sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Leandro) - Capítulo 25 - Por Luiz Domingues


Lembro-me do Lizoel Costa estar a gravar violão e o Fernando Marconi, o surdão de samba.Havia outros músicos a complementar, mas eu não os conhecia.Tratava-se de músicos bem veteranos, que o Leandro deve ter recrutado em rodas de samba, ou de chorinho pela noite. Quando a luz vermelha acendeu, eu finalmente percebi que cada pequena nota não tocada corretamente ou com um mínimo desvio no traste, causava um desastre. Errei logo no início e o clima mostrou-se tenso com os outros músicos a fitar-me esquisito, com aquelas expressões faciais a denotar desaprovação. O meu headphone estava com ruído, e a equalização péssima. Qualquer músico que esteja a ler este relato, sabe que na hora de gravar, é preciso perder um tempo para acertar-se a equalização dos headphones com o máximo afinco, para tornar a gravação confortável com cada músico a ouvir o restante da banda da maneira que achar mais confortável, para poder desempenhar o seu papel com desenvoltura.

Mas em uma gravação como foi aquela, às pressas, em um estúdio decadente e com técnicos preguiçosos, seria pedir demais. E assim foi, sem ouvir direito os outros músicos e com o meu baixo sob um volume diminuto, no qual gravei, consciente de que errei algumas frases. Alguns dias depois, o Leandro veio dizer-me que muitos músicos "tremeram" no estúdio, e que eu fora um deles...


Não fiquei ofendido, mas chateado, pois dei o meu melhor, e fui traído pela inexperiência em confronto com uma produção tosca, sem condições nem para músicos tarimbados. Se não confiava em meu desempenho e de outros músicos, deveria ter-nos descartado.Hoje em dia, ao analisar com distanciamento histórico, vejo claramente que ele de fato não confiava, pois pôs-se a diminuir o meu espaço na produção. O fato em ter deixado-me gravar somente uma faixa, deve ter sido por uma questão de pena, ou até gratidão por eu ter esforçado-me nos ensaios etc.E também por ser amigo do Lizoel, e membro do Língua de Trapo, onde ele tinha suas conexões via Guca Domênico e Carlos Mello, que o municiavam com composições. O disco ficou pronto no final de 1980. Ganhei uma cópia com uma dedicatória. Foi minha primeira gravação oficial em um LP.


Continua...

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