domingo, 6 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 16 - Por Luiz Domingues

Minha reação na hora, foi sob estupefação. Ao mesmo tempo, fui acometido por uma miríade de sensações contraditórias. Estava honrado e feliz por resgatar uma história mal interrompida do passado (a minha saída em 1981); feliz por estar a ser convidado a entrar em uma banda de sucesso; projeção; e com perspectiva concreta para ganhar muito dinheiro, mas preocupado em não deixar A Chave do Sol, primeiro porque eu era seu cofundador, segundo, porque ela estava a dar sinais de expansão, e terceiro, pelo fato de ter lutado tanto nos primeiros e difíceis tempos, ao lado dos companheiros, e não querer deixá-los sob uma situação embaraçosa a gerar retrocesso nesse instante em que deslumbrávamos a ascensão tão sonhada.



Comuniquei aos companheiros da Chave do Sol, logo após o show. Eles ficaram chocados e não gostaram, certamente. Mas tiveram que resignar-se, pois eu não tinha outra alternativa, pois precisava ganhar dinheiro.



Dei a resposta ao Laert já no dia seguinte, pois eles não podiam esperar. Já tinham outras opções em uma lista de baixistas. A banda tocava muito. Tinha agenda igual à de duplas sertanejas de sucesso, dos dias atuais. Tempo para assimilar ? Nenhum... coloquei-me dentro de uma fogueira para poder escapar de um abismo...

Tentador ? Poxa... um dia você está a tocar em um bar de pouca projeção, e no outro, está em turnê de quarta a domingo, com teatros lotados, todo dia. Na rotina onde entraria dali em diante, toda segunda-feira, o empresário entregar-me-ia um maço com dinheiro, resultado do cachet da semana anterior. Todo dia a sua face estaria na TV; jornais, e revistas. Tratava-se de uma oportunidade de ouro, e com um trabalho artístico para orgulhar-se. Além do mais, onde eu fora um membro cofundador também, a voltar para a casa...

Fiz o show da Chave do Sol, com toda a energia possível, pois esse foi o outro lado da moeda. Eu amava aquela banda, e não queria abrir mão dela, como não abri.



Foram nove meses permeados por conflitos, mas ao final, eu deixei a segurança financeira e fama do Língua de Trapo, para ficar na Chave do Sol. Tive vários momentos difíceis, pois as duas bandas melindravam-se com essa divisão, e relatarei isso nos próximos capítulos, ao analisar pelos dois lados da moeda. 





Continua...

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