terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 208 - Por Luiz Domingues


Chegamos ao Sesc Pompeia na hora marcada pela produção, e o produtor Antonio Celso Barbieri mostrava-se contente com as matérias publicadas nos jornais mainstream. O festival já estava em curso, e na noite anterior tudo havia transcorrido bem, com bom público presente etc. O soundcheck foi eficaz, demo-nos bem com os técnicos de som e luz, mas as nossas explosões pirotécnicas particulares foram vetadas pelo corpo de bombeiros presente no Sesc. 

Bem, convenhamos, eles tiveram razão em não deixar que usássemos aquela geringonça perigosa, ainda que o Zé Luiz houvesse esmerado-se em aperfeiçoá-la em seus sistema, e para tanto criara caixa de madeira bem mais seguras e a ostentar um visual mais agradável. Na ordem inversa, como era (e ainda o é), a praxe de shows coletivos, fizemos primeiro o soundcheck, com o Excalibur a aprumar-se a seguir, e o Viper por último, visto que esta última banda abriria a noitada. Nos camarins, o clima foi marcado pela total tranquilidade e a conter muita camaradagem entre as bandas. E os três shows ocorreram no horário, sem atropelos. Na hora dos shows de nossos amigos, ouvimos queixas das duas bandas, assim que terminaram as suas respectivas apresentações. Os seus componentes reclamavam muito da monitoração, que estava muito diferente da estabelecida durante o soundcheck. Falavam sobre distorções e rachaduras nos falantes, o que denotava que o técnico estava a dar o máximo de volume e daí, inevitavelmente o som ficaria mesmo uma maçaroca inaudível, para prejudicar a performance de qualquer banda. O segredo, nesse caso, é tocar mais baixo no palco, mas é raro o músico com essa disciplina no tocante à dinâmica, e ainda mais naquela ambientação oitentista e orientada pelo Heavy-Metal, onde tocar alto e com peso, fora uma "Lei" para tais bandas. 

A despeito dessas considerações, o caso d'A Chave do Sol com aquele repertório bem mais pesado, não fugira à regra. Por mais cuidadosos que fôssemos, o nosso som estava pesado também, e seria difícil tocar mais amenamente. 

Quando iniciamos, de fato a monitoração estava a rachar, o que tornaria o show difícil para qualquer banda. A minha lembrança também, foi de que parecia não haver conexão com o público. Acredito que a mixagem do P.A. também estivesse caótica, pois o público não respondia ao show, com a sinergia que esperávamos. 

Nessa falta de sincronicidade, aliada à difícil monitoração de palco, fez com que perdêssemos a conexão. Não que tivéssemos feito um show ruim, com falhas musicais, mas a nossa performance esteve aquém das nossas reais possibilidades. 

Somente em parcos momentos tivemos alguma conexão, ao arrancarmos aplausos mais efusivos, como por exemplo na execução da canção, "Um Minuto Além". Isso corrobora a minha impressão de que por ser uma balada mais amena, proporcionou ao público, um áudio mais aceitável, e daí, a reação mais condizente com a qual contávamos. 

Toda banda passa por esse perigo, daí, a importância em possuir uma equipe técnica própria, pois independente do técnico do Sesc ser competente (é claro que o foi, caso contrário, não ocuparia o cargo em um teatro tão importante), pelo simples fato de não conhecer o som das três bandas, pode ter equivocado-se na sua mixagem, sem dúvida. 

Bem, não foi um show maravilhoso pelos problemas citados, mas também não saímos com o sentimento de "derrota" por ter sido um fracasso. Se for para definir com uma só palavra, eu diria que faltou "sinergia", e nesse caso, um fator alheio à nossa vontade pode ter estabelecido essa falta de elo com o público. 

E assim, está explicada a expressão de desagrado que o ator, Lineu Dias, teve ao assistir-nos. Ele podia não entender nada de música, muito menos de Rock, e certamente nada sobre o nosso desconforto em estarmos deslocados na estética oitentista hostil aos nossos padrões anacrônicos. Mas uma coisa foi certa : como ator, ele sabia e sentia com precisão o que era falta de sinergia entre artista e público, e daí, deve ter notado essa ruptura, que naquela noite, foi gritante. Paciência... 

No domingo, teríamos uma chance para redimirmo-nos, ao apresentarmo-nos pela terceira vez no evento : "Praça do Rock". E desta feita, o evento estaria muito vitaminado pelo patrocínio forte que recebera, o que significou na prática, fomento em divulgação e equipamentos de alto nível disponibilizados aos artistas. Mas essa etapa eu narro no próximo capítulo.

E assim foi o show no Sesc Pompeia, no dia 27 de julho de 1985, com cerca de oitocentas pessoas presentes na plateia ... 
Todas as fotos desse show no Sesc, foram clicadas por Rodolpho Tedeschi (Barba)

Continua...

4 comentários:

  1. Fico muito feliz em ver seu sucesso,amigo!
    Bravo!!!!!!
    Os artistas no Brasil têm muita dificuldade em divulgação de seus trabalhos, sinto na pele!
    Bjus e ótima semana,amigo!
    http://www.elianedelacerda.com

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    1. Mas que bacana que leu e apoiou esse capítulo da minha autobio !

      Para você ver como é difícil se firmar aqui no Brasil, em qualquer ramo da arte, neste capítulo em específico, relato um show ocorrido em 1985...ou seja, uma longa jornada, com muita luta !

      Beijo e boa semana, minha amiga escritora !!

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    2. Eu que lhe agradeço por todo o apoio que você deu para a nossa banda naquela ocasião !!

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