O tal show extra em São Paulo, que o Rolando aventara, foi mesmo agendado e tratou-se da inserção da banda no evento: "Virada Cultural", tradicional na cidade, desde muito tempo. Ótimo, tocaríamos em um palco bem estruturado, no centro da cidade e certamente ante uma grande multidão.
Como havíamos tocado na sexta-feira anterior e no sábado subsequente participáramos da gravação do programa, "Live on the Rocks", da Webradio Stay Rock Brazil, a confirmação da nossa participação na Virada Cultural de São Paulo motivou a marcação de mais ensaios, mesmo por que, Marcello Schevano participaria conosco e assim, músicas clássicas da nossa formação, seriam executadas.
Muito bem, reunimo-nos portanto, nos dias 14, 15 & 16 de maio, no estúdio Orra Meu e assim realizamos ensaios com a formação "Chronophágica" completa, mais a presença da cantora, Marta Benévolo, naturalmente. Tivemos também um convidado especial, na presença do vocalista, Rogério Fernandes, que fora convidado e cantaria a canção, "Cão Vadio", conosco.
Foram bons ensaios, certamente e nós incluímos canções tais como: "Nave Ave", "Homem Carbono" e "Sunshine", tradicionais pelo uso de teclados e a estabelecer assim o revezamento na pilotagem entre Rodrigo e Marcello, uma tradição da nossa formação, além de outras, caso de "São Paulo City", onde o duo de guitarras feito por ambos, sempre foi muito marcante em nossos shows, quando da nossa formação ao início dos anos 2000.
No dia do show, reunimo-nos no Estúdio Orra Meu e de lá saímos juntos, no uso de uma van, mas a nossa comitiva não sairia inteira, visto que por coincidência, o Marcello teria show com o seu Carro Bomba, naquela mesma noite, em uma casa noturna localizada na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo.
Bem, em meio à confusão que é chegar perto de um dos inúmeros palcos espalhados pela cidade, dentro da "Virada Cultural", além do trânsito mastodôntico gerado pela interdição de várias ruas, chegamos enfim e conseguimos estacionar a van, dentro de um espaço reservado.
Fazia um frio intenso e os camarins, apesar de reservados e separados para cada artista, na verdade foram tendas de lona, portanto, pouco contribuíram para amenizar a sensação de frio ali observada.
Assim que chegamos, o lendário tecladista, Lafayette, apresentava-se e a rebarba do som que ouvimos da monitoração, com evidente delay (atraso), estava com uma massa sonora forte, mas tudo bem mixado, com um equilíbrio muito bom. Fui assistir um pouco da apresentação pela coxia e apreciei a performance. O som parecia bom na monitoração e a banda tocava com muita energia.
Para quem não sabe, Lafayette foi tecladista da banda do Roberto Carlos, "RC7", no tempo da Jovem Guarda e detinha tradicionalmente, como a sua marca registrada, o uso daqueles timbres provenientes do órgão da marca Farfisa e/ou da marca Vox, típicos da década de sessenta, super usados no campo do Pop-Rock ou estilo "Bubblegum" como se dizia à época e também por algumas bandas psicodélicas daquela década e neste caso, a turma da Jovem Guarda também seguira tal tendência.
Cercado por músicos jovens e egressos da cena "indie" noventista, tais como alguns membros de bandas como "Autoramas" e "Penélope", o velho Lafayette mostrou estar em grande forma e claro, em pleno uso daqueles timbres clássicos que o notabilizara na década de sessenta.
Com um repertório 100% calcado no cancioneiro da Jovem Guarda e com predomínio lógico das canções do Roberto Carlos, a apresentação foi muito boa e o público respondeu com bastante entusiasmo. Aliás, eu também reparei quando assisti pela coxia, que já havia uma boa multidão ali presente e segundo fui informado por pessoas ligadas à produção do evento, em nossa apresentação, tendia a aumentar, pois esperavam uma grande multidão por nossa conta e do Made in Brazil que tocaria a seguir.
Tratou-se do palco denominado: "História do Rock", que localizou-se na Avenida Ipiranga, bem na altura do clássico Edifício Copan, famoso por ter uma arquitetura ousada e celebrada por ter sido assinada pelo arquiteto, Oscar Niemeyer.
Encerrado o show do Lafayette, fomos chamados ao palco para a preparação do set up e fora aventada a realização de um ligeiro soundcheck. Descartamos tal operação no entanto, pois fazer isso em frente a uma multidão ali colocada e logicamente aos berros pela adrenalina proveniente da sua expectativa, teria sido muito inconveniente.
Show ao ar livre é sempre complicado e soundcheck tem que ser feito com sossego e com silêncio, portanto, confiamos que a equalização básica já estava feita pelos shows dos artistas que haviam apresentado-se antes de nós e pelo que vimos no caso do Lafayette, estava tudo bem equilibrado, com a devida ressalva de que o nosso som seria muitíssimo mais pesado que a sonoridade a la Jovem Guarda que tal banda praticara.
Tivemos boas presenças no camarim. Marinho Thomaz, baterista do Casa das Máquinas, Luiz Carlos Calanca, proprietário da Loja/gravadora, Baratos Afins, Elizabeth Queiroz, cantora e acompanhada do seu namorado, o intelectual, Sérgio Barbi, enfim, foram boas as conversas ali travadas nos momentos que antecederam o espetáculo. Chegara a hora, fomos para o palco.
Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Rodrigo Hid, Rolando Castello Junior (ao fundo, na bateria), Marta Banévolo e Marcello Schevano. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Marco Antonio
De fato, houve uma grande multidão presente e que esteve ali pronta para enfrentar o frio que fora intenso, potencializado pela sensação térmica, graças às fortes rajadas de vento, Enquanto tocava, eu via a ação do vento sobre as bases de sustentação da lona de proteção do palco e em alguns momentos, chegou a ser assustador. E também pela ação da garoa fina, típica paulistana, embora cada vez mais rara na capital bandeirante, devido a tantas mudanças climáticas nas últimas décadas.
Começamos a tocar com um set pesado, a privilegiar o Hard-Rock, inicialmente e o público respondeu com entusiasmo. Foi patente estar ali presente um público Rocker e formado por muitos fãs da Patrulha do Espaço, certamente.
Rodrigo Hid & Marcello Schevano, o duo de guitarras da nossa formação Chronophágica em pleno momento de energia intensa. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Acervo e cortesia de Rodrigo Hid. Click: desconhecido
Então fomos mesclar um pouco com as canções mais amenas e também com os temas mais progressivos, em que mediante o uso dos teclados e o clássico revezamento entre Hid e Schevano ao instrumento, revivemos com galhardia a nossa formação, em sua potencialidade.
Devo registrar que a música: "Sunshine" arrancou urros da plateia e com quatro vozes ativas, incluso a presença de Marta Benévolo, eis que soou bem bonita a nossa performance. Quando fomos tocar "São Paulo City", algo inusitado ocorreu, no entanto. Eis que iniciamos e com muita energia, o público já entrou de primeira no embalo do pesado riff orientado pelo Blues-Rock, mas infelizmente, quando fomos entrar no refrão e para quem aprecia tal canção e conhece bem a nossa formação, sabe o quanto essa vocalização entrava com força, eis que uma voz intrusa soou inesperadamente nos monitores.
Naquela fração de segundos, ficamos confusos sobre o que ocorria e quando eu olhei ao lado, vi que um intruso surgira, de uma forma completamente fortuita e subira ao palco para cantar, sem ser convidado. Segundo a Marta falou-nos posteriormente, o sujeito havia surpreendido-a (negativamente, é claro), ao surgir inesperadamente a arrancar-lhe o microfone da sua mão, para cantar.
Deu para verificar que ele usava uma camiseta da banda, a denotar que era nosso fã e pelo jeito que cantou, certamente que o era, mesmo.
Então, sinalizamos aos roadies que tomassem alguma atitude, visto que a segurança do evento, mostrara-se falha ao permitir que o rapaz invadisse o palco e pior ainda, ao não esboçar tomar uma providência rápida para que ele fosse dali retirado de imediato.
Uma panorâmica banda. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Raquel Aquino Calabraz
Ficamos atônitos e certamente chateados por tal invasão e demonstração de completa falta de noção do rapaz em questão, mas rapidamente absorvemos a grosseria de sua parte e seguimos em frente, é óbvio.
Três ou quatro músicas adiante, ei que eu olhei para trás e flagro o mesmo elemento a vir em franca correria, novamente, em direção à ponta do palco e com a deliberada intenção de forjar cantar conosco, mais uma vez.
Desta feita, os nossos roadies foram rápidos e quando avançaram em direção ao rapaz, ele bateu em debandada, quando fugiu em direção ao público e ao pular a grade de proteção e pela queda que teve, creio ter machucado-se com certa gravidade, mediante a presença de sangue a escorrer de seu rosto.
Bem, cabe dizer que o rapaz, independente de sua inconveniência, demonstrou dotes vocais, pois cantou no tom e mediante uma potência vocal a denotar ser um cantor ou no mínimo um bom aspirante. Até aí, de certa forma, justificara-se a sua vontade de querer cantar conosco, mas cabe uma reflexão e ela é bem óbvia, na verdade.
Ora, se ele sonhava em ser cantor de uma banda de Rock e desejava uma chance para demonstrar o seu potencial, essa foi a pior alternativa que escolheu para exercê-la. Se almejara ser um artista, deveria aprender que invadir o palco de um colega e constrangê-lo da maneira que o fez, foi de uma descortesia ímpar.
Marcello contou-nos que esse rapaz era figura recorrente em outros shows, principalmente de bandas veteranas setentistas. Ele já havia visto o sujeito invadir o palco do "Casa das Máquinas", banda em que ele, Marcello, atuava na ocasião, igualmente e com o mesmo procedimento muito mal-educado.
Fica aí registrado o recado, não é assim que se constrói uma carreira. Que ele montasse uma banda, atuasse a percorrer a "via crucis" de todo aspirante a artista e sobretudo, que aprendesse ser o palco, um templo sagrado e ali, quando algum energúmeno o invade, quebra-se a magia do espetáculo ao tirar a concentração do artista.
E quebrada essa conexão mágica, fica difícil reavê-la. Portanto, que mudasse o seu comportamento o quanto antes, se aspirava a carreira artística e um estrelato, por conseguinte.
Sei que tornou-se uma moda bem recente (2018), fotos com bandas no contraplano, após o término dos seus shows, para enquadrar-se o seu público junto a si, mas particularmente, não gosto desse expediente. No entanto, eis aqui tal postura ao término do nosso show na Virada Cultural. Da esquerda para a direita: Marcello Schevano, Marta Benévolo, Rolando Castello Junior, Rodrigo Hid e Luiz Domingues. Patrulha do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de 2018. Click, acervo e cortesia de Leandro Almeida
Tirante esse pequeno imbróglio, que mais revelou-se como um ato gerado pela falta de educação da parte de um incauto, o show foi excelente, a honrar as tradições da banda e marcar a penúltima apresentação da banda em sua carreira, que encerrava-se, na cidade de São Paulo, o seu berço.
Ali, em frente àquela multidão em plena Avenida Ipiranga, aos pés do Edifício Copan, tocamos com energia e pronta resposta popular. Missão cumprida sob intenso frio, nessa noite.
Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Rodrigo Hid e Marta Benévolo. Patrulha
do Espaço ao vivo na Virada Cultural de São Paulo, em 19 de maio de
2018. Click, acervo e cortesia de Raquel Aquino Calabraz
Encontrei-me com o vocalista, Rubens Nardo e o baterista, Dimas Zanelli, que tocariam a seguir com o Made in Brazil e mais uma porção de amigos, entre eles, Michel Caporeze Téer e sua esposa, Vera Mendes.
Frio intenso, ainda intensificado, já batia na casa da uma hora da manhã, quando fomos embora.
A próxima reunião da nossa banda seria em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 16 de junho.
Continua...
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