e divertido, em meio a tantos Food Trucks e Rock’n' Roll a predominar no palco. 
 
Alguém contou-me que nas redes sociais alguns moradores das imediações estavam a reclamar com veemência sobre a interdição, bagunça e sobretudo pelo barulho perpetrado pelas apresentações. 
Bem, não seria possível agradar a todos, mas na contrapartida, quem esteve na rua, divertiu-se a valer e sinto muito se atrapalhamos o futebol na TV de quem incomodou-se com o som alto e para quem importa-se com o ludopédio, meu caso, o meu time ganhou naquela tarde e o meu amigo, Nilton "Cachorrão" Cesar, avisou-me do resultado, enquanto eu ainda tocava...
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia: Marcos Vinicius Troyan Streithorst           

Por ser um fotógrafo sob alto padrão, Lincoln Baraccat atraiu a presença de inúmeros colegas seus a prestigiá-lo. Aqui neste capítulo, usei algumas das fotos disponíveis desse evento, mas nos tópicos referentes ao material desse trabalho, o leitor encontrará o material completo, bem mais vasto. É só pesquisar no meu Blog 3.
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia de Marcos Kishi
 

E assim foi, toquei com uma turma da pesada no show: “Uncle & Friends”, a executar o material autoral do guitarrista/cantor e compositor, Lincoln “The Uncle” Baraccat, com muito prazer e um toque ficou no ar, quando ele afirmou-me: -“poderão haver outros”. Sim, com certeza, é só convidar-me e se eu puder, lá estarei. 
 
Domingo, dia 19 de agosto de 2018, no evento: “A Gosto Musical”, sob um palco montado no cruzamento das Ruas Padre Chico, com Diana, no coração da Vila Pompeia, na zona oeste de São Paulo, com cerca de trezentas pessoas ali na audiência. 
Mais flagrantes da apresentação. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia: Leandro Almeida
 
E mais uma particularidade, que na verdade revelou-se uma incrível coincidência: Lincoln, Roy e Caio, tocaram com guitarras Fender Telecaster! Creio que não combinaram entre si, mas os três usaram o mesmo modelo, algo que eu não nunca tinha visto antes e até o Luiz Carlini observou com precisão, ter sido algo muito exótico.
Confraternização final no pós-show. Festival "A Gosto Musical", na Vila Pompeia em São Paulo. 19 de agosto de 2018. Click, acervo e cortesia:Vanderlei Bavaro
 
Bem, esse ano de 2018, mostrara-se pródigo em termos de convites para trabalhos avulsos e dessa maneira, questão de um mês depois, eu receberia mais um. Uma terceira oportunidade para tocar no Hid Trio, um combo super improvisado, liderado por Rodrigo Hid e a convidar baixistas e bateristas diferentes, o tempo todo. Esse é o assunto do próximo capítulo!

Continua...

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