quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 318 - Por Luiz Domingues

Eis que chegou o dia do show no Sesc Pompeia e logo que eu chequei os meus recados nas redes sociais, vi que várias pessoas avisaram-me e repercutia de uma maneira geral que o anúncio do show estava em vários portais de notícias, mas um deles em particular, mostrara-se mais vistoso, digamos assim e sem nenhum demérito aos demais. 

Porém, acostumados desde sempre a habitarmos o mundo underground do show business, nas raras ocasiões em que um órgão mainstream tratava-nos com reverência, chegava a causar espécie.

Ocorreu que uma matéria sobre o show fora publicada no portal de notícias G1, que pertencia à Rede Globo e para ilustrar a matéria, um vídeo da Patrulha do Espaço fora postado. 

E tratou-se de nossa aparição em 2003, com a formação Chronophágica em ação e naquela ocasião a participarmos das comemorações em prol dos então vinte e cinco anos de existência da gravadora Baratos Afins. 

Portanto, além de alvissareiro, marcou um elo entre a Patrulha do Espaço, a Baratos Afins e a própria efeméride em si, visto que neste novo instante, 2018, tocaríamos no mesmo palco e formação, com o acréscimo de Marta Benévolo, mas com a ausência de Marcello Schevano, conforme eu já descrevi anteriormente.

Foto informal do interior da van que conduziu a banda, do estúdio Orra Meu para o Sesc Pompeia, em 11 de maio de 2018. Rolando Castello Junior no primeiro plano, Marinho Thomaz na condução da van, com Samuel Wagner ao seu lado. Click: Luiz Domingues

Encontramo-nos no estúdio Orra Meu, por volta das treze horas e tivemos uma ótima surpresa ali, ao saber da companhia que teríamos e sobre a qual não estava planejada, anteriormente. 

Ocorreu que por força de Marcello Schevano não poder tocar conosco nessa noite (por conta do show que faria com o Golpe de Estado na mesma data, em outro espaço na cidade, no Teatro Eva Wilma, localizado no bairro da Vila Carrão, zona leste de São Paulo), além da sua perda em nossas fileiras, o fato foi que também a nossa estrutura logística quebrou-se, nesse ínterim. 

A equipe técnica que servir-nos-ia, teve que ser dividida para atender o Golpe de Estado, portanto, se a ideia inicial foi contar com o roadie, Daniel Barreto, como roadie e motorista da Van que conduzir-nos-ia ao Sesc Pompeia, com essa divisão, ele foi designado para trabalhar com o Golpe de Estado. Tudo bem, teríamos dois roadies conosco, da velha equipe da nossa fase Chronophágica, nas pessoas amigas de Samuel Wagner e Daniel "Kid". 

Todavia, não haveria um motorista habilitado para conduzir a van, em princípio, mas tudo mudou quando um amigo de longa data, músico de altíssimo nível e famoso ao extremo, tomou a dianteira e ao surpreender-nos, ofereceu-se de pronto para conduzir-nos! Não acreditamos, mas o nosso motorista nessa missão, foi Marinho Thomaz, baterista seminal do histórico grupo de Rock, "Casa das Máquinas", uma das mais importantes bandas da história do Rock brasileiro, mas também com passagem pelo Tutti-Frutti, Humahuaca e uma infinidade de trabalhos avulsos a serviço de artistas a atuar em bandas de apoio, como side-man de Guilherme Arantes e muitos outros. 

Então, além de ajudar-nos tremendamente com o seu gentil oferecimento, nós ganhamos uma companhia incrível, tanto no percurso em sua ida e volta, quanto nos momentos prazerosos que tivemos no camarim do pré-show, quando ele contou-nos histórias inacreditáveis sobre a sua carreira, incluso bem do começo, nos anos sessenta e ainda recuou ainda mais, a citar a sua infância, ao final dos anos cinquenta, a acompanhar o seu irmão, Netinho Thomaz, nos bastidores dos shows do The Clevers, e posteriormente d'Os Incríveis, bandas pelas quais o seu irmão tocou e foi um grande astro. Bem, por essa não esperávamos e foi um prazer inenarrável contar com a sua companhia e sobretudo pelas histórias que garantiu-nos horas com gargalhadas intermináveis, mediante as histórias incríveis e hilárias, que ele contou-nos. 

Chegamos ao Sesc Pompeia e assim que adentramos as suas dependências, pela lateral do seu histórico teatro, claro que muitas lembranças passaram pela minha mente: A Chave do Sol, Língua de Trapo, o programa da TV Cultura, "A Fábrica do Som" e a própria, Patrulha do Espaço em minha fase chronophágica, que também ali apresentara-se em 2001, durante a filmagem do programa, "Musikaos", também da TV Cultura. 

Ali eu construíra muitas histórias que já foram relatadas em minha autobiografia, certamente. Todavia, não tocaríamos ali naquela noite, mas no palco de um outro espaço tão icônico quanto, na história do Sesc Pompeia e igualmente a trazer lembranças, principalmente para a Patrulha do Espaço de nossa formação, com outras apresentações que ali fizemos entre 2001 e 2003. 

Eis que eu aproximo-me do palco e ao cumprimentar os técnicos da equipe técnica do backline e PA que ali trabalhavam, sou surpreendido, quando o técnico do PA cumprimenta-me a perguntar-me: -"você não está a lembrar-se de mim, não é mesmo?" Cáspite, aquele tipo de situação que eu detesto enfrentar, isto é, não reconhecer alguém com quem eu tivera um contato no passado, a gerar aquele constrangimento... 

Poiss então ele quebrou o suspense e esclareceu-me ser o Zé Luiz, técnico de som responsável pela produção do EP d'A Chave do Sol em 1985, no estúdio Vice-Versa. Poxa, não o revia desde tal época, praticamente, apesar de saber que ele trabalhara durante esses anos todos, com diversos artistas amigos meus, tais como as bandas: Golpe de Estado, Taffo e Dr. Sin. Ótimo, se já era um bom profissional em 1985, imagine em 2018, com a experiência acumulada!

Logo a seguir, chegou ao ambiente, Luiz Carlos Calanca. Ele estava exausto pela maratona da produção na noite anterior sob a sua própria curadoria, mas feliz, por estar a concretizar a comemoração dos quarenta anos de atividades da sua loja e gravadora. 

De fato, em um país como o Brasil, isso foi muito além do extraordinário, mesmo por que, no ramo da cultura e ao raciocinarmos como loja de de discos e gravadora a lançar artistas do nicho underground, realmente persistir foi um ato heroico, do qual ele merece os meus cumprimentos mais efusivos. 

Instalamo-nos no camarim e conversamos bastante, notadamente sobre o panorama da produção musical nos então dias atuais, com a presença do Rolando e de Marta Benévolo e claro que também foi um momento prazeroso para esse momento pré-show. Fomos para o palco acompanhar o processo da preparação do backline e do PA/monitor e claro, para iniciarmos a nossa preparação prévia para o soundcheck. 

Foi quando eu avistei adentrar ao ambiente, o guitarrista, Micka, líder do Santuário, banda da seara do Heavy-Metal, que fizera a sua fama nesse nicho, nos anos oitenta e que abriria o show, na condição de representante das coletâneas: "SP Metal Volumes I e II", álbuns lançados pela Baratos Afins e que fizeram sucesso entre o público desse universo específico, naquela década. 

A intenção do Luiz Calanca, certamente fora montar o seu festival com representantes de alguns de seus lançamentos e ante a realidade que muitas bandas estavam dissolvidas há anos, houve uma dificuldade operacional na montagem desse elenco a repercutir os quarenta anos de existência da Baratos Afins.

Em conversa que eu tive com o próprio Micka, sempre muito simpático, por sinal, ele esclareceu-me que o próprio, Santuário, na prática não existia mais ativamente, há anos. Houvera um show em 2015, apenas, para que a banda gravasse a sua participação no filme que ele mesmo, Micka, produzira, para contar a história do Heavy Metal no Brasil. 

E agora, a sua banda cumpriria esse show de 2018, novamente com a intenção em filmar e fotografar bem a performance. Nada contra a banda e muito menos em relação ao Micka, que era (é) um sujeito 100% do bem, em todos os sentidos, mas a junção do Santuário conosco foi equivocada ao meu ver. 

O Calanca deveria ter preparado uma noite Heavy-Metal em específico e escalado uma outra banda do mesmo nicho para atuar com eles e sem elucubrar em demasia, eu digo que artistas como o Salário Mínimo, Centúrias e Harppia, eram bandas que estavam na ativa em 2018 e todas com uma história dentro da Baratos Afins, todavia, o Luiz deve ter tido os seus critérios para escolher e optou dessa forma, embora eu não tenha avaliado tal junção, como muito feliz, pela disparidade entre os estilos. 

Tirante o fato de que a presença d'A Chave do Sol, seria impossível e o Golpe de Estado apresentava um conflito de agenda naquela mesma noite, acredito que mesmo assim, haveriam opções mais compatíveis com o nosso nicho de atuação, talvez até a citar "As Radioativas", uma banda bem mais moderna, mas certamente mais próxima de nossa proposta sonora. 

Bem, condições estéticas tão somente, visto que não haveria e não houve, nenhum problema em conviver e compartilhar o palco com o Santuário, no que aliás, foi um prazer poder conversar com o Micka e os demais componentes dessa banda, nos bastidores, em vários momentos durante aquela tarde e noite. 

Rodrigo Hid e Zé Brasil, no camarim, antes do show. Patrulha do Espaço no Sesc Pompeia, em 11 de maio de 2018. Acervo e cortesia de Zé Brasil. Click: Silvia Helena 

No camarim, além do pessoal do Santuário, Luiz Carlos Calanca e das histórias incríveis de Marinho Thomaz, recebemos também muitos amigos queridos, antes e depois. Zé Brasil e Silvia Helena, a dupla/casal do Apokalipsys, o músico e crítico musical, Régis Tadeu, Marcelo Dorota Martins, que foi webdesigner da Patrulha do Espaço em 2001, Michel Camporeze Téer e a sua esposa, Vera Mendes (ambos citados muitas vezes na minha autobiografia pelo apoio à própria Patrulha do Espaço, mas sobretudo ao Pedra), a produtora musical, Gigi Jardim e o seu namorado, o guitarrista Marcello Pato, enfim, foi animado.

No camarim do Sesc Pompeia, antes do show. Foto 1) da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Zé Brasil e Daniel "Kid". Foto 2) Em pé, atrás: Eu (Luiz Domingues) e Samuel Wagner. Abaixo: Rodrigo Hid (agachado), Rolando Castello Junior, Daniel "Kid" Ribeiro e Marta Benévolo. Foto 1: Acervo e cortesia: Zé Brasil. Click: Silvia Helena. Foto 2: Acervo e cortesia: Daniel "Kid" . Click: Marcelo Dorota Martins

Bem, mediante um clima ótimo no camarim, com bastante café e muitas histórias sobre o Rock em São Paulo no ano de 1968, por exemplo, em que muitos ali guardavam muitas lembranças para externar, estava tudo ótimo, entretanto, fomos avisados que o Santuário estava na penúltima música de seu show, portanto, hora para irmos à coxia e empreendermos os últimos ajustes para entrarmos em cena...

Continua...

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