sábado, 17 de novembro de 2018

Crônicas da Autobiografia - Excesso de Etiqueta - Por Luiz Domingues

Aconteceu nos últimos momentos d'A Chave do Sol, ao final de 1987...

Nos últimos meses de vida d'A Chave do Sol, infelizmente o clima interno da banda não foi nada bom e assim, revelou-se um tempo marcado pela luta desesperada pela sobrevivência do nosso grupo, a gerar angústia generalizada e lastimavelmente, por nutrirmos medo pelo final inevitável do nosso trabalho. 

Sob tal clima caótico, em meio aos esforços frenéticos para evitar o mal maior, eis que uma revista renomada no meio cultural, sinalizou apoio e lá fui eu à sua redação, para entregar-lhe o material de divulgação da banda e realizar a dita, visita social. 

E ali eu fui bem-recebido, certamente, pois tratava-se de uma equipe formada por pessoas educadas, mas algo muito atípico ocorreu, mesmo com o clima amistoso instaurado, a denotar uma estranha contradição, digamos assim.

Pois desde que eu entrei no pequeno escritório, cumprimentei efusivamente a todos e fui muito bem correspondido na gentileza, mas assim que os cumprimentos cessaram e um silêncio generalizado adveio, eis que um membro dessa equipe, pediu-me com delicadeza para que eu afastasse-me um passo da mesa onde ele trabalhava. 

Ora, tudo, bem, nem achei que estivesse tão perto, mas obviamente esteve longe de minha intenção ser inconveniente e assim gerar algum incômodo ali, visto que eu sabia muito bem que a visita deveria ser rápida e objetiva, pela lógica implícita de não ser de bom tom atrapalhar o expediente de trabalho. 

Dei um passo atrás e logo a seguir, um outro funcionário solicitou que eu não ficasse ali entre as duas mesas, pois haveria por atrapalhar o caminho para os rápidos deslocamentos que os jornalistas ali costumavam empreender. 

Claro, perdão... assim pronunciei-me e rapidamente alojei-me em um outro canto, mas que inevitavelmente pela arquitetura do pequeno escritório, obrigara-me a permanecer de costas para uma parede e assim, logo depois, outro funcionário advertiu-me que não era permitido encostar ali, por gerar a possibilidade de sujar a pintura.  

Ora, justo, nem eu gostaria de manchar a minha roupa. Desloquei-me conforme o solicitado e ao avistar um banco que não estava ocupado por ninguém, rapidamente fiz menção de sentar-me, todavia, eis que veio a gota d'água, quando fui avisado que o banco pertencia a um determinado membro da equipe e mesmo com ele ausente, não era permitido usá-lo. 

E o mais bizarro nessa história, foi que todas as solicitações foram concluídas com bom humor e educação, ao denotar a maior normalidade, como se tal comportamento irritante, despendido a uma visita, fosse algo absolutamente normal e eu é que seria o brucutu antissocial ali, ao não entender as regras básicas de civilidade. 

E descarto completamente a ideia de que tratou-se de uma coleção de atos premeditados com a intenção deliberada de manter um território hostil, para que eu evadisse-me imediatamente do local, visto que muito pelo contrário, eu estive ali a atender um convite formulado da parte deles mesmos.  

Portanto, a conclusão que tenho sob tal episódio, revela uma maneirismo particular da parte daquelas pessoas, ao construir normas próprias de convívio em seu ambiente de trabalho e realmente quem não fizesse parte daquela equipe e conhecesse os seus códigos secretos de conduta interna, realmente tendia a estranhar. E foi o meu caso e quiçá de outros que ali passaram pela mesma experiência bizarra.

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